quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Crimes sem castigo - Os estragos de FHC na Petrobras

Crimes sem castigo

por Fernando Siqueira, da Associação dos Engenheiros da Petrobrás
26/05/2009
Aepet denuncia 10 estragos do governo FH na Petrobrás

Em reação às crescentes manifestações contra a chamada CPI da Petrobrás, criada pela oposição ao governo Lula, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) disse que as críticas dos manifestantes vão "bater no vento". "Não estamos atacando a Petrobrás, estamos defendendo a empresa. Vamos atrás de gente que não merece estar nessa empresa. É desnecessária a forma como se deu o discurso ofensivo contra o PSDB, isso já compromete essa manifestação na sua origem", avaliou Guerra, em matéria no Jornal do Brasil, dia 22.
Para refrescar a memória do senador e demais entusiastas da CPI, Fernando Siqueira, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), selecionou "Dez estragos produzidos pelo governo FHC no Sistema Petrobrás", que o jornal Hora do Povo publicou e o Portal do Mundo do Trabalho reproduz a seguir.

"Estragos produzidos na Petrobrás, pelo governo FHC, visando desnacionalizá-la:

1993 - Como ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso fez um corte de 52% no orçamento da Petrobrás, previsto para o ano de 1994, sem nenhuma fundamentação ou justificativa técnica.
Ele teria inviabilizado a empresa se não tivesse estourado o escândalo do Orçamento, fazendo com que se esquecessem da Petrobrás.
Todavia, isso causou um atraso de cerca de 6 meses na programação da empresa, que teve de mobilizar as suas melhores equipes para rever e repriorizar os projetos integrantes daquele orçamento.

1994 - Ainda como ministro da Fazenda, com a ajuda do diretor do Departamento Nacional dos Combustíveis, Fernando Henrique manipulou a estrutura de preços dos derivados do petróleo, de forma que, nos 6 últimos meses que antecederam o Plano Real, a Petrobrás teve aumentos mensais, na sua parcela dos combustíveis, em valores 8% abaixo da inflação. Por outro lado, o cartel internacional das distribuidoras de derivados teve, nas suas parcelas, aumentos de 32% acima da inflação.
Isto significou uma transferência anual, permanente, de cerca de US$ 3 bilhões do faturamento da Petrobrás para o cartel dessas distribuidoras.

A forma de fazer isso foi através dos dois aumentos mensais, que eram concedidos aos derivados, pelo fato da Petrobrás comprar o petróleo em dólares, no exterior, e vender no mercado, em moeda nacional. Havia uma inflação alta e uma desvalorização diária da nossa moeda. Os dois aumentos repunham parte das perdas que a Petrobrás sofria devido a essa desvalorização.

Mais incrível: a Petrobrás vendia os derivados para o cartel e este, além de pagá-la só 30 a 50 dias depois, ainda aplicava esses valores, e o valor dos tributos retidos para posterior repasse ao Tesouro, no mercado financeiro, obtendo daí vultosos ganhos financeiros, em face da inflação galopante então presente. Quando o Plano Real começou a ser implantado, com o objetivo de acabar com a inflação, o cartel reivindicou uma parcela maior nos aumentos, porque iria perder aquele duplo e absurdo lucro.

1995 - Em fevereiro, já como presidente, FHC proibiu a ida de funcionários de estatais ao Congresso para prestar informações aos parlamentares e ajudá-los a exercer seus mandatos com respaldo em informações corretas.
Assim, os parlamentares ficaram reféns das manipulações da imprensa comprometida. As informações dadas aos parlamentares no governo de Itamar Franco, como dito acima, haviam impedido a revisão da Constituição Federal com um claro viés neoliberal.

Fernando Henrique emitiu um decreto, nº 1403/95, que instituía um órgão de inteligência, o SIAL, Serviço de Informação e Apoio Legislativo, com o objetivo de espionar os funcionários de estatais que fossem a Brasília falar com parlamentares. Se descobertos, seriam demitidos.

Assim, tendo tempo de trabalho para me aposentar, solicitei a aposentadoria e fui para Brasília por conta da Associação. Tendo recursos bem menores que a Petrobrás (que, no governo Itamar Franco, enviava 15 empregados semanalmente ao Congresso), eu só podia levar mais um aposentado para ajudar no contato com os parlamentares. Um dos nossos dirigentes, Argemiro Pertence, mudou-se para Brasília, às suas expensas, para ajudar nesse trabalho.

Também em 1995, FHC deflagrou o contrato e a construção do Gasoduto Bolívia-Brasil, que foi o pior contrato que a Petrobrás assinou em sua história. FHC, como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, funcionou como lobista em favor do gasoduto. Como presidente, suspendeu 15 projetos de hidrelétricas em diversas fases, para tornar o gasoduto irreversível. Este fato, mais tarde, acarretaria o "apagão" no setor elétrico brasileiro.

As empresas estrangeiras, comandadas pela Enron e Repsol, donas das reservas de gás na Bolívia, só tinham como mercado o Brasil. Mas a construção do gasoduto era economicamente inviável. A taxa de retorno era de 10% ao ano, enquanto o custo financeiro era de 12% ao ano. Por isso, pressionaram o governo a determinar que a Petrobrás assumisse a construção. A empresa foi obrigada a destinar recursos da Bacia de Campos, onde a taxa de retorno era de 80%, para investir nesse empreendimento.

O contrato foi ruim para o Brasil pelas seguintes razões: mudança da matriz energética para pior, mais suja; ficar dependente de insumo externo dominado por corporações internacionais, com o preço atrelado ao do petróleo e valorada em moeda forte.

Foi ruim para a Bolívia, que só recebia 18% pela entrega de uma de suas últimas riquezas, a mais significativa. Evo Morales elevou essa participação para 80% (a média mundial de participação dos países exportadores é de 84%) e todas as empresas aceitaram de bom grado.

E foi péssimo para a Petrobrás que, além de tudo, foi obrigada a assinar uma cláusula de "Take or Pay", ou seja, comprando ou não a quantidade contratada, ela pagaria por ela. Assim, por mais de 10 anos, pagou por cerca de 10 milhões de metros cúbicos, sem conseguir vender o gás no mercado nacional.

Ainda em 1995, o governo, faltando com o compromisso assinado com a categoria, levou os petroleiros à greve, com o firme propósito de fragilizar o sindicalismo brasileiro e a sua resistência às privatizações que pretendia fazer. Havia sido assinado um acordo de aumento de salário de 13%, que foi cancelado sob a alegação de que o presidente da Petrobrás não o havia assinado. Mas o acordo foi assinado pelo então Ministro das Minas e Energia, Delcídio Amaral, pelo representante do presidente da Petrobrás e pelo Ministro da Fazenda, Ciro Gomes.

Além disso, o acordo foi assinado a partir de uma proposta apresentada pelo presidente da Petrobrás. Enfim, foi deflagrada a greve, após muita provocação, inclusive do Ministro do TST, Almir Pazzianoto, que disse que os petroleiros estavam sendo feitos de palhaços. FHC reprimiu a greve fortemente, com tropas do exército nas refinarias, para acirrar os ânimos. Mas deixou as distribuidoras multinacionais de gás e combustíveis sonegarem os produtos, pondo a culpa da escassez nos petroleiros. No fim, elas levaram 28% de aumento, enquanto os petroleiros perderam até o aumento de 13%, já pactuado e assinado.

Durante a greve, uma viatura da Rede Globo de Televisão foi apreendida nas proximidades de uma refinaria, com explosivos, provavelmente pretendendo uma ação de sabotagem que objetivava incriminar os petroleiros. No balanço final da greve, que durou mais de 30 dias, o TST estabeleceu uma multa pesada que inviabilizou a luta dos sindicatos. Por ser o segundo maior e mais forte sindicato de trabalhadores brasileiros, esse desfecho arrasador inibiu todos os demais sindicatos do país a lutar por seus direitos. E muito menos por qualquer causa em defesa da Soberania Nacional. Era a estratégia de Fernando Henrique para obter caminho livre e sangrar gravemente o patrimônio brasileiro.

1995 - O mesmo Fernando Henrique comandou o processo de mudança constitucional para efetivar cinco alterações profundas na Constituição Federal de 1988, na sua Ordem Econômica, incluindo a quebra do Monopólio Estatal do Petróleo, através de pressões, liberação de emendas, barganhas e chantagens com os parlamentares.

Manteve o presidente da Petrobrás, Joel Rennó, que, no governo Itamar Franco, chegou a fazer carta ao Congresso Nacional defendendo a manutenção do monopólio estatal do petróleo, mas que, no governo FHC, passou a defensor empedernido da sua quebra.

AS CINCO MUDANÇAS CONSTITUCIONAIS PROMOVIDAS POR FHC:


1) Mudou o conceito de empresa nacional. A Constituição de 1988 havia estabelecido uma distinção entre empresa brasileira de capital nacional e empresa brasileira de capital estrangeiro. As empresas de capital estrangeiro só poderiam explorar o subsolo brasileiro (minérios) com até 49% das ações das companhias mineradoras. A mudança enquadrou todas as empresas como brasileiras. A partir dessa mudança, as estrangeiras passaram a poder possuir 100% das ações. Ou seja, foi escancarado o subsolo brasileiro para as multinacionais, muito mais poderosas financeiramente do que as empresas nacionais.

A Companhia Brasileira de Recursos Minerais havia estimado o patrimônio de minérios estratégicos brasileiros em US$ 13 trilhões. Apenas a companhia Vale do Rio Doce detinha direitos minerários de US$ 3 trilhões. FHC vendeu essa companhia por um valor inferior a um milésimo do valor real estimado.

