Por Walter Azevedo
O impulso espontâneo e a pluralidade da
esquerda
A multiplicidade de pautas no campo da esquerda no momento
de ataque do imperialismo dos EUA contra o Brasil – dívida pública, Petrobras,
reestatizações, eleições, estatais, antifascismo – expressa uma riqueza de
demandas legítimas, nascidas de diferentes vivências da classe trabalhadora.
Essa diversidade é o momento afirmativo da política viva: o aparecimento da
necessidade, o surgimento das contradições sociais no plano da consciência,
ainda que de forma dispersa.
No entanto, como ensinava Hegel, o verdadeiro não é apenas
o imediato, mas o processo total de sua mediação. A mera somatória de desejos e
indignações não constitui ainda um movimento político estruturado. A esquerda
espontaneísta, ao tomar a imediaticidade da consciência como suficiente, nega a
própria possibilidade de formar um todo orgânico. Cada militante é uma
partícula em movimento, impulsionada por seu “coração”, por seu “interesse”,
mas sem gravitação comum. É o que Marx criticava na política pequeno-burguesa:
“vontades particulares erigidas à condição de universal”.
O vazio estratégico da não-unificação
A ausência de um projeto classista de soberania
nacional-popular — que articule os diversos focos de luta em torno de um norte
comum — é a negação dialética do potencial revolucionário presente nas lutas
fragmentadas. Quando cada sujeito político atua isoladamente em seu campo
temático, o que se apresenta como "pluralidade" se transforma em
impotência tática. Não se trata aqui de apagar as particularidades, mas de
encontrar a lógica comum que lhes dá sentido histórico, não há como evitar o
uso do método agitação e propaganda de Lenin.
Sem mediação organizativa, sem projeto articulador, a
reunião torna-se “uma sopa de letrinhas”, um brainstorm sem norte. É o momento
em que a esquerda se define mais por negações reativas do que por afirmações
propositivas. Atacamos o bolsonarismo, o capital financeiro, o entreguismo,
tudo pode servir para críticas pontuais — mas não se constrói um centro próprio
de atração, um projeto estruturante que suprassuma as pautas em um movimento de
transformação social real.
Essa dispersão, que aparenta liberdade, é, na verdade, submissão inconsciente à estrutura dominante, pois sem direção coletiva, o
capital define os rumos.
A espontaneidade à soberania como projeto
político
A superação se dá quando a consciência dispersa se
organiza, quando a pluralidade encontra sua unidade concreta: não pela
imposição externa, mas pela mediação entre as contradições particulares e a
totalidade histórica. Aqui, a soberania não é apenas um conceito jurídico ou
estatal — é um projeto político coletivo, que unifica a luta pela dignidade
social, pelo controle popular dos bens estratégicos, pela independência
econômica, pela autodeterminação determinada pela classe da maioria, nossa
classe trabalhadora.
A soberania torna-se, assim, a categoria estruturante da
práxis popular: não como nacionalismo reacionário, mas como nacionalismo
emancipador, que une a classe trabalhadora em torno de um ideal comum,
antagônico ao capital internacional e às oligarquias locais.
O patriotismo, nesse processo, não é fetiche, mas afeto
politizado: amor ao povo, à terra e à cultura como fundamentos para mover uma
nova força que motive e levante nossa classe. Quando Lenin propõe o direito à
autodeterminação dos povos, não se refere a um nacionalismo chauvinista, mas a
uma estratégia de construção da hegemonia da classe trabalhadora frente à
dominação imperialista.
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