quarta-feira, 30 de abril de 2025

A epopeia da dialética viva


Quando o primeiro clarão rompeu a eternidade imóvel, o mundo era apenas poeira e esquecimento.

A história parecia adormecida, mas no ventre do concreto germinava a centelha da mudança.
Dos confins da Terra Velha ergueu-se a Classe Errante, fragmentos dispersos de um sonho ainda sem nome.

O Portador da Negação, voz de vento e relâmpago, ensinou a primeira lei da travessia: um passo atrás, dois para avançar.
Sabiam que o caminho não se desenha na linha reta dos covardes, mas na espiral ascendente dos que desafiam o próprio tempo.

Cada gesto exigia ser forte na luta, cada pensamento carregava o peso e a luz dos valores que resistem sob o ferro da história.
Ressentimento e passividade não são apenas palavras, mas sementes endurecidas pelo frio da servidão.

Marchavam sob a fúria dos desertos, onde utopias fantasias se erguiam como miragens.
Atravessavam aparições de glórias fáceis, rostos sem rosto e promessas que evaporavam ao toque da vida real.

O tempo, capataz e escultor, não cessava seu golpe.
Cada queda, cada renúncia, cada insurreição era um elo da corrente da negação da negação — destruir para criar, negar para afirmar, morrer para renascer mais forte.

Não buscavam a unidade morta dos servos, mas a viva e consciente una total idade, onde cada um fosse parte e potência de um corpo que se move inteiro.

Sabiam que fora do poder tudo é ilusão e toda ilusão é poder de sedução.
E que os símbolos não salvam: o fetiche de bandeiras e palavras não substitui o ferro do trabalho consciente.

No centro da marcha, ergueu-se o Senhor da Conquista, avatar da vontade coletiva, que proclamava:

— Trabalho é vida!
— Do trabalho nasce a classe. E do trabalho a classe faz seu destino
— Da classe, a potência de transformar o mundo!

Pela vontade fazer o chão tremer — a classe em ação se movia como maré crescente, avassaladora.
Não como engrenagem, mas como artífice da própria liberdade.

E cada embate, cada reorganização nas trincheiras do real, compunha o drama da mudança, com sua beleza trágica e sua força criadora.

A luta exigia também resistir aos venenos internos.
O oportunista do poder, travestido de aliado, semeava a dúvida.
O esquerdismo pueril, filho de ilusões e da vaidade, golpeava o próprio chão.

A sombra do último homem espreitava: o egóico fragmentado, incapaz de pertencer sem anular-se, incapaz de ser mais do que si mesmo.

Era preciso forjar um novo pertencimento, onde a vontade seja a  chama comum, onde o ser singular encontrasse eco na coletividade motivada.

Sob os golpes do tempo, erguíamos estruturas idealizantes, ideias estruturantes, pontes lançadas sobre abismos ainda sem nome.

Cada avanço era uma transformação a desvendar, e cada vitória, um anúncio provisório: ainda havia mais a construir, mais a negar, mais a superar.

A meta do embate era clara: dobrar a história, vencer não só no sonho, mas no concreto.

Respirávamos o insenso incomum da luta, aquele que embriaga com lucidez, que ensina a dançar com as tempestades.

E sabíamos quem era o inimigo maior: o Capital, criatura de mil faces, alimentada pelas promessas que nunca se cumprem.

O Capital travestia-se de Estado e Capital, irmãos siameses que acorrentavam corpos e pensamentos.

Prometia pertencimento, mas distribuía solidão; ofertava segurança, mas semeava medo.
Soprava reais ameaças imaginárias, semeando fantasmas para paralisar corações.

A cada passo, a escolha era brutal: em ação ou em distração.
O tempo não perdoa os adormecidos.

Edificamos então uma base estratégica, fundação invisível que resistiria ao vendaval.
Pois sabíamos que vem fácil, vai fácil, e que só o que é cravado na carne do real perdura além do instante.

Travávamos a batalha nos campos cruzados do trabalho e do Estado, onde cada centelha de consciência era uma conquista.

Classe e consciência marchavam juntas, unidas na dor e na esperança.

Desmascarávamos a máscara da política, rasgávamos o véu das falsas promessas, recusávamos a servidão dourada.

E foi no fogo do embate que o revolucionário em ação se ergueu — não como herói isolado, mas como expressão viva da vontade coletiva.

Marchava porque entendia que o destino à política amarra, mas que a política só vale se for arrancada do ventre ardente da classe em movimento.

O tempo na ampulheta virava, e cada grão era um passo conquistado.

Compreendíamos que a parte e o todo não se excluem: se constroem, se negam, se superam.

Era necessário dobrar o concreto.
Era necessário agir.
Era necessário vencer.

E assim marchávamos, não pela glória vazia, nem pela promessa de um messias, mas pela certeza de que só a ousadia escreve a história.

Marchávamos, e ainda marchamos.
Marcharíamos mesmo que o céu se fechasse e a terra tremesse.
Pois sabíamos, no fundo dos ossos e dos sonhos:
o impossível pertence àqueles que ousam negá-lo.

 

Este conto agrega o conteúdo do livro “Engajarte – Uma Poesia na Mão para Fazer a Revolução”, disponível no link.

domingo, 20 de abril de 2025

Privatização da CELEPAR: Quem Ganha e Quem Perde?