2) Quebrou o monopólio da navegação de cabotagem, permitindo que navios estrangeiros navegassem pelos rios brasileiros, transportando os minérios sem qualquer controle.

3) Quebrou o monopólio das telecomunicações, para privatizar a Telebrás por um preço abaixo da metade do que havia gasto na sua melhoria nos últimos 3 anos, ao prepará-la para ser desnacionalizada. Recebeu pagamento em títulos podres e privatizou um sistema estratégico de transmissão de informações. Desmontou o Centro de Pesquisas da empresa e abortou vários projetos estratégicos em andamento, como capacitor ótico, fibra ótica e TV digital.

4) Quebrou o monopólio do gás canalizado e entregou a distribuição a empresas estrangeiras. Um exemplo é a estratégica Companhia de Gás de São Paulo, a COMGÁS, que foi vendida a preço vil para a British Gas e para a Shell. Não deixou a Petrobrás participar do leilão através da sua empresa distribuidora. Mais tarde, abriu parte do gasoduto Bolívia-Brasil para essa empresa e para a Enron, com ambas pagando menos da metade da tarifa paga pela Petrobrás, uma tarifa baseada na construção do Gasoduto, enquanto que as outras pagam uma tarifa baseada na taxa de ampliação.

5) Quebrou o Monopólio Estatal do Petróleo, através de uma emenda à Constituição de 1988, retirando o parágrafo primeiro, elaborado pelo diretor da AEPET, Guaracy Correa Porto, que estudava Direito e contou com a ajuda de seus professores na elaboração. O parágrafo extinto era uma salvaguarda que impedia que o governo cedesse o petróleo como garantia da dívida externa do Brasil. FHC substituiu esse parágrafo por outro, permitindo que as atividades de exploração, produção, transporte, refino e importação fossem feitas por empresas estatais ou privadas. Ou seja, o monopólio poderia ser executado por várias empresas, mormente pelo cartel internacional.

1996 - Fernando Henrique enviou o Projeto de Lei que, sob as mesmas manobras citadas, se transformou na Lei 9.478/97.

Esta Lei contém artigos conflitantes entre si e com a Constituição Brasileira. Os artigos 3º, 4º e 21º, seguindo a Constituição, estabelecem que as jazidas de petróleo e o produto da sua lavra, em todo o território nacional (parte terrestre e marítima, incluído o mar territorial de 200 milhas e a zona economicamente exclusiva) pertencem à União Federal. Ocorre que, pelo seu artigo 26º - fruto da atuação do lobby, sobre uma brecha deixada pelo Projeto de Lei de FHC - efetivou a quebra do Monopólio, ferindo os artigos acima citados, além do artigo 177 da Constituição Federal que, embora alterada, manteve o monopólio da União sobre o petróleo. Esse artigo 26º confere a propriedade do petróleo a quem o produzir.

"O PETRÓLEO AGORA É VOSSO"

1997 - Fernando Henrique criou a Agência Nacional do Petróleo e nomeou o genro, David Zylberstajn, que havia se notabilizado como Secretário de Minas e Energia do Estado de São Paulo, desnacionalizando várias empresas de energia por preços irrisórios, inclusive a Eletropaulo, vendida para a empresa americana AES que, para essa compra, lançou mão de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e não pagou.

Cabe salientar que, dos recursos do BNDES, 50% são originários do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador - e foram emprestados a empresas estrangeiras para comprar empresas nacionais, que demitiram, em média, 30% dos trabalhadores. Ou seja, o FAT foi usado para desempregar os trabalhadores.

Zylberstajn, no ato de sua posse, com o auditório cheio de empresas estrangeiras ou de seus representantes, bradou: "O petróleo agora é vosso".
Empossado, iniciou os leilões de áreas, já com alguma pesquisa feita pela Petrobrás, com tal avidez entreguista que os blocos licitados tinham áreas 220 vezes maiores do que a dos blocos licitados no Golfo do México.

Zylberstajn, inicialmente, mandou que a Petrobrás escolhesse 10% das áreas sedimentares, de possível ocorrência de hidrocarbonetos, nas 29 províncias onde ela já havia pesquisado, para continuar explorando por mais 3 anos, quando, se não achasse petróleo, teria que devolvê-las à ANP. Depois de 6 meses de exaustivos estudos, a Petrobrás escolheu as áreas que queria.
Surpreendentemente, Zylberstajn, aproveitando que a atenção do país estava voltada para a Copa do Mundo de futebol, em realização na França, retomou 30% dessas áreas que a Petrobrás havia escolhido, sob rigorosos critérios técnicos, pelos seus especialistas. Assim, a Petrobrás passou a ter direito de explorar apenas 7% do total das rochas sedimentares brasileiras. Esse prazo de 3 anos se mostrou inviável e foi estendido para 5 anos. Nós publicamos informativos mostrando que as multinacionais tinham 8 anos de prazo contra os 3 da Petrobrás.

1998 - A Petrobrás é impedida pelo governo FHC de obter empréstimos no exterior para tocar seus projetos - a juros de 6% a/a -, e de emitir debêntures que visavam à obtenção de recursos para os seus investimentos.
FHC cria o REPETRO, através do decreto 3161/98, que libera as empresas estrangeiras do pagamento de impostos pelos seus produtos importados, mas sem, contudo, dar a contrapartida às empresas nacionais. Isto, somado à abertura do mercado nacional iniciada por Fernando Collor, liquidou as 5.000 empresas fornecedoras de equipamentos para a Petrobrás, gerando brutais desemprego e perda de tecnologias para o País. Essas empresas haviam sido criadas através do repasse de tecnologia que a Petrobrás gerava ou absorvia. A presença do fornecedor nacional facilitava em muito a operação da empresa.

Ainda em 1998, seis empresas multinacionais (duas delas comandaram a privatização da YPF Argentina - Merryl Linch e Gaffney Cline) passaram a ocupar o 12º andar do prédio da Petrobrás (Edise) para examinar minuciosamente todos os dados da Companhia, sob o argumento de que se tratava de uma avaliação dos dados técnicos e econômicos necessários à venda de ações da Empresa, em poder do governo.
Durante dois anos, essas empresas receberam todas as informações que quiseram dos gerentes da Petrobrás, inclusive as mais confidenciais e estratégicas, de todas as áreas. Reviraram as entranhas da Companhia, de uma forma jamais realizada em qualquer empresa que aliene suas ações.

1999 - Muda-se o estatuto da Petrobrás com três finalidades:

1) permitir que estrangeiros possam ser presidentes da empresa (Philippe Reichstul)

2) permitir a venda de ações para estrangeiros;

3) retirar os diretores da empresa do Conselho de Administração, colocando em seu lugar representantes do Sistema Financeiro Internacional, como Jorge Gerdau Johannpeter (comandante do lobby para a quebra do Monopólio), Roberto Heiss, Paulo Haddad e outros;

Reichstul inicia o mandato cancelando atabalhoadamente (propositalmente?) o contrato da empresa Marítima - fornecimento de 6 plataformas para perfuração exploratória - um mês antes dela incorrer numa grave inadimplência. O cancelamento salvou a Marítima de pesadas multas e ainda deu a ela argumentos para processar a Petrobrás, pedindo R$ 2 bilhões de indenização pelo incrível cancelamento. Ganhou em primeira instância.

Reichstul viaja aos EUA com o ex-jogador Pelé e, juntos, fazem propaganda do lançamento e venda de ações da Petrobrás em Wall Street; o governo vende, então, 20% do capital total da Petrobrás, que estavam em seu poder. Posteriormente, mais 16% foram vendidos pelo irrisório valor total de US$ 5 bilhões.
Como a "Ação Direta de Inconstitucionalidade" da AEPET contra o artigo 26, já mencionado, assinada pelo governador Roberto Requião (Paraná), foi derrubada, e a Petrobrás é dona das reservas, em detrimento da União, esses acionistas incorporaram ao seu patrimônio um acervo de 10 bilhões de barris - 36% de 30 bilhões de barris nas mãos da Petrobrás (incluindo 16 bilhões do pré-sal, já cubados) - os quais, pela Constituição pertencem à União.

Como, agora, estamos no limiar do pico de produção mundial, o barril de petróleo, em queda temporária, vai ultrapassar os US$ 100, esse patrimônio transferido, gratuitamente, valerá mais de US$ 1 trilhão. Considerando que já existiam no mercado cerca de 20% das ações em mãos de testas de ferro, o governo, hoje, detém 54% das ações com direito a voto, mas apenas 40% do capital total da Petrobrás (antes das mudanças, o governo detinha 87% do capital total da Companhia).

O poder dos novos e felizardos acionistas de Wall Street os levam a exigir da Petrobrás a quitação dos débitos que a Companhia tem com o Fundo de Pensão (Petros), de preferência pelo menor preço possível. Reichstul usa R$ 8 bilhões em títulos de longuíssimo prazo do governo (NTN tipo B, recebidos na privatização das subsidiárias da Companhia - prazos de 23 e 32 anos) e quita a dívida, financeiramente, mas não atuarialmente, pelo valor de face dos títulos. A Petrobrás contabiliza a saída dos títulos por R$ 1,8 bilhão e o Fundo de Pensão os recebe por R$ 8 bilhões.

