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Fato Online
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A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de considerar inconstitucionais as doações empresariais a partidos e campanhas eleitorais deixou a classe política um tanto apreensiva quanto à viabilidade de futuras candidaturas. Quem defende a restrição avalia que o resultado do julgamento é um choque no jeito de se fazer política no Brasil. Se a regra realmente prevalecer, projetam os especialistas, a internet terá papel ainda mais importante a partir das próximas eleições. Não só como palco para o debate de ideias e propostas, mas também como uma ferramenta para a busca de dinheiro.
"A proibição imposta pelo Supremo favorecerá formas mais descentralizadas de captação de recursos", afirmou o professor Sérgio Braga, da Pós-Graduação em Ciência Política da UFPR (Universidade Federal do Paraná). "Isso tenderá a beneficiar candidatos com maior poder de mobilização e capilaridade no eleitorado. Como a internet facilita esse tipo de comunicação mais descentralizada, ela sem dúvida terá uma importância maior."
O cientista político é autor de "A internet e os partidos políticos brasileiros", estudo que analisou o comportamento das legendas na rede mundial de computadores. Um retrato de quais siglas estão melhor posicionadas na internet. Ou seja, num ambiente em que será preciso criatividade para financiar as campanhas, o levantamento aponta alguns caminhos. Feito em parceria com os pesquisadores da UFPR Leonardo Rocha e Márcio Carlomagno, o trabalho considerou as interações entre janeiro de 2013 e abril de 2015, abrangendo, portanto, os períodos pré-eleitoral, eleitoral e pós-eleitoral.
Engajamento
Partidos que polarizaram as cinco últimas eleições presidenciais, PSDB e PT foram os que melhor desempenho tiveram. Apareceram num grupo minoritário de legendas que mantém websites mais sofisticados e com conteúdo diversificado. Ambos tiveram audiência com alto grau de engajamento. O estudo considerou quatro aspectos: difusão de informações, interação com internautas, mobilização do público e sofisticação no jeito de comunicar. Chamou a atenção a ausência do PMDB, um dos maiores partidos do país, entre os ponteiros nos quatro quesitos.
"A proibição imposta pelo Supremo favorecerá formas mais descentralizadas de captação de recursos. Isso tenderá a beneficiar candidatos com maior poder de mobilização e capilaridade no eleitorado. Como a internet facilita esse tipo de comunicação, sem dúvida terá uma importância maior"Sérgio Braga
Siglas de menor porte, sejam elas de direita ou de esquerda, mostraram na rede capacidade para mobilizar apoiadores. Foi o caso do DEM, PRB, PDT, PSB e Psol. Esses partidos, de acordo com o estudo, utilizaram suas plataformas virtuais de forma mais transparente para defender seus pontos de vista com mais clareza. Veja na tabela ao final do texto as legendas que mais se destacaram em cada um dos quatros aspectos analisados pelos pesquisadores.
Na avaliação de Braga, as interações efetivas que os partidos provocam nas mídias sociais, como Facebook e Twitter, foram o aspecto mais relevante da pesquisa. Quatro legendas se destacaram: PSDB, PT, DEM e PSOL. "Não por acaso são os partidos mais consistentes do ponto de vista programático e os que tem propostas ideológicas mais claras", disse o professor. "Essa maior clareza de pontos de vista sem dúvida favorece a interação com o internauta, que tende a interagir mais com aqueles atores que tem conteúdo de maior qualidade e que provoca mais polêmica."
Os pesquisadores da UFPR analisaram o nível de engajamento dos partidos no Facebook. De acordo com o levantamento, PT e PSDB foram as siglas que se destacaram nesse ambiente. A página petista obteve 42,3 milhões de engajamentos (soma de postagens, curtidas, comentários e compartilhamentos. Tucanos tiveram 34,5 milhões.
Os autores do estudo chamaram atenção para outros dois partidos: o DEM, com 8,2 milhões, e o Psol, com 2,3 milhões. "Partidos com perfil ideológico e programático mais definido e que possuem uma postura mais proativa em defenderem seus pontos de vista tendem a ser mais atuantes e populares nas redes sociais, superando inclusive grandes partidos com maiores recursos políticos", observaram.
O estudou destacou algumas postagens no Facebook. No perfil do PT, a que teve maior engajamento foi um “meme” publicado em 26 de outubro do ano passado, logo após a confirmação da vitória de Dilma Rousseff, com 136,2 mil curtidas, 13,7 mil comentários e 181,7 mil compartilhamentos. Na fanpage do DEM, a que teve maior engajamento foi um “meme” postado pouco antes do início da campanha eleitoral em maio de 2014, questionando a competência de Dilma Rousseff para governar o país, que teve 1,3 mil curtidas, 2,6 mil comentários e 665,8 mil compartilhamentos.
Espaço na web
Foi possível identificar que alguns partidos avançaram posições na rede durante o período em estudo; outros voltaram ao nível pré-eleitoral; alguns permanecem mais ou menos na mesma situação. Embora com perspectivas diferentes, PSDB e o Psol exploraram bastante nas mídias sociais propostas contra o governo federal e conquistaram mais espaço na rede após a campanha. "Isso pode ser um indicador do potencial de crescimento desses partidos nas próximas campanhas eleitorais, tanto as eleições municipais, como as eleições de 2018 para a presidência", disse o professor da UFPR.
Braga afirmou que o eleitorado brasileiro – ao contrário do norte-americano, por exemplo – não tem cultura política que favoreça a contribuição voluntária. Mas frisou que, caso seja mantida a restrição ao dinheiro empresarial imposta pelo Supremo, a captação descentralizada através da internet pode contribuir para aproximar políticos e eleitores. Os críticos da decisão do STF preferiram dizer que vai aumentar o caixa 2 eleitoral.
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