quarta-feira, 30 de abril de 2025

A Epopeia da Dialética da Vida



Quando o primeiro clarão rompeu a eternidade imóvel, o mundo era apenas poeira e esquecimento.

A história parecia adormecida, mas no ventre do concreto germinava a centelha da mudança.
Dos confins da Terra Velha ergueu-se a Classe Errante, fragmentos dispersos de um sonho ainda sem nome.


O Portador da Negação, voz de vento e relâmpago, ensinou a primeira lei da travessia: um passo atrás, dois para avançar.
Sabiam que o caminho não se desenha na linha reta dos covardes, mas na espiral ascendente dos que desafiam o próprio tempo.

Cada gesto exigia ser forte na luta, cada pensamento carregava o peso e a luz dos valores que resistem sob o ferro da história.
Ressentimento e passividade não são apenas palavras, mas sementes endurecidas pelo frio da servidão.

Marchavam sob a fúria dos desertos, onde utopias fantasias se erguiam como miragens.
Atravessavam aparições de glórias fáceis, rostos sem rosto e promessas que evaporavam ao toque da vida real.

O tempo, capataz e escultor, não cessava seu golpe.
Cada queda, cada renúncia, cada insurreição era um elo da corrente da negação da negação — destruir para criar, negar para afirmar, morrer para renascer mais forte.

Não buscavam a unidade morta dos servos, mas a viva e consciente una total idade, onde cada um fosse parte e potência de um corpo que se move inteiro.

Sabiam que fora do poder tudo é ilusão e toda ilusão é poder de sedução.
E que os símbolos não salvam: o fetiche de bandeiras e palavras não substitui o ferro do trabalho consciente.

No centro da marcha, ergueu-se o Senhor da Conquista, avatar da vontade coletiva, que proclamava:

— Trabalho é vida!
— Do trabalho nasce a classe. E do trabalho a classe faz seu destino
— Da classe, a potência de transformar o mundo!

Pela vontade fazer o chão tremer — a classe em ação se movia como maré crescente, avassaladora.
Não como engrenagem, mas como artífice da própria liberdade.

E cada embate, cada reorganização nas trincheiras do real, compunha o drama da mudança, com sua beleza trágica e sua força criadora.

A luta exigia também resistir aos venenos internos.
O oportunista do poder, travestido de aliado, semeava a dúvida.
O esquerdismo pueril, filho de ilusões e da vaidade, golpeava o próprio chão.

A sombra do último homem espreitava: o egóico fragmentado, incapaz de pertencer sem anular-se, incapaz de ser mais do que si mesmo.

Era preciso forjar um novo pertencimento, onde a vontade seja a  chama comum, onde o ser singular encontrasse eco na coletividade motivada.

Sob os golpes do tempo, erguíamos estruturas idealizantes, ideias estruturantes, pontes lançadas sobre abismos ainda sem nome.

Cada avanço era uma transformação a desvendar, e cada vitória, um anúncio provisório: ainda havia mais a construir, mais a negar, mais a superar.

A meta do embate era clara: dobrar a história, vencer não só no sonho, mas no concreto.

Respirávamos o insenso incomum da luta, aquele que embriaga com lucidez, que ensina a dançar com as tempestades.

E sabíamos quem era o inimigo maior: o Capital, criatura de mil faces, alimentada pelas promessas que nunca se cumprem.

O Capital travestia-se de Estado e Capital, irmãos siameses que acorrentavam corpos e pensamentos.

Prometia pertencimento, mas distribuía solidão; ofertava segurança, mas semeava medo.
Soprava reais ameaças imaginárias, semeando fantasmas para paralisar corações.

A cada passo, a escolha era brutal: em ação ou em distração.
O tempo não perdoa os adormecidos.

Edificamos então uma base estratégica, fundação invisível que resistiria ao vendaval.
Pois sabíamos que vem fácil, vai fácil, e que só o que é cravado na carne do real perdura além do instante.

Travávamos a batalha nos campos cruzados do trabalho e do Estado, onde cada centelha de consciência era uma conquista.

Classe e consciência marchavam juntas, unidas na dor e na esperança.

Desmascarávamos a máscara da política, rasgávamos o véu das falsas promessas, recusávamos a servidão dourada.

E foi no fogo do embate que o revolucionário em ação se ergueu — não como herói isolado, mas como expressão viva da vontade coletiva.