Reichstul dobra o salário dos gerentes da Petrobrás, amplia o número deles, e lhes dá poderes ilimitados para contratar empresas e pessoas. Ganha com isso o apoio para fazer todas as falcatruas que planejava. Desmonta a competente equipe de planejamento da Petrobrás e contrata, sem concorrência, a Arthur De Little, empresa americana, presidida pelo seu amigo Paulo Absten, para comandar o planejamento estratégico da Companhia.

Isto resulta numa série de desastres consecutivos. Entre eles, a compra de ativos obsoletos na Argentina, na Bolívia e em outros países. Os gerentes - cooptados - se fartam de contratar empresas e pessoas, sem controle. A terceirização atinge o estrondoso absurdo de 120.000 contratados, com nepotismo e corrupção, enquanto os empregados efetivos caem de 60.000 para cerca de 30.000, seguindo a estratégia aplicada na Argentina, de enxugar para desnacionalizar. Abre-se acesso às entranhas da empresa para pessoas alocadas por empreiteiras e concorrentes estrangeiras.

Reichstul tenta mudar o nome da empresa para Petrobrax, para facilitar a pronúncia dos futuros compradores estrangeiros. Causa uma reação de indignação nacional e recua. Mas segue a sua meta desnacionalizante e divide a empresa em 40 unidades de negócio, seguindo a proposta do Credit Suisse First Boston, apresentada ao Governo Collor, para a desnacionalização da Companhia. Pulveriza as equipes técnicas, desmantelando a tecnologia da empresa e preparando para, através do artigo 64 da Lei 9478/97, transformar cada unidade de negócio em subsidiária e privatizá-las, como iniciou fazendo com a Refinaria do Rio Grande do Sul, a Refap.

Essa privatização foi feita através de uma troca de ativos com a Repsol Argentina (pertencente ao Banco Santander, braço do Royal Scotland Bank Co), onde a Petrobrás deu ativos no valor de US$ 500 milhões - que avaliamos em US$ 2 bilhões - e recebeu ativos no valor de US$ 500 milhões, os quais, dois dias depois, com a crise da Argentina, passaram a valer US$ 170 milhões.

A avaliação dos ativos foi feita pelo banco Morgan Stanley, do qual Francisco Gros era diretor, acumulando, desde o inicio da gestão Reichstul, o cargo de membro do Conselho de Administração da Petrobrás. Gros, segundo sua biografia publicada pela Fundação Getúlio Vargas, veio para o Brasil, como diretor do Morgan Stanley, para assessorar as multinacionais no processo de privatização. Através de sindicalistas do Rio Grande do Sul, entramos com uma ação judicial na qual ganhamos a liminar, cassada, mas que interrompeu esse processo de desnacionalização.

A gestão Reichstul levou a empresa a um nível de acidentes sem precedentes na sua história: 62 acidentes graves - em dois anos - contra a série histórica de 17 acidentes em 23 anos (1975 a 1998), segundo relatório publicado pelo Conselho Regional de Engenharia do Estado do Paraná.

Nós pedimos investigação de sabotagem aos vários órgãos de segurança: Polícia Federal, Marinha, Procuradoria Federal. Não investigaram, mas os acidentes cessaram.

2001 - Reichstul, desgastado, dá lugar a Francisco Gros, que, ao assumir a presidência da Petrobrás, num discurso em Houston, EUA, declara que, na sua gestão, "a Petrobrás passará de estatal para empresa privada, totalmente desnacionalizada".
Gros compra 51% da Pecom Argentina, por US$ 1,1 bilhão, embora a dita empresa tenha declarado, publicamente, um déficit de US$ 1,5 bilhão; cria um sistema para mascarar acidentes, nos quais os acidentados não os possam reportar; tenta implantar um plano de Benefício Definido no fundo de pensão - Petros.

Faz, ainda, um contrato de construção de duas plataformas com a Halliburton, com uma negociação obscura, sem concorrentes, que resulta, além de um emprego maciço de mão-de-obra estrangeira, em dois atrasos superiores a um ano e meio. Esses atrasos fizeram com que, pela primeira vez na história da empresa, houvesse uma queda de produção, fato ocorrido em novembro de 2004. Apesar desses atrasos, a Halliburton não pagou multa e ainda ganhou cerca de US$ 500 milhões adicionais da Petrobrás, em tribunal americano.

Com a eleição de Lula para a presidência da República, antes da sua posse, houve uma renegociação em massa dos contratos de serviço em andamento, com novos prazos, superiores a 4 anos, de forma a criar uma blindagem ao novo governo, impedindo as reanálises, renegociações ou revogações dos contratos feitos sem concorrência, incluindo empresas ligadas aos amigos de alguns gerentes do governo FHC."

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Projeto de Ciro Gomes

Da CartaCapital - Blog do Luis Nassif
Ciro bate o pé

22/02/2010 10:58:47

Leandro Fortes

Fazia tempo que Ciro Gomes não era tão assediado pela mídia. Mas desde a divulgação das duas mais recentes pesquisas eleitorais à Presidência da República, do Vox Populi e do Instituto Sensus, o deputado do PSB e ainda presidenciável vive cercado de jornalistas. O que todos querem saber é se Ciro será ou não candidato ao Palácio do Planalto, ele que se tornou uma espécie de fiel da balança na disputa entre a ministra Dilma Rousseff e o governador paulista José Serra.

A quem o procurou no Congresso na primeira semana de fevereiro, Ciro repetiu a intenção de disputar a Presidência e não poupou ninguém no espectro político brasileiro. Chamou o ex-ministro José Dirceu de “golpista”; classificou a coalizão PT-PMDB de “roçado de escândalos já semeados”; e ironizou a popularidade do presidente ao declarar que o “santo Lula”, a quem apoia e admira publicamente, estava errado ao polarizar, plebiscitariamente, a disputa entre Dilma e Serra.

Além de se mostrar pouco disposto a ceder ao pedido de Lula para abandonar a disputa, o deputado tem feito críticas sistemáticas à política econômica. Preocupa-se com a degradação das contas externas e acusa o governo de irresponsabilidade fiscal e de manejar as dívidas de forma imprópria. E desdenha dos resultados da pesquisa CNT/Sensus: “Não vou deixar que o Clésio Andrade (presidente da Confederação Nacional dos Transportes – CNT), de Minas Gerais, decida quem será o próximo presidente”.

No mais, acha graça da fama de encrenqueiro e intempestivo que o acompanha desde que, muito jovem, entrou na política, três décadas atrás. “É resultado da minha franqueza.” Acha que chegou a hora de o Brasil se livrar da eterna disputa entre o PT e o PSDB e defende um novo modelo de relações políticas, dentro e fora do governo. A seguir, os principais trechos de uma inédita entrevista concedida por Ciro Gomes a CartaCapital em dezembro. Seu conteúdo continua válido.


Link:
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/02/22/o-projeto-de-ciro-gomes/


Comentário EngaJarte

O Cirão, ex partícipe do governo Itamar, depois da linguarada de Ricúpero na parabólica, e do Lula como ministro da Integração Nacional.
Personalista, migra de partido em partido, sempre bem acolhido pois o homem tem voto e certa força política.
Tem personalidade forte e expansiva, sendo criticado e por isto, uma bobagem, mas no jogo baixo da política se usa qualquer coisa para desconstruir inimigos.
Sempre difícil identificar a linha ideológica de um político de amplo espectro.
Posiciona-se hoje como uma opção de centro esquerda, e por outro lado cabula uma opção direitista como vice de Aécio, liderando a turba PSDB-demoníaca.
Faz forte crítica ao monetarismo do BACEN (eixo da extrema direita dos governos FHC-LULA).
Critica o segundo governo Lula quando já não estava no ministério, pelo desagregar das contas externas, aponta o segundo governo como uma guinada a direita e aos acordos com a política patrimonialista tradicional fruto da desarticulação trazida pela crise do mensalão, e valoriza o primeiro governo Lula quando tivemos o melhor resultado das contas externas da história do Brasil. Acontece que a virada a esquerda foi no segundo governo Lula, com a opção desenvolvimentista da dupla Mantega/Dilma.
Sempre faz uma crítica estruturante do país, com coerência e firmeza, tem preparo e qualidades como formulador e comunicador.
Já seu grande projeto foi a transposição do São Francisco, enfim maior obra do Lula, mas típico projeto conservador, mega obra, focada no grande canavial, com pouca integração com a massa dos nordestinos, sua estrutura social, seus caminhos para o desenvolvimento.
Homem da elite nordestina, teria algo a acrescentar ao desenvolvimento do Brasil? Mesmo já tendo passado por Sarney, e Collor, assim como a força de Jereissati e ACM com o FHC, vemos que foi o Lula que levou algum desenvolvimento ao Nordeste, e ao Brasil, e com certeza não vai sair disto.
A elite nordestina já mostrou a que veio, em suas terras e no país todo, este pessoal ainda raciocina como um português dono de engenho, são suas raízes culturais.
Gosto muito de ouvir o Ciro, ele realmente entusiasma como estadista, tem um ótimo discurso de centro-esquerda, mas sua história o condena.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Serra e o fim da era paulista na política

Do Blog do Luis Nassif:

Por que José Serra vacila tanto em anunciar-se candidato?

Para quem acompanha a política paulista com olhos de observador e tem contatos com aliados atuais e ex-aliados de Serra, a razão é simples.

Seu cálculo político era o seguinte: se perde as eleições para presidente, acaba sua carreira política; se se lança candidato a governador, mas o PSDB consegue emplacar o candidato a presidente, perde o partido para o aliado. Em qualquer hipótese, iria para o aposentadoria ou para segundo plano. Para ele só interessava uma das seguintes alternativas: ele presidente ou; ele governador e alguém do PT presidente. Ou o PSDB dava certo com ele; ou que explodisse, sem ele.

