domingo, 25 de dezembro de 2016

O Melhor Filme Sobre O Movimento OperáRio Em Todos Os Tempos



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Assista No Blogue Do NáUfrago Ao Melhor Filme Sobre O Movimento OperáRio Em Todos Os Tempos
// Náufrago da Utopia



Trata-se de Os companheiros (1963), de Mario Monicelli, com Marcello Mastroianni no papel de um professor militante que vai ajudar os operários de uma indústria têxtil de Turim a realizarem sua primeira greve contra a exploração extrema a que eram submetidos no final do século retrasado. 


Na década de 1960, conheci a fábrica no qual meu pai trabalhou durante a vida inteira (o Cotonifício Crespi, um dos primeiros marcos da industrialização de São Paulo, no bairro paulistano da Mooca) e era praticamente idêntico ao mostrado no filme: enorme, mal iluminado, mal ventilado, com uma poeira sufocante que me fez tossir instantaneamente. Quando assisti a Os companheiros, logo me ocorreu que era enorme o atraso brasileiro, a ponto de nossas indústrias se parecerem tanto com as da Europa de quase sete décadas atrás.




Outra lembrança marcante é a de que, quando nossa Frente Estudantil Secundarista começou a pegar no breu em 1968, negociei com o cinema de arte Bijou (na praça Roosevelt, centro de São Paulo) a realização de sessões de Os companheiros nas manhãs de domingo. Exibíamos o filme para os jovens recrutas e promovíamos rápidos debates no final, como parte do programa de conscientização política. 


Aproveito para incluir a apresentação deste filmaço no excelente blogue português My Two Thousand Movies, do meu amigo virtual Francisco Rocha:  


O cenário é uma fábrica têxtil em Turim, no final do século XIX. Cerca de 500 trabalhadores suportam turnos de 14 horas, debaixo de situações extremas, desde o calor, poeira, o perigo de sofrer um acidente de trabalho, e são mal pagos. Um dos trabalhadores fica com a mão mutilada por uma máquina, situação que serve de impulso para que os outros, pelo menos, pensem mudar as condições de trabalho. 




Talvez graças à sorte ou ao destino, um professor e socialista chamado Sinigaglia (Marcello Mastroianni) está de passagem pela cidade (em fuga de crimes políticos), e oferece uma ajuda na organização dos trabalhadores. Segue-se uma greve, que se arrasta por várias semanas, testando a vontade dos trabalhadores...


Esta sinopse faz o filme parecer mais um melodrama sobre as más condições das classes trabalhadoras. Na realidade, é muito mais do que isso, e o que o faz ser tão brilhante e surpreendente é a forma como é apresentado, tornando-o também numa obra de entretimento. 

Além da tragédia, também há um pouco de romance, comédia, farsa, comentário social. O argumento e o trabalho de realização fazem um trabalho magistral, ao desenvolver várias personagens em vários sub-plots numa história bastante multidimensional. 


A maioria dos filmes politicamente orientados são polêmicos, o que por vezes os distancia do grande público. I Compagni é tão envolvente, tão animado, tão cheio de personagens vibrantes, que o aspecto da mensagem da história funciona a um nível quase sublimar.


Mario Monicelli (mais conhecido no território da comédia) e o produtor Franco Cristaldi tiveram de ir até à Iugoslávia para encontrar uma fábrica em pleno funcionamento, com as suas dezenas de teares movidos por um motor a vapor, e ativados por eixos de transmissão. O edifício da fábrica parece um acidente prestes a acontecer. Com figurinos e cenários tão rigorosamente preparados e um look típico do século XIX a ser muito bem mantido, desde os quartos baratos alugados pelo trabalhadores, aos restaurantes chiques onde Niobe (Annie Girardot) encontra os seus clientes.



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O Filme Definitivo Sobre "O Pinochetazo".



Assistam Ao Filme Definitivo Sobre O Pinochetazo. é De Arrepiar!
// Náufrago da Utopia



Chove sobre Santiago (Il pleut sur Santiago, 1975) é um filme superlativo, simplesmente obrigatório para quem quer entender o ciclo das ditaduras direitistas instaladas na América Latina, com beneplácito estadunidense, nos anos 60 e 70. 


Mostra o desencadeamento do  pinochetazo no dia 11 de setembro de 1973, seus antecedentes desde a vitória eleitoral da Unidade Popular (incluindo o acalorado debate no seio das forças direitistas, sobre a aceitação ou não do veredicto das urnas), as realizações do novo governo, a escalada de sabotagem que foi sofrendo, o golpe e o banho de sangue subsequente.


A opção pelo drama histórico  (ao invés de um simples documentário) foi felicíssima: o diretor chileno Helvio Soto conseguiu prender a atenção dos espectadores com uma narrativa tensa, contundente e emocionante, sem prejuízo dos aspectos didáticos do filme, que se propunha a esclarecer o mundo sobre o que realmente aconteceu no Chile.


É de arrepiar a sequência do assassinato do grande Victor Jara num estádio de futebol utilizado como centro de detenção de milhares de prisioneiros políticos. Desafiado pelos militares golpistas a cantar para seu público lá presente, ele ousadamente o fez, até ser morto (não a coronhadas, como se dizia na época em que o filme foi feito, mas a tiros, tendo uma autópsia efetuada em 2009 constatado marcas de 44 disparos --as mãos, sim, foram esmagadas pelas coronhas dos soldados). 


Idem a do enterro do Prêmio Nobel de Literatura Pablo Neruda, de câncer de próstata e muito mais de desgosto, dez dias após o golpe. É difícil conter as lágrimas ao vermos os acompanhantes, em meio a todo aquele desalento e intimidações, no auge do terror fascista, terem forças e coragem para gritar: "Companheiro Neruda? Presente! Agora e sempre!".




Idem a do último discurso de Allende, consciente de que a morte era inevitável, depois de ter recusado a oferta de lotar um avião com seus seguidores mais próximos e partir para o exterior.


O título do filme é a senha utilizada pelos golpistas para informar a seus cúmplices do país inteiro que era aquele o momento de estuprar as instituições. As rádios noticiavam a cada momento que chovia sobre Santiago, embora tal não estivesse ocorrendo.


Destaque para as magníficas atuações dos atores consagrados que colaboraram solidariamente para a viabilização do projeto de Soto -- Jean-Louis Trintignant, Bibi Andersson, Annie Girardot, Riccardo Cucciolla e Bernard Fresson, dentre outros-- e para as músicas inspiradíssimas de Astor Piazzola.


Recomendo fortemente aos leitores que não deixem de ver Chove sobre Santiago, mesmo com uma qualidade de imagem menos satisfatória que da habitual. 


E, para quem quiser saber mais sobre o sangrento golpe de estado que extirpou um dos mais belos experimentos socialistas de nosso continente, recomendo este esclarecedor artigo do repórter e documentarista australiano John Pilger.

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A imagem não é das melhores, mas vale a pena assistirmos mesmo assim.



“Coronel Redl”, de István Szabó, 1985

  “Coronel Redl”, de István Szabó, 1985 – Império Austro-húngaro, final do século XIX, início do século XX. Um menino de origem humilde, Alf...