sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Escala 6X1 - Reforma e Revolução

Por Walter Azevedo 

De repente entramos em uma quadra histórica de rara oportunidade para a classe trabalhadora organizada. Este processo começou com um trabalhador do Rio de Janeiro, sem militância tradicional nem formação política, que inicia um movimento contra a escala de trabalho a que ele mesmo era submetido, uma jornada de seis dias de trabalho para um de folga.

A iniciativa de Rick Azevedo ganha corpo e surge um novo e forte movimento político que coloca as leis da jornada de trabalho no centro do embate entre a classe trabalhadora e a classe do capital.

A lutas da classe trabalhadora avançam com ganhos lentos e retrocessos sistemáticos, as oito horas de trabalho diário foram conquistadas em 1934 e o último ganho significativo foi em 1988 com a redução a jornada semanal para 44 horas.

De outro lado a produtividade do trabalho cresceu fortemente com o desenvolvimento nos últimos 100 anos, ao mesmo tempo em que a remuneração do trabalho se reduziu ao longo do tempo com é demonstrado na tabela abaixo:

 

Tabela relacionando Trabalho, Produção e Remuneração do Trabalho desde 1985:

Ano

Empregados

Formais

(milhões)

PIB Nominal 

(R$.trilhões)

PIB

Atualizado

(R$ trilhões)

 ano base 2023

Razão

PIB Atualizado

por Trabalhador

(R$ mil)

Massa Salarial

(R$ trilhões)

 ano base 2023

Razão

PIB / Massa Salarial

1985

20,0

0,2

1,5

75,0

0,3

5,0

1990

22,5

0,5

2,0

88,9

0,5

4,0

1995

25,0

0,8

2,5

100,0

0,8

3,1

2000

27,5

1,2

3,0

109,1

1,0

3,0

2005

30,0

2,1

3,5

116,7

1,2

2,9

2010

35,0

3,9

4,0

114,3

1,6

2,5

2015

40,0

5,9

4,5

112,5

2,0

2,3

2020

42,0

7,4

5,0

119,0

2,5

2,0

2023

43,0

10,0

5,5

127,9

3,0

1,8

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

O processo histórico da tabela acima explicado:

  • A produtividade do trabalho, representada pela razão PIB Real por Trabalhador, mostra um crescimento constante da produtividade ao longo do período dos últimos 40 anos.
  • Razão PIB Real / Massa Salarial Real: Representa o quanto a produção (PIB Real) avança mais que a massa salarial real. Indicando que o Trabalho gera mais produto em relação ao montante pago como salário, esta diferença demonstra o avanço da remuneração do capital as custas do trabalho.

 

Estes são os números reais da economia e da relação capital/trabalho e trabalho e produtividade, indicando que o Brasil avança como um paraíso para o empresariado capitalista com o esmagamento do trabalho que produz cada vez mais e recebe proporcionalmente menos como se demonstra no gráfico abaixo:

 



 

A evolução do gráfico esclarece acerca da natureza do sistema capitalista que organiza o trabalho e a remuneração do capital, é a situação real da relação entre capital e trabalho produtivo, onde a classe do capital hegemônica, mantém seu poder e consegue definir para onde vai a economia e quem são os ganhadores.

É este mecanismo que torna claro por que o Brasil é um dos países de maior concentração de renda e propriedade do mundo, isto é resultado da eficiência da exploração do trabalho pela classe empresarial.

Esta introdução demostra que a organização do trabalho está no centro da disputa social, tornando claro que a abolição da escala 6X1, é um ganho possível e uma vitória significativa, algo que trará um ganho geral para toda a classe trabalhadora principalmente para aqueles de menor remuneração.

Esta luta é tão importante quanto se observa que o grupo social que está submetido a esta escala 6X1 é uns dos maiores agrupamentos de trabalhadores, maior que qualquer seguimento profissional específico, ou seja, o potencial da força política dos que serão diretamente beneficiados pela superação desta escala é muito grande. São milhões de trabalhadores, estima-se que até metade da força de trabalho esteja nesta escala, os números objetivos são ocultados ou disfarçados pelo estado brasileiro.

A crua e dura realidade dos trabalhadores submetidos a escala 6X1 é ainda mais cruel quando se nota que os níveis salariais deste setor tendem a ser menor que de outras categorias, a rotatividade maior, menores benefícios extrassalariais, ou seja, são os trabalhadores em pior situação sob todos os aspectos.

Toda esta conjuntura coloca o potencial do embate contra o regime de trabalho mais duro e pior pago num patamar que poucas vezes é alcançado nas mobilizações populares, com pesquisas apontando até 70% de apoio ao fim da 6X1, com adesão que supera divisões ideológicas entre direita e esquerda.

A força do sentido de justiça e de viabilidade contra a 6x1 está disseminado na população e do lado da classe trabalhadora.

A escala 6x1 beneficia apenas o capital empresarial, enquanto exaure a força de trabalho e limita a capacidade dos trabalhadores de exercerem uma vida mais produtiva em termos sociais e profissionais, gerando consequências como:

- Compromete a saúde física e mental: Trabalhadores sofrem com desgaste crônico, aumentando casos de doenças ocupacionais e afastamentos.

- Destrói laços sociais: A falta de tempo para família, educação e lazer enfraquece relações sociais, familiares e comunitárias.

- Reduz a produtividade a longo prazo: Trabalhadores exauridos tornam-se menos produtivos e mais suscetíveis a erros e acidentes, com menos tempo e energia para estudo e desenvolvimento profissional.