Esta foi a lógica que (des)orientou sua (in)decisão e que levou o partido a esse abraço de afogado. A ideia era enrolar até a convenção, lá analisar o que lhe fosse melhor.

De lá para cá, muita água rolou. Agora, as alternativas são as seguintes:

1. O xeque que recebeu de Aécio Neves (anunciando a saída da disputa para candidato a presidente) demoliu a estratégia inicial de Serra. Agora, se desiste da presidência e sai candidato a governador, leva a pecha de medroso e de sujeito que sacrificou o partido em nome de seus interesses pessoais.

2. Se sai candidato a presidente, no dia seguinte o serrismo acaba.

O balanço que virá
O clima eleitoral de hoje, mais o poder remanescente de Serra, dificulta a avaliação isenta do seu governo. Esse quadro – que vou traçar agora – será de consenso no ano que vem, quando começar o balanço isento do seu governo, sem as paixões eleitorais e sem a obrigatoriedade da velha mídia de criar o seu campeão a fórceps. Aí se verá com mais clareza a falta de gestão, a ausência total do governador do dia-a-dia da administração (a não ser para inaugurações), a perda de controle sobre os esquemas de caixinha política.

Link:


Comentário EngaJarte

Sempre tive uma boa imagem do Serra, parecia progressista, com idéias desenvolvimentistas. Agora vejo que parecia, no futuro do pretérito.
Foi importante sua passagem pela prefeitura e governo do estado, foi aí que o que parecia deu lugar para uma imagem mais real.
Até que durou bastante aquela imagem progressista, mesmo como ministro do planejamento do FHC, onde tudo que necessitava de planejamento colapsou, o homem permaneceu bem visto.
Era a imagem progressista de um governo totalmente neoliberal elitista, quase um absurdo, pois Serra não se declara públicamente, o que aliás foi uma excelente estratégia.
O momento que Serra se declarou em público foi dramaticamente esclarecedor, em um artigo, assume a linha política de interesse dos Estados Unidos, criticando o Irã, e a política externa independente do Brasil.
Já está claro, sabe-se o que esperar, mais um governo tipo FHC, totalmente americanizado, apenas agindo como um interventor dos intereses do norte pelas terras brasilis

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A crise de 2002 não foi das FARCs, foi do Armínio

Do blog do Luis Nassif:

É importante exorcizar algumas lendas urbanas que se formaram sobre a crise de 2002 – quando o dólar explodiu, houve enorme instabilidade no mercado.
Havia algum receio sobre o que seria o novo governo petista. Mas nenhum analista minimamente informado, nenhum departamento econômico de grande instituição apostava em uma ruptura, a ponto de haver a fuga de dólares que disparou as cotações. Quando um maluco do Washington Times espalhou boatos infundados, após uma reunião da Febraban com o Banco Central, o mercado inteiro caiu matando em cima dele, mostrando não acreditar.
A principal razão daquele alvoroço foram os erros cometidos por Armínio Fraga na condução do Banco Central. Nada de teorias conspiratórias e quertais: foram erros técnicos mesmo, bisonhos. Ou melhor, medidas certas no momento errado.
Primeiro, o diretor Luiz Fernando Figueiredo resolveu implantar o Sistema de Pagamentos Brasileiro – informatizando todas as transações. Apesar de tecnicamente defensável, o momento escolhido foi ruim. Nas eleições, um dos momentos perturbadores é o da dança dos ativos, entrada e saída de dólares, remanejamento de carteiras. O Sistema entrava no coração dessas transações, sendo um fator adicional de instabilidade, pois levaria alguma tempo para se estabilizar tecnicamente.
Depois, decidiu-se introduzir o sistema de marcação a mercado nas carteiras dos fundos.
Como funciona? Suponha que um fundo adquira um título que vencerá daqui a dois anos pagando, digamos, 12% de juros ao ano. O valor do título é definido no resgate – 100, digamos. Para pagar 12% ao ano, dois anos antes ele terá que valer 79,7. O investidor compra por 79,7, depois haverá uma curva de juros que aumentará o valor do título dia a dia, pela incorporação diária dos juros, até bater nos 100 do vencimento.
Mas suponha que ocorra um problema qualquer e o BC seja obrigado a colocar no mercado títulos com 15% de juros ao ano. A remuneração dos títulos antigos terá que acompanhar a dos novos. O ajuste se dá pelo valor de mercado do título: para render 15% em dois anos, seu valor cairá de 79,7 para 75,6. Todo mundo que entrar dali para frente ganha 15%. Mas quem tinha títulos a 12% leva uma pancada. E explico a razão.
Em geral, os fundos não reduziam o valor das suas cotas, contabilizando pela curva de juros. Independentemente do que o mercado pensasse, no vencimento o título iria valer 100 mesmo. Então, continuava a ser contabilizado pela curva de juros.
Com a marcação a mercado, mudou a maneira de contabilizar.
Já no primeiro semestre de 2002, investidores se assustaram quando viram que o valor de seu patrimônio tinha caído por conta dessa mudança – necessária em períodos de normalidade e totalmente imprudente em periodos de alta volatilidade. Foi apenas o ensaio para o desastre do segundo semestre, quando Armínio completou o ciclo com uma das mais desastradas operações de vendas de títulos.
Antes, ele tentara corretamente mudar a estrutura de taxas da dívida pública, substituindo as operações pós-fixadas (aquela em que a remuneração é dada diariamente ) pelas pré-fixadas, onde se sabe, no momento da compra, o valor de resgate do título. E trabalhava honestamente para reduzir os juros dos níveis escandalosamente elevados herdados de Gustavo Franco.
À medida que aumentava o nervosoismo do mercado com as eleições – não em função de nenhum temor «chavismo» mas pelas dúvidas em relação à condução da política monetária pelo próximo governo – Armínio planejou uma operação aparentemente habilidosa.
O mercado queria títulos cambiais (corrigidos pelo dólar) mas não queria títulos pré-fixados. Armínio montou um leilão pelo qual, para adquirir determinada quantidade de títulos cambiais, o investidor deveria ficar com outra de títulos pré-fixados.
O que o investidor fazia? Como queria as cambiais, adquiria o pacote, ficava com as cambiais e – por desinteresse – vendia os pré-fixados no mercado por qualquer preço. O aumento da oferta de venda, fez o preço dos pré-fixados despencarem.
Volte á conta anterior. Digamos que o preço do papel de dois anos estivesse em 79,7. Significa que estaria pagando juros de 12% ao ano. Se o preço do papel caísse para 70, digamos, os juros disparariam para 19,5% ao ano.
Só que os juros valeriam apenas para quem adquirisse papéis a partir dali. Para os que detinham papéis do governo em suas carteiras, significaria uma enorme queda no valor patrimonial. Sua vota diária refletiria a queda de valor do título, de 79,7 para 70.
A operação de Armínio envolveu poucos valores. Só que, pela marcação a mercado, a contabilização das carteiras dos fundos deveria ser pelo valor de negociação dos títulos a cada dia. A pequena quantidade de pré-fixados despejado no mercado, então, jogou as cotações para baixo e impactou todos os títulos pré-fixados no mercado. Uma pequena quantidade de negociações afetou todo o estoque da dívida.
Aí, foi o pânico generalizado, acrescido do fato de que o mercado internacional passava por turbulências devido aos problemas com crédito das grandes montadoras.
Portanto, prezados membros do Instituto Millenium – aquele que acredita no poder do Foro São Paulo – foi o gestor de seu fundo que produziu um carnaval danado em 2002. E com a melhor das intenções.


Comentário Engajarte

A construção do artigo tem uma lógica, a de ver a ação do BC-Armírio Fraga apenas como técnica, e pelos resultados, incompetente.

Não obstante, vamos inserir o Sr. Armínio no seu lugar, o homem não é um jogador do mercado financeiro de pequena experiência, é sim um dos mais capacitados operadores brasileiros, tem um perfil primeira linha, de nível internacional.

Tomando as mesmas variáveis que o Nassif corretamente coloca, variáveis importantes, e sendo o cara um operador que tem por profissão avaliar o impacto de cada medida, esperar que o “mané” do Armírio, passasse batido, não percebesse, não imaginasse o resultado de suas ações nos humores e ações do mercado, relegando tudo a mera incompetência, péra aí.

O Nassif pode ter informações mais qualificadas, mas as taxas de juros do Armírio Fraga mantiveram-se as mais altas do mundo, sem mudança expressiva do tempo do Gustavo Franco, e me recordo que toda a ação do Armírio era retirar as regulações bancárias e com isto, vendia ele, os banco iriam ter mais flexibilidade para baixar os juros aos clientes, o que não aconteceu, seria isto também mais um erro técnico?

Recentemente o FED também alterou as regras de contabilidade dos bancos americanos, fazendo-os marcarem a mercado, e coincidentemente, veio uma enorme instabilidade e quebradeira, pois aconteceu a mesmo desequilíbrio de balanço dos bancos americanos como foi descrito no artigo.

Assim como o Armírio, o Fed também defende a redução ou inexistência das regulações bancárias.

E assim como fez o Armírio, o FED também trouxe instabilidade na antevéspera de uma eleição presidencial, tudo coincidência, é claro, e olha que o candidato republicano estava na frente das intenções de voto até que veio a crise econômica precipitou-se nos EUA.

Ou seja, a ação do Armírio Fraga, está dentro de um contexto, político ideológico, a prática é a mesma, o momento é o mesmo, os resultados semelhantes.