Marchava porque entendia que o destino à política amarra, mas que a política só vale se for arrancada do ventre ardente da classe em movimento.

O tempo na ampulheta virava, e cada grão era um passo conquistado.

Compreendíamos que a parte e o todo não se excluem: se constroem, se negam, se superam.

Era necessário dobrar o concreto.
Era necessário agir.
Era necessário vencer.

E assim marchávamos, não pela glória vazia, nem pela promessa de um messias, mas pela certeza de que só a ousadia escreve a história.

Marchávamos, e ainda marchamos.
Marcharíamos mesmo que o céu se fechasse e a terra tremesse.
Pois sabíamos, no fundo dos ossos e dos sonhos:
o impossível pertence àqueles que ousam negá-lo.

 

Este conto agrega o conteúdo do livro “Engajarte – Uma Poesia na Mão para Fazer a Revolução”, disponível no link.

domingo, 20 de abril de 2025

Privatização da CELEPAR: Quem Ganha e Quem Perde?

 Por Walter Azevedo

A proposta de privatizar a CELEPAR, empresa pública que cuida dos sistemas de informática e dos bancos de dados do Estado do Paraná, é mais uma operação obscura que vamos tentar esclarecer neste artigo. Enquanto o governador do Paraná tenta vender mais um patrimônio que não é seu, a realidade é que o grande beneficiário dessa privatização não será o estado nem a população paranaense, mas sim os empresários que comprarem a CELEPAR. Eles receberão uma empresa sólida, com contratos garantidos com o governo e prestarão serviços que não tem preço padronizado ou comparativo, esta situação pode ser mais uma porta de entrada para corrupção governamental, neste jogo parece que só tem alguns perdedores bem definidos: a classe trabalhadora e o desenvolvimento do Paraná.

















Imagem: Celepar por José Fernando Ogura

 

A História da CELEPAR: Uma Trajetória de Serviço ao Paraná

 

A CELEPAR foi criada em 1971, há mais de 50 anos, com a missão de modernizar e integrar os sistemas de informática do estado. Desde então, a empresa tem sido fundamental para o desenvolvimento do Paraná, garantindo que órgãos públicos como hospitais, escolas, polícia e secretarias tenham sistemas de tecnologia eficientes, seguros e a um custo baixo.

Ao longo das décadas, a CELEPAR foi responsável por conquistas importantes. Nos anos 1980 e 1990, a empresa implementou sistemas de processamento de dados que ajudaram a organizar a folha de pagamento dos servidores, a contabilidade do estado e o controle financeiro. Nos anos 2000, a CELEPAR foi essencial para a implantação da internet no Paraná, conectando órgãos públicos e levando acesso à informação para a população.

Além disso, a CELEPAR desenvolveu sistemas importantes para áreas como saúde, educação e segurança. Por exemplo, a empresa criou sistemas que ajudam a gerenciar leitos hospitalares, matrículas escolares e até o combate ao crime. Esses sistemas são usados diariamente por milhares de pessoas e empresas e são fundamentais para o funcionamento do estado e o serviço a população.

 

Quem Ganha com a Privatização?

Os verdadeiros ganhadores da privatização da CELEPAR serão os adquirentes da empresa. A CELEPAR é uma empresa pública que já funciona bem, com infraestrutura pronta e contratos garantidos com o governo do estado. Quem a comprar receberá um negócio lucrativo, com poucos riscos e muita garantia de retorno financeiro. Para esses empresários, o objetivo será simples: reduzir custos ao máximo com corte e redução se serviços conforme feito em toda privatização. Isso significa que eles podem cortar empregos, reduzir a qualidade dos serviços e ignorar projetos de desenvolvimento que a classe trabalhadora e pelo governo do Paraná necessitem ou venham a construir, pois será uma empresa privada que será regida apenas o pelo projeto particular de seu novo proprietário.

 

 

Quem Perde com a Privatização?

O Estado do Paraná:

            O governo perderá a propriedade e o controle sobre os sistemas de informática e os bancos de dados que são essenciais para o funcionamento do estado. Isso inclui dados de saúde, educação, segurança e impostos. Sem controle, o estado ficará dependente de uma empresa privada, que pode definir os preços e impor suas condições.

 

Os Cidadãos Paranaenses:

            A população vai sentir a precarização de mais um serviço que hoje é público. Uma empresa privada pode cortar custos para aumentar lucros, o que pode resultar em sistemas mais lentos, menos seguros e menos eficientes. Além disso, os dados pessoais dos cidadãos ficarão mais vulneráveis a vazamentos e uso indevido.

