sexta-feira, 30 de março de 2012

Marinha dá os primeiros passos para ter seu submarino nuclear

Construção de um protótipo do reator da embarcação já está em estudos em base no Interior de São Paulo
Lyne Santos
A Tribuna de Santos

Após ingressar na seleta lista de países com um porta aviões, o Brasil vai integrar um grupo ainda mais restrito, o das nações com um submarino nuclear. A previsão é que a embarcação esteja pronta para os primeiros testes de mar em 2023. Atualmente, o projeto passa pelas fases de construção do protótipo do reator nuclear e produção do combustível, que devem ser concluídas em dois anos.

Essas etapas são desenvolvidas no Centro Experimental de Aramar (CEA), unidade da Marinha localizada na cidade de Iperó, a 125 quilômetros de São Paulo. No local, visitado pela Reportagem de A Tribuna, é feita parte das atividades de pesquisa da Armada.

O CEA também abrigará instalações onde serão testados os equipamentos nucleares a serem implantados no submarino. Um dos futuros prédios, por exemplo, será um protótipo, em terra, do próprio veículo. De acordo com o projeto, nesse imóvel, serão recriados os ambientes da embarcação e será testado seu reator, responsável pela produção de energia que a movimentará.

"O nosso reator protótipo será utilizado para testar o projeto, ver se ele funciona de fato. Se funcionar, vamos reproduzi- lo exatamente igual e colocar a bordo do submarino. Se não, vamos fazer as modificações apropriadas para que a segurança e o desempenho sejam aqueles requeridos", explicou o superintendente do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear da Marinha do Brasil, o contra-almirante e engenheiro naval Luciano Pagano Junior

Será a primeira vez que o Brasil construirá integralmente um reator nuclear. Os principais equipamentos para sua montagem foram adquiridos ao longo dos anos, já que a ideia de ter um submarino com esse tipo de propulsão surgiu no País há mais de duas décadas.

O primeiro submarino nuclear do mundo foi o Nautilus, fabricado pelos Estados Unidos em 1954. Quase 60 anos depois,apenas cinco países contam com esse tipo de embarcação – Rússia, China, Inglaterra e França, além dos Estados Unidos. Todos integram o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A Índia também tem um projeto em andamento.

O grupo é mais seleto do que o dos países com porta-aviões, tipo de embarcação presente nas marinhas de dez nações atualmente.

SUBMARINOS
Segundo o contra-almirante Pagano Júnior, o submarino brasileiro será montado no estaleiro em construção nas proximidades do Porto de Itaguaí, às margens da Baía de Sepetiba, no litoral sul do Rio de Janeiro. Na área, também será implantada uma base naval. A estimativa da Marinha é que os empreendimentos sejam finalizados em meados de 2015.

Ao todo, serão investidos € 6,7 bilhões (cerca de R$ 15,4 bilhões, com base na cotação de ontem) na implantação de todo o projeto. Esse montante inclui os gastos com a construção da base naval, do estaleiro, do submarino nuclear (sem o reator) e de quatro submarinos convencionais. Estes últimos vão substituir os que a Marinha tem hoje e já estão com idade avançada – Tupi, Tamoio, Timbira, Tapajó e Tikuna. O primeiro deve ser lançado ao mar em 2017.

Assim como o submarino nuclear, os convencionais serão fabricados a partir de um contrato firmado com a França em 2008. Pelo acordo, os franceses são responsáveis pela construção dos equipamentos e da tecnologia não-nuclear.

MOTOR
A principal diferença entre os submarinos convencionais e os de propulsão nuclear está no motor. Enquanto o primeiro se movimenta graças a um motor a diesel, o segundo utiliza um reator nuclear.

O submarino brasileiro não usará armamento nuclear. Isso se deve, principalmente, ao Tratado de Não- Proliferação Nuclear (TNP), assinado pelo País em 1968 e que impede a uso dessas armas pela nação.

De acordo com o contra-almirante Pagano Junior, a construção de um submarino nuclear garante à Marinha novas condições para defender o mar territorial brasileiro. Para ele, a embarcação é um instrumento de trabalho de qualidade e eficiência. "É mais ou menos como você defender o seu forte apache com arco e flecha e, em seguida, passar para armas de fogo", exemplificou.