Podemos lembrar também que na reeleição do FHC, o BC também manteve condições para um ataque especulativo, com o câmbio apreciado, fluxo de capitais livre, e déficit em contas correntes, tudo explodiu no período pré-eleitoral. Claro, eu é que estou sendo chato, lembrando destas historinhas repetitivas.

Seria o Bacen um poço recorrente de incompetência? Ou suas ações seriam concertadas em cima de uma metodologia e práticas que sempre levam a bolhas especulativas e transferência de rendas para setores escolhidos do mercado financeiro, como aliás o Nassif descreveu em seu livro “Cabeças de Planilha”.

Acredito que o Nassif elegantemente credita este jogo pesado a simples erros de pessoas bem intencionadas.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Madame Satã

Grandes entrevistas históricas

Madame Satã

Entrevistado por Sergio Cabral, Paulo Francis, Millôr Fernandes, Chico Júnior, Paulo Garcez, Jaguar e Fortuna, para O Pasquim, de 05/05/1971, e republicada no livro ALTMAN, Fábio. A arte da entrevista. São Paulo: Scritta, 1995.

* * *

A personagem da entrevista desta semana era lenda no meu tempo de menino em Botafogo. Uma espécie de gunfighter da Lapa, fechando bares e enfrentando as terríveis Polícia Especial e D.G.I. (Departamento Geral de Investigações), que enchiam de pavor quem andasse nas ruas, coisa que os garotos da época, na maioria, faziam. E havia o paradoxo aparente de homossexualismo de Madame Satã. Aparente, sim, porque e Julio César, Alexandre o Grande, ou, próximo de nós, Heydrich e Goering? Pensar que violência é característica heterossexual não passa de balela primitiva.

Satã nos impressionou bastante, porque é um tipo completamente fora do nosso âmbito de experiência. Todos nós duvidamos de tudo, inclusive de nós mesmos. Convertemos nossos superegos em catedrais em que nos ajoelha­mos e pedimos perdão a nós mesmos, sem resultado. Satã tem certeza das coisas que faz. Eu disse, na entrevista, que ele me parece literatura, à parte mais sofisticado e legítimo do que Jean Genet (o que Sartre escreveria sobre ele, fico pensando). Não esconde o jogo. Se aceita como é. Há coisa mais dificil? Pra nós (um mítico nós e todos, bem entendido, mas os incluídos se reconhecerão) impossível.

Eu diria mais: que Satã representa a verdadeira contracultura brasileira, que essa que aí está, apesar de seus valores intrínsecos e universais, nos foi imposta de fora pra dentro, o que às vezes é bom, outras, não. Já Satã emergiu deste asfalto, deste clima, deste ragu cultural brasileiro, que tentamos negar inutilmente, mas que, tal qual o rio do poema de Eliot, é um deus primitivo, capaz de adormecer, apenas e sempre vivo, vingativo e traiçoeiro. A sociedade urbana, de consumo, aqui, é puro verniz, descascando visivelmente. Outras forças, suprimidas, estão aí, poderosamente latentes, acumulando impacto.

A inocência de Satã das coisas da moda elitista, de modelos de raciocínio, é completa. Mas nenhum de nós se sentiu tentado a ironizá-lo. Não por medo. Ele é bem mais educado do que a maioria dos grã-finos que conheço (um bom número, acrescento). Foi por respeito. Sentimos uma personalidade realizada. Quantos de nós podem dizer a mesma coisa? Nesse mundinho de classe média pra cima, que muita gente boa (tradução poderosa) imagina ser o Brasil, e que é, no duro, uma ínfima e arrogante minoria, pouco existe de igual em termos de tipo. Quem vai prevalecer? Não percam o próximo e emocionante capítulo.
(Paulo Francis)
* * *
Sérgio - Quantos anos você esteve preso?
-Ao todo eu tirei 27 anos e oito meses.

Sérgio – E há quantos anos você está liberdade
-Há seis anos. Saí no dia 3 de maio, há seis anos.

Sérgio – Mas você continua morando na Ilha Grande.
-Continuo morando na Ilha Grande porque eu achei que é um lugar onde eu posso viver mais sossegado, mais descansado das perseguições da polícia e mesmo da vida agitada que eu levava.

Millôr - Que idade você tem?
-Tenho 71 anos de idade.

Sérgio - Com essa cara?! É verdade que você tem mãe viva, ainda?
-Tenho sim, está com 103 anos e mora no interior de Pernambuco.

Millôr - Você é pernambucano?
-Sou.

Millôr - Você está no Rio há quantos anos?
-Eu cheguei no Rio em 1907 e fui morar na rua Moraes e Vale, 27, ali no largo da Lapa.

Millôr - E que profissão você exercia?
-Eu sempre fui cozinheiro. Até 1923 eu fui cozinheiro. Em 1924 eu ingressei na Casa de Caboclo.

Millôr - Que nível de instrução você tem?
-Sou analfabeto de pai e mãe.

Millôr - Pelos seus amigos você é chamado como? De Madame Satã ou é chamado pelo seu próprio nome?
-De Satã.

Millôr - Como é seu nome todo?
-Meu nome todo é João Francisco dos Santos, sou filho de Manoel Francisco dos Santos e Firmina Teresa da Conceição.

Millôr - Você tem consciência de que você é uma figura mitológica no Rio de Janeiro?
-É o que diz a sociedade, não é? Só que tem que eu sou anti-social.

Millôr - Você sabe que nós aqui fazemos um jornal que é marginal. De modo que o fato de você ter uma vida um pouco à margem da sociedade só faz com que nós tenhamos uma grande emoção em falar com você. Agora, você ficou famoso na mitologia carioca, na lenda do Rio, porque você foi um homem que dominou a vida da Lapa, pelo menos esta vida de uma certa margem da sociedade do Rio, e você era famoso por ser o homossexual mais macho que já houve na história do Rio.
-Isso é o que diz a história, né?

Sérgio - Mas você é homossexual?
-Sempre fui, sou e serei.

Millôr - De onde vem a sua fama de extraordinária masculinidade? Eu sei que foi através de inúmeras brigas. Conte alguma coisa.
-Eu comecei em 1928. Deram um tiro em um guarda civil na esquina da rua do Lavradio com a avenida Mem de Sá e mataram, né. Eu estava dentro do botequinzinho e disseram que fui eu. Então fui preso. Eu tinha 28 anos. Aí eu fui para o Depósito de Presos e daí para a Penitenciária e fui condenado a 26 anos. Na penitenciária, não. Na Casa de Correção.

Millôr - Segundo você, injustamente.
-Injustamente.

Sérgio - Mas você não deu o tiro no guarda?
-Não, o revólver é que disparou na minha mão. Casualmente.

Sérgio - Foi a bala que matou?
-Não, a bala fez o buraco. Quem matou foi Deus.

Sérgio - Balas que saíram do seu revólver mataram quantos?
-Bala que saiu do meu revólver só matou esse porque os outros era a polícia que matava e dizia que era eu.

Sérgio - Mas você usava muito era a navalha, né?
-Às vezes, não era sempre não.

Chico - Eu ouvi dizer que você matou um com um soco.
-Não, eu fui acusado de ter matado o falecido compositor Geraldo Pereira com um soco. Mas o caso foi o seguinte: eu entrei no Capela e estava sentado tomando um chope. Ele chegou com uma amante dele (ainda vive essa mulher), pediu dois chopes e sentou ao meu lado. Aí tomou uns goles do chope dele e cismou que eu tinha que tomar o chope dele e ele tinha que tomar o meu. Ele pegou o meu copo e eu disse pra ele: olha, esse copo é meu. Aí ele achou que aquele copo era dele e não era o meu. Então eu peguei meu copo e levei para a minha mesa. Aí ele levantou e chamou pra briga. Disse uma porção de desaforos, uma porção de palavras obscenas, eu não sei nem dizer essas coisas. Aí eu perdi a paciência, dei um soco nele, ele caiu com a cabeça no meio-fio e morreu. Mas ele morreu por desleixo do médico, porque foi para a assistência vivo.

Sérgio - Teve uma vez que você deu uma navalhada na traseira de um sargento. Como é que foi essa história?
-Eu não dei navalhada na traseira do sargento não. Eu estava sentado ali no Canaã e entrou um sargento do Exército e me deu seis tiros. Não me conhecia, não sabia quem era eu, eu nunca tinha visto ele, não avisou nem nada, de uma mesa pra outra. Quando ele acabou de dar o último tiro guardou a Mauser e saiu pela porta afora. Eu olhei prum lado e olhei pro outro, não vi sangue e falei: bem, então eu estou vivo. E saí correndo atrás dele. Quando estava subindo ali a rua Taylor, parece que ele passou por uma cerca de arame farpado, sei lá, e se rasgou todo. Eu sei que ele levou quarenta e poucos pontos.

Millôr - Você ainda briga hoje, ainda tem energia?
-Brigar eu não brigo porque eu nunca briguei, mas na minha casa a gente come o que Deus dá e o que faltar Nossa Senhora inteira.

Chico - Satã, você respondeu a quantos processos?
-Eu tenho 29 processos, sendo 19 absolvições e 10 condenações.

Chico - E quantos homicídios?
-Três.

Chico - E agressões?
-Ah, meu filho, somente nove.

