segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Significado da Ação do BRASIL no Acordo do IRÃ Sobre Troca de Material Nuclear

Existem eventos que marcam o processo histórico, por que são pontos culminantes de grandes fluxos de poder, de idéias e de movimentos de países na ordem internacional.
Recentemente acompanhamos acontecimentos que tiveram forte significado histórico global, são paradigmáticos e estão concatenados:
- Em 2008 a quebra do sistema financeiro americano, foi um marco, significou o declino do poder e dinâmica dos EUA.
- Também em 2008 a impressionante olimpíada em Pequim trouxe em si a emergência de uma nova potência global.
- Em 2010 tivemos a crise financeira grega, que trouxe no bojo o ocaso do Euro, a idéia e a força da União Européia ficaram comprometidas.
- Agora presenciamos a vitoriosa mediação brasileira com participação da Turquia para alcançar um acordo com o Irã sobre uma parte de seu programa nuclear.
Hoje o mundo está sujeito a uma hegemonia dos EUA+OTAN, com amplo predomínio dos EUA, mas este jogo sempre será de confrontações de forças relativas, e o resto do mundo migra lá e cá entre sucumbir, confrontar, esgueirar-se ou construir novas alternativas.
Este processo é rico, diverso e não linear, e nenhum país tem obrigação ou vai seguir um ou outro caminho, e a história é pródiga em apresentar movimentos inusitados.
O caso do Irã é marcante, é um caso direto de ação imperial dos EUA+OTAN, tratam de tentar levar o Irã ao colapso, maquinam uma troca de regime (similar ao que os EUA fizeram nos anos 50, derrubando o governo eleito do Irã e instalando o Xá).
É muita coisa em jogo, o domínio do Irã é um objetivo consolidado dos EUA, que tem como diretriz estratégica desde 1930, controlar as fontes de petróleo, para suprir as demandas de sua economia e forças armadas, assim como viabilizar o controle estratégico global.
Já está se tornando consenso que o mundo está entrando no pico petrolífero, em alguns anos a produção de petróleo entrará em um descenso inexorável, com seríssimos impactos na economia e poder mundiais.
Vem daí o movimento incisivo dos EUA+OTAN para o controle das reservas existentes, e o Irã é chave nesta questão pelo tamanho de suas reservas de petróleo e gás.
Não devemos esquecer que a força dos EUA também reside na força de sua moeda, hoje sendo sistematicamente substituída nas trocas internacionais, o Irã por sua vez trata de vender seu petróleo em outras moedas que não o dólar, no seu próprio interesse nacional.
Lembremos um evento de poucos anos atrás, o caso do Iraque, também possuidor de grandes reservas de petróleo, que também decidiu parar de vender em dólares, da mesma forma foi montada uma coalizão político midiática similar a atual contra o Irã, também baseada em um monte de mentiras sobre armas de destruição em massa.
Assim, demonstra-se que pouco importa o que o Irã faça, diga ou tenha, o objetivo do jogo é quebrar o país e substituir seu governo por outro submisso aos países do norte.
Após meses de forte pressão dos EUA para que o Irã acedesse a troca de material nuclear fora do seu território, no mesmo instante que foi anunciado o acordo pelo Brasil, Turquia e Irã, os EUA+OTAN apressaram-se a dizer que isto não importa, que os motivos e necessidades de novas sanções ao Irã permanecem.
Aí está o ponto nevrálgico da questão, tamanha a força dos interesses calcados nos projetos estratégicos dos EUA+OTAN, o que não é pouco, nosso país, na ação de nosso hábil e carismático presidente, realiza um acordo que destrói grande parte da retórica belicista contra o Irã.
Esta realidade pesadíssima do jogo de poder mundial é sintetizada no semblante fechado do Lula nos dias desta vitória diplomática espetacular de seu governo.
Este é grande significado histórico deste evento, o Brasil, um país com uma história de 500 anos de prática submissão à hegemonia de europeus e americanos, da um passo ousado e altamente independente, rasgando parte da estratégia das grandes potências, construindo um consenso de entendimento na direção da paz e da independência dos países periféricos.
Dá para apostar que de quebra o homem ainda vai ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
Não nos esqueçamos o que é ser força hegemônica – EUA -, mais que poder militar, vale o poder político de influenciar o resto do mundo, calcado entre outra coisa num arsenal de armas midiáticas de destruição em massa, onde a grande mídia nacional é apenas mais um de seus cães de guerra.
O consenso contra o Irã foi artificialmente fabricado pelo arsenal americano de mídia, é de sentir vergonha ver as empresas de comunicação do Brasil repetirem incansavelmente os argumentos e estratégias americanas, contra até os interesses do nosso próprio país.
Neste evento o Lula provou-se um estadista, contrário a fácil opção política de acomodação interna e externa, nosso presidente deu um passo inusitado e arriscadíssimo, e ganhou, provou suas qualidades políticas, seu brio, o que vai reverberar por longo tempo, foi um acontecimento de perfil histórico mundial.

Um comentário:

  1. Waltinho,

    Lula foi muito bem nesta questão,demonstrou mais uma vez toda sua habilidade politica,devo reconhecer.
    Se tudo correr como o esperado,é licito afirmar que será forte concorrente ao Nobel!

    grande abraço

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