 Por Walter Azevedo

A proposta de privatizar a CELEPAR, empresa pública que cuida dos sistemas de informática e dos bancos de dados do Estado do Paraná, é mais uma operação obscura que vamos tentar esclarecer neste artigo. Enquanto o governador do Paraná tenta vender mais um patrimônio que não é seu, a realidade é que o grande beneficiário dessa privatização não será o estado nem a população paranaense, mas sim os empresários que comprarem a CELEPAR. Eles receberão uma empresa sólida, com contratos garantidos com o governo e prestarão serviços que não tem preço padronizado ou comparativo, esta situação pode ser mais uma porta de entrada para corrupção governamental, neste jogo parece que só tem alguns perdedores bem definidos: a classe trabalhadora e o desenvolvimento do Paraná.

















Imagem: Celepar por José Fernando Ogura

 

A História da CELEPAR: Uma Trajetória de Serviço ao Paraná

 

A CELEPAR foi criada em 1971, há mais de 50 anos, com a missão de modernizar e integrar os sistemas de informática do estado. Desde então, a empresa tem sido fundamental para o desenvolvimento do Paraná, garantindo que órgãos públicos como hospitais, escolas, polícia e secretarias tenham sistemas de tecnologia eficientes, seguros e a um custo baixo.

Ao longo das décadas, a CELEPAR foi responsável por conquistas importantes. Nos anos 1980 e 1990, a empresa implementou sistemas de processamento de dados que ajudaram a organizar a folha de pagamento dos servidores, a contabilidade do estado e o controle financeiro. Nos anos 2000, a CELEPAR foi essencial para a implantação da internet no Paraná, conectando órgãos públicos e levando acesso à informação para a população.

Além disso, a CELEPAR desenvolveu sistemas importantes para áreas como saúde, educação e segurança. Por exemplo, a empresa criou sistemas que ajudam a gerenciar leitos hospitalares, matrículas escolares e até o combate ao crime. Esses sistemas são usados diariamente por milhares de pessoas e empresas e são fundamentais para o funcionamento do estado e o serviço a população.

 

Quem Ganha com a Privatização?

Os verdadeiros ganhadores da privatização da CELEPAR serão os adquirentes da empresa. A CELEPAR é uma empresa pública que já funciona bem, com infraestrutura pronta e contratos garantidos com o governo do estado. Quem a comprar receberá um negócio lucrativo, com poucos riscos e muita garantia de retorno financeiro. Para esses empresários, o objetivo será simples: reduzir custos ao máximo com corte e redução se serviços conforme feito em toda privatização. Isso significa que eles podem cortar empregos, reduzir a qualidade dos serviços e ignorar projetos de desenvolvimento que a classe trabalhadora e pelo governo do Paraná necessitem ou venham a construir, pois será uma empresa privada que será regida apenas o pelo projeto particular de seu novo proprietário.

 

 

Quem Perde com a Privatização?

O Estado do Paraná:

            O governo perderá a propriedade e o controle sobre os sistemas de informática e os bancos de dados que são essenciais para o funcionamento do estado. Isso inclui dados de saúde, educação, segurança e impostos. Sem controle, o estado ficará dependente de uma empresa privada, que pode definir os preços e impor suas condições.

 

Os Cidadãos Paranaenses:

            A população vai sentir a precarização de mais um serviço que hoje é público. Uma empresa privada pode cortar custos para aumentar lucros, o que pode resultar em sistemas mais lentos, menos seguros e menos eficientes. Além disso, os dados pessoais dos cidadãos ficarão mais vulneráveis a vazamentos e uso indevido.

 

Os trabalhadores:

A privatização costuma levar a demissões em massa, reestruturação de cargos e carreiras com redução de benefícios, o que contribui para o acirramento ainda maior da situação de trabalho para todos os trabalhadores, pois é mais uma empresa nivelando por baixo as condições de emprego.

 

Problemas da Privatização

 

Segurança dos Dados

Riscos: A transferência de bancos de dados sensíveis (como dados de saúde, educação, segurança e tributação) para uma empresa privada pode aumentar o risco de vazamentos, a própria venda dos bancos de dados ou uso indevido dessas informações. Hoje o ativo mais valioso para o mercado de tecnologia de informação são os dados de pessoas e empresas, que com a CELEPAR são de propriedade, responsabilidade e gestão do estado.

 

Custos Financeiros

Aumento de Custos: Empresas privadas operam com fins lucrativos, o que pode levar a custos mais altos para o governo e, consequentemente, para os contribuintes. Isso inclui taxas de desenvolvimento, licenciamento, manutenção e atualizações de sistemas. Se o governo necessitar de sistemas especializados para análise e decisões complexas relativos a programas de desenvolvimento, daí o céu será o limite para a definição dos preços.

 

Controle e Transparência

Perda de Controle: O governo perderia o controle direto sobre os dados, o que poderia dificultar a tomada de decisões estratégicas e a implementação de políticas públicas. Inclusive, a gestão privada pode limitar o acesso público a informações, especialmente se houver interesses comerciais envolvidos ou brechas legais para negação de acesso a dados. A privatização cria dependência de empresas privadas, muitas vezes multinacionais, o que pode comprometer a soberania do estado sobre seus dados.

 

Internacionalização: Como os bancos de dados e o próprio processamento serão migrados para data centers privados, a empresa poderá decidir operar em data centers localizados no exterior, causando uma perda de soberania sobre os dados e inclusive perda dos dados e seu bloqueio por conta de disputas e conflitos internacionais.

 

Qualidade do Serviço

Eficiência: Uma empresa privada pode trazer inovações e eficiências, o que não é garantido, mas terá que priorizar o lucro(o que é líquido e certo) em detrimento da qualidade do serviço.

