segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Base Social e Poder: Relações entre Classes Sociais, Disputa de Poder e Objetivos Estratégicos

'Base Social e Poder: Relações entre Classes Sociais, Disputa de Poder e Objetivos Estratégicos' (Walter Azevedo)
"A política é o campo de batalha onde diferentes bases sociais se enfrentam e pelo poder de definir a direção da nação e para fazer a sua história."
 

Exploraremos os conceitos de objetivo estratégico, poder, base social, classe social e disputa de classe, examinando como esses fatores estão interligados na busca pelo domínio político e na construção da ideologia dominante e na sua contraparte da ideologia do dominado.

Por Walter Azevedo para a Tribuna de Debates Preparatória do XVII Congresso Extraordinário.

A interação entre base social e poder é um aspecto central na compreensão das dinâmicas sociais e políticas que condicionam a história, como aspectos da determinação das disputas entre classes. Exploraremos os conceitos de objetivo estratégico, poder, base social, classe social e disputa de classe, examinando como esses fatores estão interligados na busca pelo domínio político e na construção da ideologia dominante e na sua contraparte da ideologia do dominado.

Objetivo Estratégico: Definição e Utilidade

A ação política consequente demanda o estabelecimento de objetivos estratégicos claros, materiais e hierarquicamente definidos como um conjunto de metas de uma organização ou grupo político para um determinado fim. É a partir da definição estratégica que uma fração de classe ou classe social promove suas necessidades materiais, seus interesses, suas soluções e sua reprodução.

Esses objetivos, quando consolidados na consciência do grupo social, tem o poder de orientar as ações, direcionar esforços para alcançar resultados concretos. Objetivos estratégicos são determinantes para construir uma clareza de propósito e um roteiro para a consecução das ambições pretendidas, na sustentação do foco no longo prazo e na manutenção conquistas do coletivo que define e se orienta por estas metas.

Na falta de objetivo estratégico claro, material e de poder classista, o que acontece é que o senso comum individual determina o motor das ações em coletivos, partidos e classe, desafortunadamente o senso comum da classe dominada só faz reproduzir esta subordinação consolidando uma ideologia do dominado.

Ação Política Efetiva

A ação consequente se dá pela orquestração dos interesses de uma base social, um grupo social determinado, buscando promover o seu engajamento e despertar o movimento que leve a este grupo agir em si e para si mesmo. Isso envolve a análise concreta do ambiente político e social, a mobilização de recursos e a escolha de táticas que agreguem saldos residuais e cumulativos para o objetivo estratégico daquela base social, identificando sua posição em disputa com as outras bases sociais.

Poder e Base Social

O poder como a capacidade de influenciar, controlar ou moldar ou impor uma vontade as ações e decisões de pessoas ou grupos. A base social refere-se ao conjunto de indivíduos que compartilham semelhanças, como interesses, posições e relações sociais, herança cultural e estruturas econômicas. O poder é conquistado e mantido por meio da ação de uma base social, ou um conjunto de grupos sociais com alguma coesão ou amarração de sua identidade e interesses materiais ou certezas imaginárias. Quanto maior for a adesão da base social, mais consolidada for sua identidade, melhor se fizer a sua organização com atitude e disposição para o embate, mais forte será o poder desta base social que, ao fim, terá capacidade para exercer este poder sobre outras bases sociais.

Classe Social e Disputa de Classe

A sociedade é estratificada em classes sociais com base em diferenças de propriedade, renda, interconexões sociais e situação em relação à estrutura produtiva. A disputa de classe é a dinâmica dialética da relação entre diferentes classes que se eleva na construção de uma supremacia de umas sobre as outras. Essas disputas se manifestam em várias formas, como lutas por leis e direitos, por políticas governamentais ou melhorias setoriais quando se expressam na pequena política. Já na grande política são as disputas de poder e dominância social totalizante que realizam ou materializam as relações classistas.

Poder de Classe e Ideologia Dominante

O poder de classe emerge quando uma classe social conquista e exerce um domínio em todos as esferas sociais sobre as demais classes, permitindo que seus interesses particulares sejam naturalizados e institucionalizados como interesse geral. A ideologia da classe dominante legitima a ordem social existente, promovendo valores, crenças e normas que sustentam seu domínio. Isso influencia a percepção da realidade, moldando as perspectivas e comportamentos das classes sociais subalternas, consolidado em um senso comum idealista e conservador.

Organização e Partido

Um coletivo partidário, um Partido Político é historicamente a melhor ferramenta para uma base social estruturar sua organização para participar na grande política da disputa de poder entre classes. Uma base social ou classe social dominada vive no seu senso comum derivado de sua situação de subalternidade. A partir de Lênin sabemos que somente um coletivo organizado dentro da sua classe, que esteja imbuído de um novo sentido e missão estratégico de poder para sua classe, terá capacidade de influenciar, motivar e organizar esta base social para um novo tipo de ação na grande política, entrar nas disputas classistas para ousar e vencer.