 

Portanto, abolir o regime 6X1 é um passo fundamental para aperfeiçoar as relações de trabalho, a produtividade dos trabalhadores e avança na valorização do trabalho, contribuindo para o desenvolvimento geral do sistema econômico brasileiro e da qualidade de vida do trabalhador.

 A tática da luta, a meta principal, a hierarquia e a organização do processo que vai desde levantar a causa, formar uma base social e vencer a disputa via a consolidação de uma alteração legal deve ser construída de forma profissional e qualificada, o tema é de grande importância para a classe trabalhadora e está no centro das disputas entre capital e trabalho.

Neste sentido a consciência do foco na abolição da 6x1 que é a causa forte e motivante, que tem levantado apoio e motivação dentro da classe trabalhadora e ao mesmo tempo constrange às forças políticas do capital na sua defesa, temos que ser centrar todas as forças na pauta principal e mais forte, com maior apelo social e lutar para vencer com ela.

Esta é a oportunidade de um partido construir sua base social como o principal defensor de uma pauta relevante se atuar com profissionalismo e eficácia para vitórias materiais e objetivas para a nossa classe trabalhadora.

A lei que regulamenta a escala 6X1 está na CLT:    Art. 307. A cada seis dias de trabalho efetivo corresponderá um dia de descanso obrigatório, que coincidirá com o domingo, salvo acordo escrito em contrário, no qual será expressamente estipulado o dia em que se deve verificar o descanso.”

Ou seja, é uma “lei ordinária” que regulamenta esta escala e que pode ser alterada no Congresso Nacional por “maioria simples”, esta é uma meta concreta, objetiva e alcançável.

 

Oportunidades e Desafios no Campo Político

De outra parte a luta pela abolição da escala 6x1 expõe a necessidade de maior maturidade e pragmatismo político para as forças que querem conquistar esta demanda.

No intento de conquista da eliminação da escala 6X1 a deputada Erika Hilton(PSOL) apresentou uma proposta de alteração constitucional(PEC) que demanda 3/5 dos votos, ao invés de propor alteração da CLT, que exige apenas maioria simples. Essa abordagem reflete um idealismo que prioriza uma pretensa vitória moral simbólica em detrimento de conquistas materiais reais. Não bastasse isto, o problema foi agravado pela PEC propor a escala 4x3, dando um salto que de um lado diminui a base de apoio dos trabalhadores que veem viabilidade na proposta, quanto de outro, aumenta o leque de setores do capital afetados e contrários a nova escala. Estas atitudes seguem a tradição da esquerda idealista que pede muito para não conseguir nada.

Enquanto setores da esquerda moralista insistem em pautas ideológicas descoladas das demandas concretas, é crucial que o movimento pela abolição da escala 6x1 se mantenha focado em objetivos práticos e tangíveis. A dispersão para outras pautas tente a diluir a mensagem central, confundir o argumento, fragmentar a base de apoio e fragilizar a luta legislativa.

A abolição da escala 6X1 desemboca diretamente na conquista da escala máxima de 5X2, este é o ganho claro e imediato, é o concreto que está ao alcance das mãos, é a luta que a conjuntura nos oferece e não podemos deixar passar por falta de consciência tática.

 

Um Chamado ao Centro Tático

Movimentos com demandas claras e unificadas têm maior chance de sucesso. A luta pela jornada de 8 horas diárias, por exemplo, alcançou vitórias também por manter o foco no objetivo principal. Portanto, o movimento contra a escala 6x1 se fortalece quando:

- Centralizar a luta no concreto e material: A abolição da escala 6x1 é a pauta forte e mobilizadora.

- Evitar misturas de pautas: Questões adicionais ou de outra natureza só diluem a mensagem, esta misturada com outras demandas com apelo mais fraco só enfraquece o principal.

- Agitar setores direta e indiretamente afetados: Comunicar e mobilizar para algo relevante para a vida diária, de forma clara e inclusiva para mobilizar apoio, formar base social pelo reconhecimento da atuação e liderança.

- Fazer a propaganda da disputa entre classe do capital e classe do trabalho sobre jornada de trabalho.

- Trazer para a organização milhares de trabalhadores afetados e tocados pela ação.

 

Conclusão

A abolição da escala 6x1 não é apenas uma questão trabalhista, é uma luta política que desafia a hegemonia do capital sobre as condições de vida dos trabalhadores.

Esse movimento representa uma oportunidade de avanço direto e real para a classe trabalhadora, o sucesso depende da condução da luta com pragmatismo, foco e profissionalismo.

O momento exige dedicação, mas também maturidade estratégica. Temos que fazer da abolição da escala 6x1 um passo firme na formação de um novo partido que lidere a classe trabalhadora na construção de um projeto político de país para a nossa classe trabalhadora.

  

Referências:

CLT:  DECRETO-LEI Nº 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943

 1934: A Constituição Federal de 1934 foi a primeira a estabelecer um limite para a jornada de trabalho, fixando-a em 8 horas diárias1.

1943: Com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a jornada de trabalho foi regulamentada, incluindo direitos como férias anuais e descanso semanal remunerado2.

1988: A Constituição Federal de 1988 reduziu a jornada máxima semanal de 48 para 44 horas34. Essa mudança foi significativa para a proteção dos trabalhadores.

2017: A Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467) trouxe várias alterações, permitindo, jornadas diárias de até 12 horas, desde que seguidas por 36 horas de descanso5.

https://www.diap.org.br/index.php/noticias/noticias/92061-pesquisa-fim-da-escala-6x1-tem-apoio-de-70-da-populacao-e-supera-divisoes-ideologicas

Azevedo, Walter. Como vencer na grande política: Classes sociais e suas lutas. Curitiba: Appris, 2023.

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