Continuidade: Há o risco de interrupções ou descontinuidades no serviço, especialmente se houver mudanças de fornecedores ou conflitos contratuais, ou embates internacionais.

 

Impacto Social

Acesso à Informação: A privatização pode limitar o acesso a dados públicos, especialmente para populações mais vulneráveis, se houver custos associados ao acesso.

 

Por que a CELEPAR pública é o melhor para o Paraná?

 

A CELEPAR, como empresa pública, tem uma missão clara: servir ao estado e à população. Ela não precisa gerar lucros para acionistas, o que permite reinvestir seus resultados em melhorias para o Paraná. Além disso, como empresa pública, a CELEPAR está sujeita a regras de transparência e controle, o que garante que os dados dos cidadãos estejam seguros e que os serviços sejam prestados sob a responsabilidade de um governo eleito.

 

Em vez de entregar uma empresa estadual sólida e estratégica para o setor privado, o governo pode investir na CELEPAR, fortalecendo sua capacidade de inovação e garantindo que ela continue a servir aos interesses do Paraná. Mas o atual governo não tem projeto de desenvolvimento do estado, sua linha política é apenas proporcionar oportunidades de negócios fáceis para pequenos grupos privados e assim segue na privatização da COPEL, SANEPAR, Escolas e presídios.

 

Conclusão

 

A privatização da CELEPAR é um mau negócio para o Paraná. Quem ganha são os empresários que comprarem a empresa, com contratos garantidos e lucros facilitados. Quem perde é o estado e a população, que ficarão reféns de uma empresa privada com interesses particulares, onde o projeto de desenvolvimento do estado do Paraná pode se tornar uma ameaça para seus negócios. A CELEPAR deve continuar pública, servindo ao estado e à população, e não aos interesses de poucos empresários. Privatizar a CELEPAR é entregar um patrimônio do Paraná, são os dados de cidadãos, do estado e de empresas que vão deixar de ser articulados em benefício do desenvolvimento público. A privatização da CELEPAR vai consolidar o interesse privado e particular de poucos, degradando mais um grande sistema público construído em décadas de trabalho e investimento do povo trabalhador do Paraná.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Vencer na Grande Política é Possível?

No contexto que vivemos, marcado por mudanças rápidas e avassaladoras, onde a luta por dominância continua sendo o motor das ações humanas, surge um livro que não se contenta em apenas descrever a realidade, mas que se propõe a transformá-la. Como Vencer na Grande Política: Classes sociais e suas lutas: é uma obra que desafia o leitor a ultrapassar a passividade e a assumir o controle de seu destino histórico. Mais do que um livro, é um chamado à ação, um guia para aqueles que desejam entender as regras do jogo social e, sobretudo, vencer a batalha da sua classe trabalhadora.




O autor parte de uma premissa contundente: a vitória política não é obra do acaso, mas resultado de movimentações conscientes e estratégicas das classes sociais. Vivemos, segundo ele, o crepúsculo do capitalismo, um sistema que, embora aparentemente sólido, carrega em si as sementes de sua própria destruição. Mas para que essa transformação ocorra, é necessário que a classe trabalhadora compreenda as dinâmicas do poder, as armas ideológicas usadas para mantê-la subjugada e, acima de tudo, assuma sua missão histórica como agente revolucionário.

O livro não se limita a teorias abstratas. Ele é um manual prático, um instrumento de luta que combina a profundidade teórica de pensadores como Marx, Engels, Lênin e Nietzsche com a urgência das demandas contemporâneas. O autor nos convida a navegar pelo "rio da vida", mas não como meros espectadores que flutuam à deriva. Em vez disso, ele nos instiga a tomar o leme do barco, a enfrentar as correntezas do devir histórico com determinação e inteligência, rumo a um futuro determinado por nossas decisões.

Uma das grandes contribuições desta obra é a clareza com que expõe os mecanismos de dominação capitalista. O autor desvenda como a classe dominante mantém sua hegemonia através do controle ideológico, da manipulação do senso comum e da perpetuação de uma cultura de subordinação. Mas ele não se detém na crítica. Ao contrário, oferece ferramentas concretas para que os trabalhadores possam romper essas cadeias e construir uma nova realidade.

O livro também resgata a importância da consciência de classe. Para o autor, a revolução começa dentro de cada indivíduo, na percepção de si mesmo como parte de uma coletividade que compartilha interesses e aspirações comuns. Essa consciência, porém, não é um fim em si mesma, mas o ponto de partida para a ação transformadora. Como escreve Étienne de La Boétie, citado na obra, "Tomai a resolução de não mais servirdes e sereis livres". A libertação, portanto, não é um presente, mas uma conquista que exige coragem, organização e determinação.

A Vitória na Política é, acima de tudo, um livro motivador para a ação. Ele nos lembra que a classe trabalhadora já venceu batalhas importantes ao longo da história e que pode voltar a vencer. Mas essa vitória não será alcançada por meio de atos isolados ou por mero voluntarismo. Ela exigirá a união de forças, a construção de uma identidade coletiva e a adoção de estratégias claras e eficazes. O autor nos convida a abandonar a derrota passiva e a assumir uma postura ativa, transformando-nos de meros espectadores em protagonistas da história.

Para aqueles que se sentem desorientados diante das complexidades do mundo moderno, este livro é um farol. Ele oferece não apenas um diagnóstico preciso dos problemas que enfrentamos, mas também um caminho claro para superá-los e que nós, a classe trabalhadora, temos o poder de construí-lo.