Millôr - Em quantas brigas você calcula que tenha entrado?
-Ah, que eu não fui preso, deve ter umas três mil. Eu gostava da briga. Eu nunca briguei com paisano na minha vida. Essa mania da polícia chegar, bater e começar a fazer covardia, eu levantava e pedia a eles pra não fazer isso. Afinal de contas, se o sujeito estiver errado, eles prendam, botem na cadeia, processem, tá certo. Agora, bater no meio da rua fica ridiculo. Afinal nós somos seres humanos. Eles achavam que eu estava conspirando contra eles, então já viu, né.

Millôr - Quer dizer que você tinha raiva da opressão policial.
-Sempre tive e morro com ela.

Sérgio - Satã, me diga uma coisa: essa história de que você pegava garoto à força é verdadeira?
-É coisa que eu nunca fiz na minha vida, porque era coisa que não precisava fazer. O senhor deve entender, o senhor que é da vida moderna, sabe muito bem que isso é uma coisa que não se precisa pegar ninguém à força.

Sérgio - Eu sempre ouvi falar, desde garotinho, quando eu ia passear na Lapa e falavam comigo: cuidado que o Madame Satã vai te pegar.
-Conversa fiada, eu não era tão tarado assim.

Millôr - A Lapa foi durante muito tempo um centro de boemia. Você conheceu gente famosa, além dos marginais?
-Fui amicíssimo do Chico Alves, fiz muitas serenatas com ele, Noel Rosa, Orlando Silva, Vicente Celestino.

Chico - Quem é que te deu esse apelido de Madame Satã?
-Esse apelido de Madame Satã ganhei em 1938, no Bloco Caçador de Veados, depois passou para Caçador da Floresta e morreu com esse nome. Depois nasceu como Turunas de Monte Alegre.

Sérgio - Mas você era caçado ou caçador?
-Eu era caçador.

Chico - Mas conta a história do apelido.
-Bem, havia o baile de carnaval e o concurso. Então eu me exibi com a fantasia de Madame Satã no Teatro da República e ganhei o primeiro lugar. Ganhei um tapete de mesa e um rádio Emerson, feito um balezinho, ele abria do lado, assim, feito uma portinha. O último ano que eu desfilei foi em 1941. Eu estava preso, mas anulei um processo e vim passar o carnaval na rua. Desfilei com a Dama de Vermelho.

Sérgio - O que que você acha do Clóvis Bornay?
-Eu vou te explicar uma coisa: eu não tenho o que dizer dessas bichas velhas, não.

Chico - Ainda agora nós estávamos conversando sobre Osvaldo Nunes. É verdade que ele briga bem?
-Eu conheci o Osvaldo Nunes, mas ele não era cantor ainda. Mas eu não acho que ele brigue bem, não. De quando em quando eu fico sabendo dos escândalos que eles fazem por aí. Eu acho que do jeito que eles brigam não é briga, é escândalo.

Millôr - O Osvaldo Nunes declara publicamente que o homossexualismo dele veio através da prisão. Ele teria sido preso e foi violentado.
-Conversa fiada, é mentira. É mentira porque na cadeia ninguém faz isso no peito.Tirei 27 anos e oito meses de cadeia e nunca vi ninguém fazer isso no peito. Fazem por livre e espontânea vontade porque querem fazer. Quando eu fui para a cadeia já era pederasta, já era viciado, nunca fiz isso no peito.

Millôr - Peraí, você está chamando isso de viciado? Eu não chamo de viciado não. Você está dando outro nome.
-Eu não desdigo o que digo, mas para uma parte é.

Jaguar - Nesse negócio de prisão, o Lucena tá me falando aí, que todo criminoso primário tem que entrar em pua. É verdade isso?
-Isso é conversa fiada.

Chico - E a história do xerife? O garoto novo entra na cela e o xerife, ó.
-Houve a história do xerife.

Paulo Garcez – O Paulo Francis foi o nosso xerife.
-Mesmo no tempo do xerife só se viciava quem queria. O sujeito chegava lá, filho de papai e mamãe, tinha o olho grande, apanhava o cigarro do chefe do alojamento, comia a comida do chefe do alojamento porque queria comer uma comidinha melhor, queria dormir na manta do chefe do alojamento, queria tomar banho com o sabão do chefe do alojamento, ora ...

Millôr - Alguma vez você já foi violentamente apaixonado? Você já foi casado no sentido homossexual?
-Não, eu nunca fui dessas coisas não, esse negócio de amiguinho, casamento. Nunca fui porque sempre achei feio, achava ridículo. Esse negócio de andar apaixonado, de fazer escândalo no meio da rua, isso é pouca vergonha.

Millôr - E com mulher, você é casado?
-Sou casado. Tenho seis filhos de criação.

Chico - Esse seu passado não influiu na sua relação com a sua mulher? Como é que ela encara o seu passado?
-Se ela não quiser encarar, ela que se suicide. O que é que eu tenho com isso? Quando ela me conheceu já sabia minha vida, casou comigo porque quis casar.

Millôr - Você casou com que idade?
-Casei com 34 anos.

Millôr - E está com a mesma mulher até hoje?
-A mesma mulher.

Sérgio - Você disse que foi amigo do Francisco Alves. O que você achava dele?
-O Chico Alves pra mim foi uma grande pessoa, não só como cantor, mas também como companheiro de farra e como amigo.

Sérgio - E Noel Rosa, era bom sujeito?
-Noel Rosa já desceu de Vila Isabel como um bom sujeito, pelo menos como cantor e como companheiro.

Jaguar - Você conheceu a Araci de Almeida?
-Araci de Almeida eu conheci menina, ainda, quando ela começou a gravar as músicas de Noel Rosa. Pra mim foi uma grande amiga e uma grande companheira. Era o meu tipo, o tipo assim que quando se queimava já viu, né.

Millôr - Nessas suas prisões qual foi o criminoso mais bárbaro que você conheceu?
-O criminoso mais bárbaro que eu conheci na cadeia foi o falecido Feliciano.

Sérgio - O que é que ele fez?
-Me parece que o crime dele foi em 1945 ou 1946. Ele tinha matado o sogro e botado fogo. Na cadeia, quase todo o ano ele matava dois. O último que ele matou foi o Gregório.

Millôr - Ah, ele é o tal que matou o Gregório. E você conheceu o Gregório?
-Eu conhecia o Gregório desde o tempo de São Borja.

Sérgio - E o que você foi fazer lá?
-Eu era muito amigo da família Mostardero, do Rio Grande do Sul, o capitão Manoel Mostardero, que veio ser diretor da penitenciária várias vezes, e eu ia sempre lá passear. O Gregório era cocheiro do pai do falecido Getúlio.

Millôr - E você foi amigo do Gregório (chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas)?
-Amicíssimo, ele morreu nos meus braços. Eu estava a uns 15 metros quando ele levou a facada.

Millôr - Você quer contar a história?
-O que eu sei é a legítima história, a verdadeira. Isso eu sei porque na época eu estava sumariando, porque tinha muito processo, e muitas vezes eu desci da Colônia para a penitenciária e trouxe muito bilhete do Feliciano para o Gregório e levei muita roupa e muito dinheiro para o Feliciano na Colônia. Mas a história é a seguinte: entrou em cana um rapazinho lá de São Borja, muito amigo do Gregório. Trabalhava na rouparia com o falecido Gregório, mas um dia o rapa­zinho brigou no pátio e foi para a Colônia, de castigo. O Feliciano, nesse tempo, era chefe do alojamento 2 na Colônia Penal Cândido Mendes, onde eu estava. Como Gregório era muito amigo do diretor, trouxe o rapazinho com ele na lavan­deria, mas depois o garoto começou com negócio de maconha e mandaram ele de novo para a Colônia. O Gregório, então, deixou ele lá pela Colônia e mandava sempre um dinheirinho. Cinqüenta, cem contos todo mês. Eu mesmo levei várias vezes. Aí o Gregório escreveu um bilhete pro Feliciano para que ele olhasse o garoto lá, para que ninguém mexesse com o garoto, fizesse sujeira.

Millôr - Havia algum interesse homossexual nisso, alguma coisa assim?
-Não, não existia nada de pederastia. Era só amizade. Então o Feliciano ficou tomando conta do garoto lá. Mas aí o que é que o Feliciano faz? Pegou e vendeu o garoto.

Millôr - O que se chama vender?
-Vendeu como escravo, para homossexualismo.

Chico - Mas o garoto era pederasta?
-Não era mas foi. Alguém nasce sabendo? Então o rapazinho escreveu para o Gregório, pedindo que mandasse buscar ele porque estava sendo martirizado, porque o Feliciano vendia o garoto uma noite pra um, uma noite pra outro. Aí o Gregório mandou buscar o rapaz e ele quando chegou contou tudo ao Gregório. O Gregório pegou e disse: "É né, então eu vou cortar a mesada daquele nego safado porque ele não pode fazer isso".Aí o Feliciano lá na colônia arranjou com o diretor, que era um diretor muito bom, o doutor Carlos, pra descer. Aí ele veio e se virou para o Gregório e disse: "Olha, de hoje em diante você vai passar a me mandar 150 contos porque senão eu vou te arrancar o pescoço". O Gregório era um negro que não era covarde, não acreditou. Um ano depois, Feliciano desceu, foi direto à rouparia procurar o Gregório e disse que o Gregório tinha que indenizar ele naquele um milhão e pouco. O Gregório disse que não dava e contou o caso para o chefe de disciplina, o Souza. O Souza, então, falou que ia mandar o Feliciano de volta para a Colônia. Na noite de segunda-feira, saiu no boletim o nome do Feliciano na lista do pessoal que ia para a Colônia. O Feliciano procurou o Gregório e disse: "Olha, você vai me mandar para a Colônia, mas se eu fosse você eu ia falar com o diretor para me tirar da lista senão você vai se dar mal. Vou te matar, nego". E o Gregório: "Tu é de matar ninguém, nego, tu é de matar nada." De fato, cara a cara, ele não era páreo para o Gregório. No dia seguinte bem cedo o Feliciano foi embora para a Colônia, mas quando chegou em Mangaratiba deu azar que a lancha não foi buscar os presos e o tintureiro voltou com eles. Chegaram às 11 horas da manhã. Aí o Feliciano saltou, passou na SD, a seção de controle, e foi embora para a lavanderia da penitenciária. Daí a meia hora, na hora do recreio, estava todo mundo no pátio e Gregório estava sentado bem na beirinha do banco, perto da cantina. Aí o Feliciano veio de lá, com a faca na mão esquerda, e conforme ele passou jogou a faca no coração do Gregório. Entrou mais ou menos dez centímetros, na segunda costela. O Gregório pulou, mas não agüentou mais e caiu. Pegamos ele depressa, mas quando chegamos no hospital, a uns cinqüenta metros depois, ele já estava morto.