A ferramenta Partido de classe para a classe, com estratégia de poder classista, pode levar a sua base ou classe social a abrir contenda com a classe dominante, com vistas ao estabelecimento de uma nova dominância de poder. É a articulação entre base social, partido desta base e orientação estratégica para o poder desta mesma base social que pode construir o devir histórico na luta com uma dominância de uma classe já estabelecida.

Conclusão Classista

As relações entre base social e poder são forças motrizes das dinâmicas políticas e sociais. A consolidação de objetivos estratégicos de poder classista, com o desenvolvimento de ações táticas consequentes para cada nova situação e a construção de uma teoria revolucionária para as condições do presente são fundamentos do êxito da ação em e para a nossa classe trabalhadora. A política é o campo de batalha onde diferentes bases sociais se enfrentam e pelo poder de definir a direção da nação e para fazer a sua história.

18/09/2023

Publicado em: https://emdefesadocomunismo.com.br/base-social-e-poder-relacoes-entre-classes-sociais-disputa-de-poder-e-objetivos-estrategicos/

 

sábado, 7 de maio de 2022

O Significado do Afundamento do Cruzador Moskva - 121


Após o choque com a informação acerca do afundamento da nau capitânia da Marinha Russa no mar Negro, o Moskva no dia 03.04.2022, um grande navio quase sem rival no mundo e com capacidades anti-aéreas de alto nível, como pode ter sido afundado assim de fácil por um ataque ucraniano que nem se estimava que teria estas capacidades?


O Cruzador Moskva-121 foi lançado ao mar em 1979, um projeto dos anos 70, com 12.000 toneladas de deslocamento, em comparação, um Destroier desloca 7.000 T, o porta helicópteros como o navio Atlântico da Marinha Brasileira desloca 22.000 T, ou seja, o Moskva era um navio grande mas não era gigante.


O Cruzador estava armado com uma impressionante bateria de mísseis anti-navios supersônicos, desenvolvidos para furar as defesas dos grupos de batalha da marinha americana e afundar os gigantescos porta-aviões norte-americanos. Ademais possui a versão naval do sistema antiaéreo S300, com 150 km de alcance e era seu principal recurso no ambiente da guerra da Ucrânia.


Acontece que o sistema antiaéreo S-300, mesmo tendo capacidades impressionantes, é pouco efetivo na defesa contra os ataques de mísseis anti-navio que voam muito baixo e só são detectáveis pelo navio quando surgem no horizonte, a uns 20km de distância. Para confrontar um ataque deste tipo o Moskva possuía sistemas de mísseis antiaéreos de curta distância (SA-N-4) e canhões rotativos (AK-630). Para coordenar tudo isto contava com uma eletrônica avançada, sensores de longa distância e sistemas especializados de guerra eletrônica.


A notícia foi disseminada pelo governo Ucraniano, o navio Moskva teria sido atingido por dois mísseis anti-navio subsônicos Neptune e afundou devido às avarias e incêndios decorrentes dessa ação. Não houveram muitos especialistas militares que tomaram a versão ucraniana pelo valor de face, inclusive por que a ogiva do míssil 150kg não seria suficiente para causar danos de tamanha monta em um navio deste tamanho e na pouca fé em relação a operacionalidade e eficiência do sistema ucraniano contra os sistemas de defesa do navio russo.


Mas vamos aos detalhes, o sistema ucraniano Neptune(RK-360) composto por mísseis anti-navio com 280 Km de alcance e uma ogiva de 150kg (adequada para desabilitar navios pequenos e médios), tem sido desenvolvido desde 2015 e segundo informações foi construída e entregue uma bateria de mísseis em Março 2021 à marinha Ucraniana, com capacidade de lançamento a partir da costa, sendo que não foram desenvolvidas as versões para lançamento aéreo nem naval por falta de recursos, ou seja trata-se de um sistema de armas sofisticado que em média demanda 10 anos de desenvolvimento e um grande investimento financeiro em tecnologias  avançadas.


Ainda que o Neptune seja operacional, a possibilidade de que os ucranianos conseguiram lançar uma salva de uns 4 mísseis e estes encontrassem o alvo, vencessem o sistema de defesa de médio e curto alcance do navio e dois deles atingissem de forma tão efetiva que o levassem a pique é um cenário de baixa probabilidade, não obstante como o Moskva acabou no fundo do mar outras hipóteses tem que ser formuladas.


Vejamos que o governo ucraniano não apresentou um vídeo do lançamento dos mísseis Neptune, o que é intrigante, pois a guerra de imagens e propaganda turbinadas pelos sistemas de comunicações ocidentais são o principal recurso da Ucrânia neste conflito e é onde eles têm conseguido vitórias importantes. Teriam os ucranianos lançado seus mísseis nativos com estrondoso sucesso, mas não filmaram nem propagandearam o lançamento? Julgo que a probabilidade deste cenário é baixa também.