O livro Como Vencer na Grande Política não é apenas uma leitura, é um convite à revolução. E a revolução começa agora, com você.

Como Vencer na Grande Política: Classes sociais e suas lutas

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Escala 6X1 - Reforma e Revolução

Por Walter Azevedo 

De repente entramos em uma quadra histórica de rara oportunidade para a classe trabalhadora organizada. Este processo começou com um trabalhador do Rio de Janeiro, sem militância tradicional nem formação política, que inicia um movimento contra a escala de trabalho a que ele mesmo era submetido, uma jornada de seis dias de trabalho para um de folga.

A iniciativa de Rick Azevedo ganha corpo e surge um novo e forte movimento político que coloca as leis da jornada de trabalho no centro do embate entre a classe trabalhadora e a classe do capital.

A lutas da classe trabalhadora avançam com ganhos lentos e retrocessos sistemáticos, as oito horas de trabalho diário foram conquistadas em 1934 e o último ganho significativo foi em 1988 com a redução a jornada semanal para 44 horas.

De outro lado a produtividade do trabalho cresceu fortemente com o desenvolvimento nos últimos 100 anos, ao mesmo tempo em que a remuneração do trabalho se reduziu ao longo do tempo com é demonstrado na tabela abaixo:

 

Tabela relacionando Trabalho, Produção e Remuneração do Trabalho desde 1985:

Ano

Empregados

Formais

(milhões)

PIB Nominal 

(R$.trilhões)

PIB

Atualizado

(R$ trilhões)

 ano base 2023

Razão

PIB Atualizado

por Trabalhador

(R$ mil)

Massa Salarial

(R$ trilhões)

 ano base 2023

Razão

PIB / Massa Salarial

1985

20,0

0,2

1,5

75,0

0,3

5,0

1990

22,5

0,5

2,0

88,9

0,5

4,0

1995

25,0

0,8

2,5

100,0

0,8

3,1

2000

27,5

1,2

3,0

109,1

1,0

3,0

2005

30,0

2,1

3,5

116,7

1,2

2,9

2010

35,0

3,9

4,0

114,3

1,6

2,5

2015

40,0

5,9

4,5

112,5

2,0

2,3

2020

42,0

7,4

5,0

119,0

2,5

2,0

2023

43,0

10,0

5,5

127,9

3,0

1,8

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

O processo histórico da tabela acima explicado:

  • A produtividade do trabalho, representada pela razão PIB Real por Trabalhador, mostra um crescimento constante da produtividade ao longo do período dos últimos 40 anos.
  • Razão PIB Real / Massa Salarial Real: Representa o quanto a produção (PIB Real) avança mais que a massa salarial real. Indicando que o Trabalho gera mais produto em relação ao montante pago como salário, esta diferença demonstra o avanço da remuneração do capital as custas do trabalho.

 

Estes são os números reais da economia e da relação capital/trabalho e trabalho e produtividade, indicando que o Brasil avança como um paraíso para o empresariado capitalista com o esmagamento do trabalho que produz cada vez mais e recebe proporcionalmente menos como se demonstra no gráfico abaixo:

 



 

A evolução do gráfico esclarece acerca da natureza do sistema capitalista que organiza o trabalho e a remuneração do capital, é a situação real da relação entre capital e trabalho produtivo, onde a classe do capital hegemônica, mantém seu poder e consegue definir para onde vai a economia e quem são os ganhadores.

É este mecanismo que torna claro por que o Brasil é um dos países de maior concentração de renda e propriedade do mundo, isto é resultado da eficiência da exploração do trabalho pela classe empresarial.

Esta introdução demostra que a organização do trabalho está no centro da disputa social, tornando claro que a abolição da escala 6X1, é um ganho possível e uma vitória significativa, algo que trará um ganho geral para toda a classe trabalhadora principalmente para aqueles de menor remuneração.

Esta luta é tão importante quanto se observa que o grupo social que está submetido a esta escala 6X1 é uns dos maiores agrupamentos de trabalhadores, maior que qualquer seguimento profissional específico, ou seja, o potencial da força política dos que serão diretamente beneficiados pela superação desta escala é muito grande. São milhões de trabalhadores, estima-se que até metade da força de trabalho esteja nesta escala, os números objetivos são ocultados ou disfarçados pelo estado brasileiro.

A crua e dura realidade dos trabalhadores submetidos a escala 6X1 é ainda mais cruel quando se nota que os níveis salariais deste setor tendem a ser menor que de outras categorias, a rotatividade maior, menores benefícios extrassalariais, ou seja, são os trabalhadores em pior situação sob todos os aspectos.

Toda esta conjuntura coloca o potencial do embate contra o regime de trabalho mais duro e pior pago num patamar que poucas vezes é alcançado nas mobilizações populares, com pesquisas apontando até 70% de apoio ao fim da 6X1, com adesão que supera divisões ideológicas entre direita e esquerda.

A força do sentido de justiça e de viabilidade contra a 6x1 está disseminado na população e do lado da classe trabalhadora.

A escala 6x1 beneficia apenas o capital empresarial, enquanto exaure a força de trabalho e limita a capacidade dos trabalhadores de exercerem uma vida mais produtiva em termos sociais e profissionais, gerando consequências como:

- Compromete a saúde física e mental: Trabalhadores sofrem com desgaste crônico, aumentando casos de doenças ocupacionais e afastamentos.