São as características do motor que asseguram as principais vantagens dessa embarcação. O equipamento permite que o submarino permaneça meses submerso e ainda atinja uma maior velocidade. Os diferenciais são essenciais no caso de fuga ou perseguição a um inimigo. O tempo que ele ficará embaixo d'água dependerá apenas do estresse da tripulação.

"A vantagem do submarino em um conflito é que ele não é detectável enquanto está submerso. Já quando está fora, é totalmente vulnerável. O tempo de submersão é a proteção do submarino", explicou.

O oficial reiterou ainda que o submarino é um fator inibidor para possíveis inimigos. "Do ponto de vista do que se entende que é o poder naval, o exercício da capacidade de defender, o submarino é peça fundamental".

Tripulação é selecionada entre militares voluntários
A seleção dos tripulantes para os submarinos militares, tanto os convencionais como, futuramente, o nuclear, é feita por regime de voluntariado, explicou o contra-almirante Luciano Pagano Junior. Segundo ele, para ser um bom profissional a bordo deste tipo de embarcação, é preciso querer, já que oficiais e marinheiros são submetidos a um elevado estresse psicológico.

No caso específico do submarino nuclear, é justamente o comportamento da tripulação que determinará quanto tempo ele ficará submerso. Normalmente, a embarcação fica meses embaixo d'água, para a realização de missões. E para que os militares estejam preparados, será aplicado um treinamento bastante rigoroso, que vai durar mais de um ano.

"Eles precisam estar aptos a viver com companheiros, com uma tripulação que varia entre 50 e 80 homens, dependendo do tipo de submarino. E isso intimamente, pois é um espaço muito pequeno e limitado para compartilhar com essas pessoas o dia a dia",disse o contra-almirante.

A Marinha já iniciou o processo de seleção para a tripulação. A preparação incluirá testes em câmaras hiperbáricas (onde a pessoa é submetida a uma pressão elevada) e missões em submarinos convencionais. "Tem toda uma cultura que é criada para que paulatinamente ele esteja preparado".

Além do estresse psicológico, os tripulantes de um submarino nuclear costumam sofrer com o estresse profissional, informou Pagano Junior. Isso porque cada um tem sua função específica, executada sob o risco de "por a perder todos os tripulantes". "Manobras erradas significam um grande desastre. É uma profissão estressante", destacou.

A principal diferença no treinamentodas equipes de embarcações com propulsão nuclear está na parte técnica, ou seja, em como operar o reator com segurança. Nessa área, o Brasil conta com o apoio da França, parceiro do País na construção desse submarino. Segundo o contra-almirante, "há um acordo com a França que visa não treiná-los (os tripulantes) lá, mas sim, obter informações que permitam reproduzir esse treinamento no Brasil, com base na experiência de quem já faz isso há 20 anos".

O centro de treinamento para aplicar essas instruções foi concluído em Aramar no ano passado. A parte prática dessa qualificação terá aulas realizadas no complexo do reator, onde será testado o equipamento. A intenção é que o tripulante chegue a bordo com conhecimentos significativos, disse Pagano Júnior. "Aqui, ele será supervisionado, estará em um ambiente mais controlado para aprender a operar na prática o reator de verdade".

As dificuldades impostas aos tripulantes fará com que seja necessário um rodízio entre eles. Cada vez que o submarino retornar, um outro grupo embarcará em uma nova missão. "É para que se possa usufruir daquele submarino nuclear o máximo possível. É uma ferramenta muito cara. É prejuízo ficar parada".



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terça-feira, 27 de março de 2012

As disputas pela industrialização

Embora haja um certo senso comum favorável ao crescimento econômico, nada indica que exista consenso em torno da retomada firme da industrialização. Oligopólios estrangeiros, instituições financeiras, agraristas, ecologistas radicais, setores industriais específicos, alguns setores sindicais e mesmo governamentais, têm visões próprias sobre a industrialização que, na verdade, colocam empecilhos à sua implantação.

Os oligopólios estrangeiros instalados no Brasil consideram que a industrialização deve se limitar a preencher algumas lacunas produtivas ainda não presentes no país. E se opõem, fortemente, a que a industrialização amplie a concorrência nos setores onde exercem seu regime de oligopólio. As negociações com o México, em torno das importações de veículos, são um bom exemplo de como as multinacionais do setor operam para manter seu domínio no mercado interno, em prejuízo dos consumidores brasileiros. O governo está perdendo uma boa oportunidade para esclarecer o assunto, ao não dar as explicações necessárias, nem divulgá-las como merecem.