 

Os trabalhadores:

A privatização costuma levar a demissões em massa, reestruturação de cargos e carreiras com redução de benefícios, o que contribui para o acirramento ainda maior da situação de trabalho para todos os trabalhadores, pois é mais uma empresa nivelando por baixo as condições de emprego.

 

Problemas da Privatização

 

Segurança dos Dados

Riscos: A transferência de bancos de dados sensíveis (como dados de saúde, educação, segurança e tributação) para uma empresa privada pode aumentar o risco de vazamentos, a própria venda dos bancos de dados ou uso indevido dessas informações. Hoje o ativo mais valioso para o mercado de tecnologia de informação são os dados de pessoas e empresas, que com a CELEPAR são de propriedade, responsabilidade e gestão do estado.

 

Custos Financeiros

Aumento de Custos: Empresas privadas operam com fins lucrativos, o que pode levar a custos mais altos para o governo e, consequentemente, para os contribuintes. Isso inclui taxas de desenvolvimento, licenciamento, manutenção e atualizações de sistemas. Se o governo necessitar de sistemas especializados para análise e decisões complexas relativos a programas de desenvolvimento, daí o céu será o limite para a definição dos preços.

 

Controle e Transparência

Perda de Controle: O governo perderia o controle direto sobre os dados, o que poderia dificultar a tomada de decisões estratégicas e a implementação de políticas públicas. Inclusive, a gestão privada pode limitar o acesso público a informações, especialmente se houver interesses comerciais envolvidos ou brechas legais para negação de acesso a dados. A privatização cria dependência de empresas privadas, muitas vezes multinacionais, o que pode comprometer a soberania do estado sobre seus dados.

 

Internacionalização: Como os bancos de dados e o próprio processamento serão migrados para data centers privados, a empresa poderá decidir operar em data centers localizados no exterior, causando uma perda de soberania sobre os dados e inclusive perda dos dados e seu bloqueio por conta de disputas e conflitos internacionais.

 

Qualidade do Serviço

Eficiência: Uma empresa privada pode trazer inovações e eficiências, o que não é garantido, mas terá que priorizar o lucro(o que é líquido e certo) em detrimento da qualidade do serviço.

Continuidade: Há o risco de interrupções ou descontinuidades no serviço, especialmente se houver mudanças de fornecedores ou conflitos contratuais, ou embates internacionais.

 

Impacto Social

Acesso à Informação: A privatização pode limitar o acesso a dados públicos, especialmente para populações mais vulneráveis, se houver custos associados ao acesso.

 

Por que a CELEPAR pública é o melhor para o Paraná?

 

A CELEPAR, como empresa pública, tem uma missão clara: servir ao estado e à população. Ela não precisa gerar lucros para acionistas, o que permite reinvestir seus resultados em melhorias para o Paraná. Além disso, como empresa pública, a CELEPAR está sujeita a regras de transparência e controle, o que garante que os dados dos cidadãos estejam seguros e que os serviços sejam prestados sob a responsabilidade de um governo eleito.

 

Em vez de entregar uma empresa estadual sólida e estratégica para o setor privado, o governo pode investir na CELEPAR, fortalecendo sua capacidade de inovação e garantindo que ela continue a servir aos interesses do Paraná. Mas o atual governo não tem projeto de desenvolvimento do estado, sua linha política é apenas proporcionar oportunidades de negócios fáceis para pequenos grupos privados e assim segue na privatização da COPEL, SANEPAR, Escolas e presídios.

 

Conclusão

 

A privatização da CELEPAR é um mau negócio para o Paraná. Quem ganha são os empresários que comprarem a empresa, com contratos garantidos e lucros facilitados. Quem perde é o estado e a população, que ficarão reféns de uma empresa privada com interesses particulares, onde o projeto de desenvolvimento do estado do Paraná pode se tornar uma ameaça para seus negócios. A CELEPAR deve continuar pública, servindo ao estado e à população, e não aos interesses de poucos empresários. Privatizar a CELEPAR é entregar um patrimônio do Paraná, são os dados de cidadãos, do estado e de empresas que vão deixar de ser articulados em benefício do desenvolvimento público. A privatização da CELEPAR vai consolidar o interesse privado e particular de poucos, degradando mais um grande sistema público construído em décadas de trabalho e investimento do povo trabalhador do Paraná.

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