- Destrói laços sociais: A falta de tempo para família, educação e lazer enfraquece relações sociais, familiares e comunitárias.

- Reduz a produtividade a longo prazo: Trabalhadores exauridos tornam-se menos produtivos e mais suscetíveis a erros e acidentes, com menos tempo e energia para estudo e desenvolvimento profissional.

 

Portanto, abolir o regime 6X1 é um passo fundamental para aperfeiçoar as relações de trabalho, a produtividade dos trabalhadores e avança na valorização do trabalho, contribuindo para o desenvolvimento geral do sistema econômico brasileiro e da qualidade de vida do trabalhador.

 A tática da luta, a meta principal, a hierarquia e a organização do processo que vai desde levantar a causa, formar uma base social e vencer a disputa via a consolidação de uma alteração legal deve ser construída de forma profissional e qualificada, o tema é de grande importância para a classe trabalhadora e está no centro das disputas entre capital e trabalho.

Neste sentido a consciência do foco na abolição da 6x1 que é a causa forte e motivante, que tem levantado apoio e motivação dentro da classe trabalhadora e ao mesmo tempo constrange às forças políticas do capital na sua defesa, temos que ser centrar todas as forças na pauta principal e mais forte, com maior apelo social e lutar para vencer com ela.

Esta é a oportunidade de um partido construir sua base social como o principal defensor de uma pauta relevante se atuar com profissionalismo e eficácia para vitórias materiais e objetivas para a nossa classe trabalhadora.

A lei que regulamenta a escala 6X1 está na CLT:    Art. 307. A cada seis dias de trabalho efetivo corresponderá um dia de descanso obrigatório, que coincidirá com o domingo, salvo acordo escrito em contrário, no qual será expressamente estipulado o dia em que se deve verificar o descanso.”

Ou seja, é uma “lei ordinária” que regulamenta esta escala e que pode ser alterada no Congresso Nacional por “maioria simples”, esta é uma meta concreta, objetiva e alcançável.

 

Oportunidades e Desafios no Campo Político

De outra parte a luta pela abolição da escala 6x1 expõe a necessidade de maior maturidade e pragmatismo político para as forças que querem conquistar esta demanda.

No intento de conquista da eliminação da escala 6X1 a deputada Erika Hilton(PSOL) apresentou uma proposta de alteração constitucional(PEC) que demanda 3/5 dos votos, ao invés de propor alteração da CLT, que exige apenas maioria simples. Essa abordagem reflete um idealismo que prioriza uma pretensa vitória moral simbólica em detrimento de conquistas materiais reais. Não bastasse isto, o problema foi agravado pela PEC propor a escala 4x3, dando um salto que de um lado diminui a base de apoio dos trabalhadores que veem viabilidade na proposta, quanto de outro, aumenta o leque de setores do capital afetados e contrários a nova escala. Estas atitudes seguem a tradição da esquerda idealista que pede muito para não conseguir nada.

Enquanto setores da esquerda moralista insistem em pautas ideológicas descoladas das demandas concretas, é crucial que o movimento pela abolição da escala 6x1 se mantenha focado em objetivos práticos e tangíveis. A dispersão para outras pautas tente a diluir a mensagem central, confundir o argumento, fragmentar a base de apoio e fragilizar a luta legislativa.

A abolição da escala 6X1 desemboca diretamente na conquista da escala máxima de 5X2, este é o ganho claro e imediato, é o concreto que está ao alcance das mãos, é a luta que a conjuntura nos oferece e não podemos deixar passar por falta de consciência tática.

 

Um Chamado ao Centro Tático

Movimentos com demandas claras e unificadas têm maior chance de sucesso. A luta pela jornada de 8 horas diárias, por exemplo, alcançou vitórias também por manter o foco no objetivo principal. Portanto, o movimento contra a escala 6x1 se fortalece quando:

- Centralizar a luta no concreto e material: A abolição da escala 6x1 é a pauta forte e mobilizadora.

- Evitar misturas de pautas: Questões adicionais ou de outra natureza só diluem a mensagem, esta misturada com outras demandas com apelo mais fraco só enfraquece o principal.

- Agitar setores direta e indiretamente afetados: Comunicar e mobilizar para algo relevante para a vida diária, de forma clara e inclusiva para mobilizar apoio, formar base social pelo reconhecimento da atuação e liderança.

- Fazer a propaganda da disputa entre classe do capital e classe do trabalho sobre jornada de trabalho.

- Trazer para a organização milhares de trabalhadores afetados e tocados pela ação.

 

Conclusão

A abolição da escala 6x1 não é apenas uma questão trabalhista, é uma luta política que desafia a hegemonia do capital sobre as condições de vida dos trabalhadores.

Esse movimento representa uma oportunidade de avanço direto e real para a classe trabalhadora, o sucesso depende da condução da luta com pragmatismo, foco e profissionalismo.

O momento exige dedicação, mas também maturidade estratégica. Temos que fazer da abolição da escala 6x1 um passo firme na formação de um novo partido que lidere a classe trabalhadora na construção de um projeto político de país para a nossa classe trabalhadora.

  

Referências:

CLT:  DECRETO-LEI Nº 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943

 1934: A Constituição Federal de 1934 foi a primeira a estabelecer um limite para a jornada de trabalho, fixando-a em 8 horas diárias1.

1943: Com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a jornada de trabalho foi regulamentada, incluindo direitos como férias anuais e descanso semanal remunerado2.

1988: A Constituição Federal de 1988 reduziu a jornada máxima semanal de 48 para 44 horas34. Essa mudança foi significativa para a proteção dos trabalhadores.