As instituições financeiras preferem continuar lucrando em cima do dinheiro fictício e da especulação de curto prazo, ao invés de investirem nos setores produtivos industrias, de retorno menor e de mais longo prazo. Uma parte dos agraristas está convencida de que o agronegócio é quem realmente oferece condições para o Brasil se desenvolver, e luta para que o governo continue financiando o setor com taxas subsidiadas. Outra parte supõe que a agricultura familiar é a que oferece as condições para um desenvolvimento ambientalmente sustentável, além de garantir a seguridade alimentar, e simplesmente se opõe a que os investimentos se dirijam à industrialização.

Os ecologistas radicais se opõem ao desenvolvimento industrial porque consideram que essa forma de desenvolvimento é ambientalmente destrutiva, está historicamente superada, e deveria ser substituída por outro modelo, que não sabem bem qual é. Os diferentes setores industriais aprovam a industrialização, desde que seus setores sejam os principais beneficiados. Uma parte dos sindicalistas também embarca num ponto de vista idêntico. E setores do governo, embora sinalizem positivamente para a necessidade da industrialização, impõem embaraços à sistematização de um plano estratégico que conforme uma força social e política consistente em apoio a ela.

Para se ter uma idéia de quanto estamos atrasados nessa questão estratégica para os destinos do país basta passar uma vista sobre os planos existentes. Em geral, eles desdenham a experiência histórica de que, em qualquer processo de industrialização, deve-se ter como pressuposto a necessidade de um certo equilíbrio entre os setores fabricantes de bens de consumo, os setores fabricantes de equipamentos para a produção de bens de consumo e os setores fabricantes de máquinas ferramentas para a produção de equipamentos.

Um país que não produz máquinas/ferramentas para a fabricação de máquinas e equipamentos industriais, agrícolas e de serviços certamente permanecerá dependente de outros países industriais. Pode até conseguir um alto grau de desenvolvimento na fabricação de equipamentos e de bens de consumo. Porém, especialmente nesta era em que as ciências e tecnologias se transformaram nas principais forças produtivas a serviço dos homens, a dependência externa de máquinas ferramentas imporá um pedágio crescente ao desenvolvimento industrial e econômico interno.

Esta é uma das principais fraquezas da indústria brasileira. São muito poucas as empresas locais fabricantes de máquinas ferramentas, não somente de última geração, mas também de gerações intermediárias. Algo idêntico ocorre com a fabricação de equipamentos produtores de bens de consumo. Neste caso, muitas empresas brasileiras fabricam tais equipamentos, ou podem fabricá-los, mas nem sempre a preços competitivos em virtude do chamado Custo Brasil. Embora boa parte dos empresários acuse os salários por esse Custo, ele na verdade tem por base os altos juros, o câmbio valorizado e, em parte, um sistema de proteção comercial aos preços administrados das empresas oligopolistas.

Se existem planos que atendam à necessidade de superar essas fraquezas, eles devem estar enfurnados em alguma repartição e são do conhecimento de poucos. Se não existem, o que é mais provável, eles fazem uma falta importante para a criação de uma força social e política, que abranja os trabalhadores, a pequena burguesia urbana e rural, e setores da burguesia nacional, e possa desempenhar um papel determinante no desenvolvimento soberano do país.

Se Juscelino Kubitscheck, no final da década de 1950, conseguiu fazer isso com seu Plano de Metas, que afinal era um plano de abertura indiscriminada aos capitais estrangeiros e de implantação de uma industrialização torta, por que um governo dirigido pela esquerda não é capaz de fazer algo idêntico, mas com uma abertura ao exterior que tenha um viés definido de nacionalização e de democratização, e com uma industrialização em que o setor de fabricação de máquinas ferramentas de nova e alta tecnologia tenha destaque especial?

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Do Página13

“Coronel Redl”, de István Szabó, 1985

  “Coronel Redl”, de István Szabó, 1985 – Império Austro-húngaro, final do século XIX, início do século XX. Um menino de origem humilde, Alf...