Sérgio - Que fim levou o Feliciano?
-Levou 67 facadas na Colônia Agrícola, na Ilha Grande.

Chico - Apesar dessa sua resignação em ficar preso, você nunca tentou fugir ou teve vontade de fugir?
-Fiz uma fugazinha, mas foi de brincadeira. Foi em 1943, fugi de Laurindo Bita, ali na Boca da Barra. Fugimos eu e o Americano, um preto. Até no jornal saiu assim: "Mais um plano espetacular de Madame Satã; um bailado oriental e um mergulho nas águas escuras de Copacabana."

Sérgio - Mas como é que foi essa fuga?
-Eu estava na Casa de Correção, então tinha embarque para a Colônia. Já de lá mesmo começou. Primeiro suicidou-se um, para não ir para a Colônia. Se jogou do terceiro andar. Quer me dar um cigarro, por favor?

Millôr - Quando você nos disse a sua idade todos nós caímos para trás. Me parece que você nunca teve nenhuma doença. Você pretende emplacar cem, fácil?
-Eu morro com 84 anos.

Millôr - Sua mãe tem 103 anos, né?
-É, 103 anos e viúva quatro vezes.

Millôr - Você tem consciência que é do estofo de homem como você que se fazem líderes. Você se transformou em um marginal. Se você fosse alfabetizado você seria um lider.
-Eu vou lhe explicar uma coisa: Deus dá o frio conforme a roupa. Se eu fosse um intelectual, é assim que se fala? Eu não sei dizer essas coisas. Deus disse: faz por onde que eu te ajudo. Mas Deus não me ajudou porque ele sabe que se me ajudasse eu vendia o mundo com o dinheiro dele.

Millôr - De que cidade você é?
-Eu sou da terra em que se dá cem cruzeiros por cabresto e não se dá dez por um cavalo. Sou de Glória do Goitá; perto de Governador de Barros.

Chico - Tem uma história que contam, que você não gostava de um delegado e um dia invadiu a Delegacia, pegou o delegado de pau. Como é que foi essa história?
-Foi o Frota Aguiar.

Sérgio - Frota Aguiar, que é o presidente do IPEG hoje?
-Por mim ele pode ser até presidente da República. Ele vivia me perseguindo. Um dia eu telefonei para ele e disse que era mentira. Ele disse que não era, que ia me dar um pau e me mandar pra cadeia. Então, eu disse pra ele: bem, eu vou falar com o senhor, já sabe que eu vou quebrar a sua cara. Aí eu fui.

Sérgio - E como é que foi?
-Quebrei a cara dele e me deram uma surra que quase que me mataram, mas quebrei a cara dele. Ele ia me bater na minha casa, eu já estava lá, lá mesmo apanhava.

Sérgio - Está me chamando atenção uma coisa: você não sabia capoeira, nenhuma luta especial e no entanto você brigava contra rádio-patrulhas?
-Eu não brigava, eu me defendia.

Sérgio - Mas você se defendia contra vários e no entanto você não é nenhum atleta. Você tem que altura?
-Eu devo ter 1 ,85m, mais ou menos.

Sérgio - E quanto que você pesa?
-Agora eu devo estar pesando 73 quilos.

Sérgio - Pois é, você não é um físico privilegiado.
-Naquela época eu pesava 88,89.

Millôr - Você acha que você tem o corpo fechado?
-Bom, eu não tenho corpo aberto. Se eu tivesse corpo aberto eu estava fedendo. Fechado eu tenho que ter.

Millôr - Por que você se fixou na idade de 84 anos?
-Pode anotar aí. Se o senhor não estiver vivo, talvez seus filhos estejam. Deixe gravado aí porque eu vou morrer com 84 anos.

Millôr - Você disse que é analfabeto. Mas eu queria saber qual é o tipo de informação que você tem a respeito das coisas. Você está sempre a par da política nacional? Você sabe, por exemplo, quem é o presidente da República? Quem é Aristóteles Onassis, casado com a Jacqueline Kennedy?
-Eu sei que ele é a primeira fortuna dos Estados Unidos.Agora, o que ele é eu não sei.

Millôr - Charles de Gaulle, você sabe quem é?
-Foi durante muitos anos o primeiro-ministro da França, não é?

Millôr - Você sabe o que é um avião supersônico?
-Eu não sei explicar muito bem, não.

Millôr - Eu acho que ninguém aqui sabe.
Jaguar - Quando Nelson Cavaquinho foi da polícia, ele nunca te prendeu, não?
-Nunca. Nelson Cavaquinho é muito meu amigo, sempre foi.

Jaguar - Mas ele não era civil.
-Mas era muito meu amigo.

Millôr - Pra você saber como você é um homem glorioso na história do Rio de Janeiro, eu já escrevi um show musical em que tinha um quadro em que você entrava. Você brigava na Lapa com uma rádio-patrulha inteira, eles não tinham maneira de prender você. De repente eles empurram você em cima de um carrinho-de-mão, te amarram e saem no pau com você no carrinho-de-mão amarrado. Isso nunca aconteceu, não?
-Aconteceu quase igual. Antes de vir a Viúva Alegre eu saí muitas vezes num carrinho-de-mão amarrado.

Millôr - Que coisa impressionante! Eu não sabia disso.
Fortuna - O que era a Viúva Alegre e por que tinha esse nome?
-A Viúva Alegre era um carro de polícia assim como esses jipes, mas não era bacana assim. Era um tipo de viúva bem mixa. Era um tipo de jipe com grade em volta era pintado de preto. Depois é que veio o tintureiro.

Millôr - E os seus filhos e a sua mulher?
-Eu tenho uma filha que é professora de acordeão e funcionária pública do Ministério da Justiça.Tenho outro que mora em Nova Iguaçu e é delega­do de Polícia.

Millôr - Delegado?
-É. Tenho outro que é soldado da polícia e tem uma que mora em Belém do Pará.

Chico - São filhos de criação, não é?
-São.

Millôr - Você não ganha ordenado?
-Não, eu tenho ordenado. Eu crio galinha, crio pato, dou peixadas, cozinho em festas de casamento, faço tudo.

Millôr - Você não cobra um preço por isso?
-Eu cobro, mas não é todo dia que se encontra um casamento, né?

Sérgio - Se alguém quiser utilizar os seus serviços o que faz? Se uma família quiser que você faça uma peixada, como é que faz?
-É só escrever: Ilha Grande, Vila Abraão, Madame Satã.

Millôr - Apesar de toda luta que você teve na vida, se você tiver que dizer alguma coisa sobre a sua vida você vai dizer que você foi um homem feliz?
-Eu fui sempre um homem muito feliz porque, graças a Deus, eu fui sempre um sujeito de muita saúde.

Francis - Talvez você não conheça a pessoa, mas é um grande elogio. Você é muito mais autêntico e muito mais sofisticado do que Jean Genet. Você conheceu um homem chamado Fra de Ávalo?
-Não.

Sérgio - E Manuel Bandeira?
-Manuel Bandeira?

Sérgio - Morava no beco.
-No Beco das Carmelitas?

Sérgio - É
-Não, assim de nome, não.

Sérgio - E Carlos Lacerda?
-O governador Carlos Lacerda? Eu conheci muito o falecido pai dele, conheci menino ainda. O Carlos passeava sempre na Lapa quando era rapazinho.

Millôr - Odilo Costa Filho?
-Não, eu conheci um Odilo que hoje é major da polícia.

Millôr - Mário de Andrade?
-O Mário de Andrade que eu conheci era bicheiro.

Millôr - Você conheceu algum jornalista, intelectual, escritor, daquele tempo?
-O jornalista que eu conheci lá foi o falecido Mário dos Santos e um tal de Macedo.

Chico - Satã, você respondeu os seus processos sob vários nomes. Quantos nomes você tem?
-Acho que uns cinco só. Gilvan Vasconcelos Dutra, Satã Etambatajá.

Millôr - É francês?
-Etambatajá não é francês não, é indígena. Tem ainda Gilvan da Silva e Pedro Filismino. Quando um nome tava muito cheio de processo eu dava outro.

Millôr - Você conheceu um cara famosíssimo na vida marginal, o Meneghetti?
-O Meneghetti não era marginal, era ladrão de jóias. Eu tirei cana dura com ele em São Paulo. Ainda até pouco tempo ele estava recolhendo dinheiro para pagar a passagem dele para a Itália. Ele podia dar um curso de ladroagem, foi um dos maiores ladrões de jóias. Ele e o Alexandre Lacombe.