2017: A Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467) trouxe várias alterações, permitindo, jornadas diárias de até 12 horas, desde que seguidas por 36 horas de descanso5.

https://www.diap.org.br/index.php/noticias/noticias/92061-pesquisa-fim-da-escala-6x1-tem-apoio-de-70-da-populacao-e-supera-divisoes-ideologicas

Azevedo, Walter. Como vencer na grande política: Classes sociais e suas lutas. Curitiba: Appris, 2023.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Como Vencer na Grande Política: Classes sociais e suas lutas

 A vitória na política não é fruto do acaso e tão pouco de um destino histórico, é o resultado das movimentações das classes sociais. O campo onde se dá o embate de forças sempre está aberto ao novo, mas só vence quem entende as regras da luta e entra para vencer, nós da classe trabalhadora só temos o caminho do engajamento na grande disputa da política para traçar os rumos da nossa história. Realizaremos isto tomando nossa própria missão como classe revolucionária por dentro do sistema do capital.



Vivemos o crepúsculo do capitalismo no alvorecer do século XXI, descrever as regras da luta e o método para construir a nossa vitória é o ponto de partida deste livro.

O ponto de chegada é um manual para a realização da luta de classes de forma prática e objetiva com a atitude do forte, aquele que luta para fazer o seu destino sem nada temer.

Partindo da realidade para a realidade, seguindo o método dialético aplicado à materialidade do concreto no processo histórico. Visamos levar o leitor a navegar pelos fluxos do rio da vida, superando a tentativa de apenas flutuar, deixando para trás um nadar sem rumo na escuridão para tomar conta do barco da fortuna e singrar as correntes do devir com objetivo político certeiro, seguindo seus instintos com inteligência e dando forças à sua vontade de potência.

O devir, ou fluxo histórico dinâmico, não tem início ou fim, o tempo é eterno e se desenvolve sobre bases materiais reais, os eventos não surgem por geração espontânea, nem por simples evolução, tão pouco por predestinação. A construção das circunstâncias históricas para a transformação revolucionária é a nossa principal missão política junto à nossa classe trabalhadora.

Este livro pode ser adquirido no site da Editora Appris:

Como Vencer na Grande Política: Classes sociais e suas lutas

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Agricultura não pode ser catástrofe, nem energia provocar desindustrialização

 Segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, nos últimos 60 anos, as chuvas no Sul aumentaram em 30%, e no Norte, Nordeste e Sudeste diminuíram até 40%. Controlar a velocidade de escoamento de toda essa água extra no Sul e garantir a perenidade dos rios nas outras regiões precisa ser a nossa prioridade imediata.

Ivo Pugnaloni*





Os mapas e gráficos que ilustram o excelente artigo publicado pela SECOM, dirigida pelo ministro Paulo Pimenta, não deixam margem a dúvida. Embora as causas da mudança nas chuvas sejam controversas. Minha opinião de engenheiro é que devemos focar-nos em encontrar origens mais óbvias e gritantes, para adaptar nossas atividades à gravíssima alteração do regime de chuvas.

Devemos aplicar-nos, como um só povo, do sul ao norte, para aplicar as soluções mais eficientes, conhecidas e provadas em outros pontos do país e do mundo. Deixemos aos tribunais decidir quem são os culpados, responsabilizando-os mas com todos os diretos de defesa assegurados por lei, altamente didáticos, muito úteis para evitar novas ilusões.

Aos desprezíveis gritos racistas de “O Sul é o meu país”, devemos numa autêntica rede nacional de solidariedade, responder com uma atitude afirmativa que prove que do Sul ao Norte, o Brasil é o nosso país. O país de um povo forte e soberano, que sabe vencer grandes desafios através da sua união.

Esse artigo foi escrito no sentido de demonstrar que soluções técnicas já existem, assim como as evidências físicas não apenas do fenômeno climático, mas também dos delitos cometidos por aqueles que, por riqueza e poder, conseguiram quase destruir todas as formas de mitigação que a ciência já encontrou há mais de 130 anos.

“Isso é culpa do agronegócio e do transporte rodoviário” dirão alguns. “Não, isso não tem nada a ver com a ação do homem!”, dirão outros.

Quando as certezas de parte a parte são assim extremas, a melhor resposta pode vir de fazer perguntas.

1. O que acontece com a velocidade de escoamento da água no solo e nos rios, quando derrubamos florestas para formar pasto ou plantar soja para exportar?

2. O que acontece com a quantidade de água absorvida pelo solo, quando dobramos a velocidade do escoamento depois de removidas as raízes das florestas?

3. O que acontece com a erosão do solo quando a velocidade de escoamento aumenta? O que acontece com o leito dos rios, se a erosão aumentar?

4. Se a erosão e o assoreamento dos rios aumentarem, será que o fluxo da água vai continuar preso na caixa dos rios ou vai transbordar para fora de seu leito, criando áreas úmidas?

5. O que acontecerá, com a evaporação da água, quando aumentarem as áreas úmidas nas margens dos rios?

6. O que terá acontecido com a evaporação quando as conhecidas mudanças cíclicas no eixo de rotação da Terra e no seu percurso em torno do Sol, fizeram mais radiação solar incidir numa área que permanece encharcada por mais tempo?

As respostas podem ser resumidas numa poderosa combinação de efeitos cumulativos na qual o aumento da velocidade de escoamento reduziu a água absorvida pelo subsolo, aumentou a erosão e a evaporação de água. E tudo isso junto, aumentando os riscos de novas e grandes enchentes.

É nisso que temos que nos focar: precisamos diminuir a velocidade com que a água da chuva corre de volta em direção ao mar, donde em boa arte ela veio, por ação do Sol. Como fazer isso, veremos adiante nas próprias perguntas que se entrelaçam.

“Vocês são contra o agronegócio e a produção de alimentos!”, dirão alguns. “Vocês só pensam em lucro máximo a qualquer custo!” dirão outros.

Novamente, boas perguntas trazem as melhores respostas.

1. O que aconteceu com a produção de alimentos para exportação, quando a carga tributária do agronegócio caiu para 6,75% e com a produção industrial quando os tributos sobre a indústria chegaram em 44%?

2. Por que o PIB da indústria em 1976 era 21% do total e caiu para apenas 9% do PIB em 2023?

3. O que acontece quando a ANEEL e o Ministério de Minas e Energia, assistem passivamente as distribuidoras comprando a energia 10 vezes mais cara das termelétricas, repassando esse custo aos consumidores e não comprando das hidrelétricas, dez vezes mais barata?

4. O que aconteceu com as tarifas de energia quando a capacidade de geração das termelétricas fósseis, subiu mais de 660% entre 1995 e 2022?

5. O que aconteceu com a produção industrial quando o custo da energia para a indústria subiu 174% acima da inflação entre 1995 e 2023 e para as demais classes “só 73%”, segundo a FIRJAN?

6. Por que a Empresa de Pesquisa Energética não considerou as perdas elétricas e nem as tendencias hidrológicas, no cálculo da garantia física de energia das hidrelétricas, erro que impediu a investimentos na construção de novas hidrelétricas, favorecendo isso sim, mais termelétricas e o aumento da poluição por gases do efeito estufa?

“Vocês querem que o Brasil tenha outro apagão sem as termelétricas?”, dirão alguns.

Novamente, as melhores respostas vêm de boas perguntas, que quase ninguém faz:

1. Quais as fontes permanentes de energia que podem assumir a carga depois das 18 horas quando a geração fotovoltaica entra em colapso por falta de Sol?

2. Dessas duas fontes permanentes, que são as termelétricas fósseis e as hidrelétricas, as únicas que podem operar 24 horas, qual delas tem preço maior, mais impactos negativos sobre a atmosfera e as chuvas?

3. Qual das fontes de energia tem maiores efeitos benéficos para a redução da velocidade de escoamento das águas de forma a evitar a erosão, o assoreamento, prevenindo as enchentes? A fonte solar? As termoelétricas, as eólicas? Ou as hidrelétricas?

4. Por que no Paraná, estado que sofreu o mesmo aumento de chuvas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, não existem agora enchentes nos terços baixo e médio do rio Iguaçu, depois de construídas seis grandes hidrelétricas pela COPEL? Terá sido isso fruto de uma coincidência?

5. Será que a pressão dos proprietários das minas de carvão que alimentam as grandes termelétricas gaúchas e catarinenses tem relação com o pequeno grau de desenvolvimento das usinas hidrelétricas nos dois estados?

6. Será que grande quantidade de enchentes que a cada três ou quatro anos atingem os gaúchos e catarinenses não tem nada a ver com o pequeno número e pouca capacidade de armazenamento de suas hidrelétricas?

As soluções são conhecidas.

É hora da primazia da solidariedade, da consciência e da ciência. O tempo das bravatas passou. Assim como passou o tempo dos bravateiros, do elogio do egoísmo e do individualismo, seja ele regional, sexual, de cor da pele ou de idade.

Passou da hora de abandonarmos a influência dos que querem dividirmos em times que gritam “slogans”, gerados em pequenas bolhas e laboratórios de opinião pública dos gabinetes do ódio e de mídia.

Está na hora de começarmos a fazer, as perguntas que precisam ser respondidas antes que seja tarde, para que os governos deixem da letargia e da pequena política para entrar na grande política. A política pública.

Acumular pequenas quantidades de água nas propriedades e gerar energia com ela. Uma solução para já.

Pequenas barragens em cada propriedade rural, em cada arroio, em cada riacho, podem ser construídas em poucos meses com capacidade adicional de reserva para ser preenchida em caso de enchentes ou de secas.

Ao mesmo tempo, elas podem produzir pescado, hortaliças e mesmo energia elétrica, sendo ligadas diretamente à rede das distribuidoras como acontece com as placas solares. Mas com a vantagem de operar durante 24 horas, armazenarem energia elétrica na forma de água doce prevenindo-nos de enchentes e de secas. Uma solução quase óbvia, já adotada em muitos países, classificadas pela ANEEL como micro centrais hidrelétricas, servindo como compensação ambiental ao desmatamento já incorrido ou futuro.

Além desses benefícios elas ainda vão gerar energia barata para o produtor rural, armazenarão água doce, produzirão receita e alimentos de alta qualidade, em toda parte. Tanto no Sul como no Norte.

Essas barragens, construídas dentro da técnica e da legislação ambiental, projetadas e instaladas por profissionais habilitados, seriam financiadas pelo BNDES com juros que levem em conta os seus benefícios para a sociedade. Elas irão nos ajudar a nos adaptarmos melhor às enchentes no sul e às secas no norte, nordeste e sudeste.