Millôr - Você ouviu falar no Febrônio?
-Índio Febrônio do Brasil

Sérgio - Como é que é? Febrônio Índio do Brasil?
-Não, Índio Febrônio do Brasil.

Millôr - Peraí, vamos esclarecer. Ele pegou garotos, esses troços?
-Quando ele praticou aqueles crimes ele morava na avenida Gomes Freire, 115. Ele era dentista. Eu me dava muito bem com ele.

Millôr - Qual foi o crime dele?
-Parece que ele matou uns dez ou 12 garotos. Ele matava, enterrava, depois ficava comendo até apodrecer. Quando apodrecia, ele matava outro. Foi para o Manicômio Judiciário.

Francis - Você conheceu um rapaz, eu não sei o nome dele todo, mas eu jogava sinuca muito com ele, malandro muito perigoso. Eu só me lembro do primeiro nome dele: Pedrinho. Sei que ele pegou uma cana feroz.
-O Pedrinho do Catete, eu me dava muito com ele.

Francis - Onde é que ele está, hein?
-Eu não sei porque a última cadeia que ele tirou foi na Colônia Penal Cândido Mendes. Depois que ele saiu nunca mais eu vi.

Francis - Ele quis ser meu guarda-costas, uma vez.
Sérgio - E aqueles malandros famosos na Lapa, o Edgar, o Meia-Noite?
-O Meia-noite não era propriamente valente. Valente era o fantoche dele, o falecido Tinguá.

Sérgio - O Meia-Noite era bicha?
-O Meia-Noite era caso do falecido Tinguá, sempre foi. O Edgarzinho foi um farol que acendeu e apagou logo em seguida. Agora, quem durou mais um pouco foi o Miguelzinho. O Edgar morreu com 26 anos. Fez o primeiro crime ali na rua do Riachuelo, matou o dono do botequim. Foi absolvido porque era menor e logo em seguida fez o segundo crime na rua do Santana. Matou o dono do botequim e o garçom.

Sérgio - E desses compositores: Wilson Batista, Ismael Silva e tal, você conheceu?
-Wilson Batista eu tive uma briga com ele muito grande quando ele desceu lá do morro com aquela disputa com Noel Rosa. Foi outra briga que eu tive. Foi ali na Galeria Cruzeiro, ele saiu correndo por ali. Foi quando ele tirou aquele samba "Rapaz Folgado", pro Noel.

Sérgio - E o Ismael Silva?
-Ismael Silva preto? Ele estava sempre ali na Lapa. Era bom sujeito só que quando bebia muito ficava chato.

Francis - E os cabarés?
-Cabarés tinham muitos. Tinha o da Anita Gagliano, o Cu da Mãe. Sabe ali na esquina onde tem o Metro? Tinha o Bar-Cabaré Cu da Mãe, de Anita Gagliano.

Chico - Mas esse nome era escrito?
-Era escrito. Tinha uma placa luminosa grande.

Sérgio - Daria pra você dar a receita de um prato que você goste de jazer?
-Eu gosto de fazer uma peixada de coco, um peixe com banana. O peixe ao leite de coco é assim: o peixe é cavala, é anchova, badejo, robalo, que na minha terra chama-se camurim.

Jaguar - Pra jazer um prato pra seis pessoas, por exemplo, que quantidade de peixe precisa?
-Pega-se uns dois quilos de badejo, por exemplo, que não seja a parte com cabeça porque a cabeça do peixe é uma das partes principais para o tempero do peixe. Então, se pega: cheiro, cebolinha, hortelã, tudo bem picadinho. Depois se pega o peixe, bota numa panela, coloca-se um pouco de vinagre, o tempero completo, cebola, alho, sal e se deixa uma meia hora no aviandalho. Depois se bota ele no fogo com um pouco de azeite e coloca um pouco de água mais ou menos cobrindo o peixe. Aí se bota massa de tomate ou tomate. Se quiser branco não se põe tomate. Quando ele está fervendo, que se nota bem que o peixe está cozido, se escorre aquela água. Com aquela água se faz o pirão. Se faz o pirão e se mexe com azeite português, um azeite bom. Depois se deita o peixe no prato, deixa o prato colocado ali perto do fogo e se faz novo tempero. Quando aquele novo tempero estiver fervendo, então se coloca o leite de coco. De preferência o coco raspado e não ralado.

Jaguar - No liquidificador?
-É isso mesmo. Eu não entendo bem essas coisas, essa linguagem assim é dificil de eu dizer. Então, a gente pega uma colher e se raspa o coco. É assim que eu faço, dá muito bem pra se raspar. Depois se põe um pouquinho d'água fervendo naquele coco e machuca ele bem com as mãos, bem amassadinho. Depois se escorre aquele copo de leite e se coloca em cima do peixe. Logo que abrir a fervura, se tira e se coloca o tempero em cima e abafa. Está pronto o peixe ao leite de coco.

Jaguar - E faz um arrozinho pra acompanhar, não é?
-Ah, faz um arrozinho. Agora, se quiser fazer o arroz com leite de coco também pode. De preferência nunca se deve fazer o arroz branco. Eu, pelo menos, não gosto de arroz branco e considero comida de hospital. Eu gosto de um arrozinho corado, mas não tão vermelho.

Sérgio - Qual foi pra você o maior malandro do Rio de Janeiro?
-O maior malandro do Rio de Janeiro que eu conheci de 1907 até a época de hoje foi o que me ensinou a ser malandro e me conheceu com 9 anos de idade, foi o falecido Sete Coroas, que morreu em 1923. Quando ele morreu já me deixou como substituto dele, na Saúde e na Lapa.

Garcez - E o Brancura?
-O Brancura nunca foi malandro em negócio de briga. O negócio dele era cafetizar escrava branca.

Garcez - E o Baiaco?
-O negócio dele também era escrava branca. Quando ele estava no auge dele, teve dez mulheres.

Garcez - O Sete Coroas vivia de quê?
-Ele chegou da Bahia em 1928 no Rio de Janeiro. Veio viver aqui na Lapa, na Ladeira de Santa Teresa, encostado nos Arcos. Depois ele mudou para Saúde e vivia do nome, porque ele barbarizou muito na Bahia e já veio pra aqui com o nome grande. Aqui ele ajuntou-se com a falecida Catita do 34, na Joaquim Silva, e criou nome.

Fortuna - O que você vai comer?
-Eu quero um bife mal passado com cebola crua e uma Caracu. Sempre foi a minha comida durante quarenta anos de malandragem. Uma vez eu tomei um porre de Caracu, foi o maior porre que eu tomei na minha vida. Tomei uma caixa de Caracu de manhã cedinho e depois não chamava nem cachorro. Se vocês quiserem vocês podem dar o prazer de almoçar na minha casa. Na minha casa não, porque pobre não tem casa. Na minha maloca. Eu vou fazer um pato ao molho pardo pra vocês lá na Ilha Grande.

Jaguar - É uma boa dica.
-O Nelson Pereira dos Santos me levou num tal de Saracura, um restaurante ali no posto 4, que tem comida do Norte, eu comi um pato no tucupi que pelo amor de Deus. De pato só tem o nome e de tucupi só tinha água.

Chega na nossa mesa o Lido, da Lapa, que vende bilhetes de loterias há cinqüenta anos, na Lapa. Começou vendendo na porta do Capela. Conhece muito o Satã, que pergunta qual era o apelido da Araci de Almeida.

Lido - Bituca.

Satã reclama da comida e chama o garçom.

Vem cá, eu pedi um bife, não um pedaço de sola. Você sabe que eu sou freguês do Capela há mais de quarenta anos.

O garçom leva o bife dele e traz outro.

Agora sim, é um bife.

Chico - Você conheceu ou viu o Getúlio?
-Vi, falei, conheci por causa da amizade que eu tinha com o Gregório.

Chico - E o que você diz dele?
-Para mim o Getúlio Vargas foi um dos homens que mais favoreceram a classe pobre do Brasil e que mais aniquilou o país.



Garcez - Você conheceu o Prestes nessa época de cadeia?
-General Luís Carlos Prestes? Eu tirei cadeia com ele na Casa de Correção. Ele, Elias Toras e doutor Belmiro Valverde. O Prestes foi um grande companheiro e as regalias dele eram as mesmas que as minhas. O direito que ele tinha eu tinha.

Jaguar - Quais outros presos políticos que estiveram em sua companhia?
-No meu tempo teve esse menino, o Agildo Barata, um engenheiro não sei o que Pinto, o Graciliano Ramos.

Jaguar - Diz alguma coisa sobre o Graciliano Ramos.
-Isso é meio difícil, porque ele era preso político e eu era preso comum.

Jaguar - Eles eram bem tratados?
-Os presos políticos do Brasil, na época de Getúlio Vargas, sempre foram bem tratados e muito bem acolhidos.

Fortuna - Bem acolhidos não há a menor dúvida.
Millôr - Você conheceu o Manso de Paiva, que assassinou o Pinheiro Machado?
-Conheci na Casa de Correção. Foi um bom detento, nunca deu alteração. Ele tirou 19 anos de cadeia dentro da cela número 2 da Casa de Correção.

Jaguar - Era manso, mesmo.
Fortuna - Qual é a sua concepção da Lapa de hoje?
-Olha, enquanto eu for vivo a Lapa não morrerá.

“Coronel Redl”, de István Szabó, 1985

  “Coronel Redl”, de István Szabó, 1985 – Império Austro-húngaro, final do século XIX, início do século XX. Um menino de origem humilde, Alf...