Tudo isso com equipamentos 100% nacionais e mais de 30% dos serviços disponíveis no local. Com os menores investimentos. Aliás, qual seria o preço da “não-existência” de uma enchente como essa do Rio Grande do Sul? Para ajudar tudo isso a acontecer, além das secretarias estaduais da agricultura e do meio ambiente mobilizarem-se, vamos precisar que o ministério de minas e energia convença as distribuidoras e cumprirem os regulamentos que criaram a modalidade de geração distribuída. Essas concessionárias de serviço público precisam investir mais na proteção de suas redes com relação ao fluxo reverso de potência gerado pelas placas solares, como previsto em lei. E deixem de usar seu próprio despreparo técnico para negar acesso às suas redes aos pequenos geradores particulares, tirando proveito da própria torpeza, como vedado por princípio da lei pátria.

*Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni é engenheiro eletricista é foi diretor de planejamento da COPEL e diretor presidente da COPEL DISTRIBUIÇÃO, do Instituto Estratégico do Setor Elétrico (ILUMINA), fundador e primeiro presidente da ABRAPCH, associação brasileira de pequenas hidrelétricas, secretário adjunto de transportes de Curitiba, membro do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia do Paraná. professor do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Hoje Ivo é o presidente da ENERCONS Consultoria em Energias Renováveis. www.enercons.com.br

segunda-feira, 1 de abril de 2024

“Coronel Redl”, de István Szabó, 1985

 


“Coronel Redl”, de István Szabó, 1985 – Império Austro-húngaro, final do século XIX, início do século XX. Um menino de origem humilde, Alfred Redl, é enviado a uma escola militar, onde fica amigo de Kristof Kubinyi, de origem nobre. Sua profunda lealdade ao Imperador Franz Joseph faz com que rapidamente suba na carreira militar, sendo alçado a coronel e, posteriormente, indicado para atuar como Chefe da Contraespionagem do Império, o que o leva a ter de lidar com toda sorte de conspirações e conchavos.

Ainda que Alfred Redl tenha sido uma eminente personalidade real do exército do Império Austro-húngaro nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, o filme é levemente inspirado em uma peça de John Osborne, “A Patriot for Me”, e revela, em seus minutos iniciais, completa infidelidade aos fatos, deixando claro tratar-se de uma obra de ficção inspirada na figura real do militar. Assim, ainda que questões-chaves da vida de tal personalidade sejam mantidas, há uma clara romantização da história, com inserção de acontecimentos puramente ficcionais. A narrativa acompanha a trajetória do personagem desde sua infância humilde na Galiza até alcançar o mais alto posto dentro do Setor de Contraespionagem da Diretoria da Inteligência Militar do Exército Austro-húngaro, possibilitando um breve panorama dos conflitos, ardis e conspirações envolvendo política e exército no seio do Império Austro-húngaro. A obra é um fascinante exercício acerca da lealdade versus traição que se desenrola não apenas em âmbito “macro”, na política, exército e governo, mas, também, no universo pessoal do personagem, envolvendo sua amizade com a família Kubinyi, que inclui um relacionamento afetivo-sexual com os irmãos Kristof e Katalin. O diretor é bastante feliz na forma como espelha essa dicotomia da lealdade/deslealdade nos diferentes contextos, inclusive mostrando os questionamentos de Redl quanto sua própria conduta quando provocado a delatar um colega ou um subalterno. Szabó também consegue retratar, com esmero, os recônditos do Exército Austro-húngaro e sua promíscua relação com a nobreza – Kristof, mesmo sendo um oficial medíocre, insubordinado, pouco leal ao Imperador e completamente devasso, rapidamente galga cargos políticos e patentes militares graças à sua origem nobre e seus contatos sociais. A narrativa é linear, com grandes lapsos temporais, e ritmo moderado. A atmosfera é de leve tensão, a qual cresce à medida em que Redl sobe de posto e ganha responsabilidades, entrando na mira do Arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do trono e conspirador de primeiríssima linha – o que leva Redl a, gradativamente, “flexibilizar” sua ética e lealdade ao Império. O filme é grandioso quanto ao seu desenho de produção de época, retratando belamente os primórdios do século XX, de suas festas e bailes aos exercícios militares do exército. A fotografia colorida aproveita muito bem a saturação de cores e os planos bem abertos, muito embora não crie nenhuma linguagem cinematográfica inovadora e permaneça no terreno mais convencional. Quanto às interpretações, Klaus Maria Brandauer despeja todo seu talento no personagem Redl e consegue exprimir as contradições e angústias do protagonista com notável cuidado e muita “paixão”; Jan Niklas interpreta Kristof sem grande brilho em seu trabalho; Gudrun Langrebe interpreta Katalin, Armin Mueller-Stahl, o Arquiduque Franz Ferdinand e Hans Christian Blech, o General Von Roden – todos competentes, mas ninguém excepcional. Destaque para a última cena de Klaus Maria Brandauer – interpretação sensacional! – e para a ironia da última cena de Franz Ferdinand. O filme foi agraciado com o Prêmio BAFTA (1986) na categoria Melhor Filme Estrangeiro, e com o Prêmio do Juri no Festival de Cannes (1985); foi ainda indicado ao Oscar (1986) de Melhor Filme Estrangeiro, perdendo para o argentino “A História Oficial” (1985). É um filme bem interessante, mas que mexe mais com o nosso intelecto do que com as nossas emoções (não é um filme sensorial). Em todo caso, acho que vale muito à pena.

A epopeia da dialética viva

Quando o primeiro clarão rompeu a eternidade imóvel, o mundo era apenas poeira e esquecimento. A história parecia adormecida, mas no ventre...