Retornando a estrutura do Moskva, relembremos que é um projeto dos anos 70 e a engenharia militar soviética alocava pouca prioridade para a proteção da munição, isto pode ser visto a olho nu quando um tanque de desenho soviético usado pelos dois lados em conflito nesta guerra é atingido por uma arma anti-tanque que consegue furar a blindagem principal, em seguida observa-se uma explosão catastrófica da munição armazenada exposta e sem proteção. Os mesmos princípios de projeto foram aplicados ao Moskva, a munição/mísseis não ficam protegidos por magazines blindados, isto é agravado pela inexistência de sistemas de detecção de combate a incêndio automatizados, o navio era bonito, forte, muito bem armado, mas possuía fragilidades estruturais de sua antiga concepção. Este conjunto explicaria a facilidade como o navio foi mortalmente comprometido com apenas um evento de ataque na versão ucraniana ou acidente como consta na versão russa.


Mas vamos aprofundar o contexto do evento para clarear nossa aproximação do fato histórico. Desde antes do início da guerra, os sistemas de espionagem militar, monitoramento e guerra eletrônica da OTAN liderada pelos Estados Unidos estão focados na Ucrânia, fornecendo informações ao comando e governo ucranianos que tem sido essencial para manter o governo em pé. Sem a maciça ajuda dos EUA/Europa/OTAN é bem alta a probabilidade de que a Ucrânia seria derrotada em poucos dias.


Analistas coincidem quanto à participação dos sistemas da OTAN na identificação da localização e movimentos do Moskva e na coordenação do ataque com mísseis, pois isto seria o cenário de maior probabilidade. Um ataque de sucesso desta monta implica em muitos fatores influentes que são solucionados com a concorrência de múltiplos sistemas e recursos na inteligência, preparação e execução, recursos obrigatórios também devido a distância do navio da costa ucraniana, mais de 100 Km, o que ultrapassa as capacidades dos radares baseados em terra da ucrânia.


A contribuição da OTAN com recursos de inteligência e coordenação das forças ucranianas já é dado como estabelecido, ou seja, a guerra está sendo travada entre a OTAN e a Rússia, com a Ucrânia operando e resistindo na medida dos recursos que o ocidente liderado pelos EUA são enviados e tornados operacionais. Isto explica o sucesso e a alta moral ucraniana pois contam com informações dos satélites e aviões espiões e monitoramento informatizado da NSA dos EUA, da escuta e decodificação da comunicação russa, ademais de mísseis avançados fornecidos pelos EUA/OTAN. Todo este apoio ou sustentação da OTAN é tremendamente efetivo e motivador, não fosse isso o arsenal ucraniano de origem soviético de 30 anos atrás já teria sido liquidado.


Apesar de ser evidente a posse e utilização pelos ucranianos de mísseis anti-carro e anti-aéreos fornecidos aos milhares e gratuitamente pelos EUA/OTAN estimava-se que estas eram as armas mais avançadas e poderosas que estes teriam disposição para entregar à Ucrânia para combater a Rússia.


Interessante notar que já em 25 de março, oito dias antes do ataque ao Moskva já apareciam filtrações de informações acerca da disposição da OTAN e em especial o Reino Unido em fornecer sistemas anti-navio avançados para a Ucrânia, como aponta Jack Buckby em seu artigo: https://www.19fortyfive.com/2022/03/putin-has-a-problem-nato-could-send-anti-ship-missiles-to-ukraine/ , no mesmo dia outra fonte apresentou o mesmo argumento:  Biden Admin Considers Supplying Harpoon Anti-ship Missiles To Ukraine, A Death Blow To Russian Navy – Global Defense Corp. Sendo que no mesmo dia do ataque esta informação passou a ser disseminada mais amplamente por canais na web: https://digitnews.in/on-boarding-great-britain-will-give-ukraine-anti-ship-missiles-harpoon/  e   https://www.ukrinform.net/rubric-ato/3447206-britain-to-send-ukraine-arms-to-protect-odesa-coast.html.


Estas filtrações de informação citam especificamente o sistema Harpoon anti-navio fabricado nos EUA, com alcance de mais de 200Km e uma ogiva de 250Kg, suficiente para navios médios e grandes. Coincidentemente o Harpoon tem aproximadamente o mesmo tempo de emprego do Moskva, mas o míssil tem sido continuamente aperfeiçoado, é um sistema provado, avançado e capaz de vencer defesas navais sofisticadas.


A hipótese de que o Moskva teria sido atingido por dois mísseis Harpoon modernos que ultrapassaram suas defesas e causaram danos catastróficos que levaram ao afundamento do cruzador é de uma probabilidade alta, pois estes mísseis teriam a capacidade de realizar este feito, ao contrário do míssil ucraniano que é mais um conjunto de limitações e interrogações.


Um cenário hipotético da operação de ataque iniciaria a partir do monitoramento do Moskva pelos aviões e sensores da OTAN, principalmente dos EUA e UK, um sistema de lançamento Harpoon a partir de terra composto por uns 3 caminhões, seria despachado de avião da Inglaterra até um país vizinho da Ucrânia, por exemplo, para o aeroporto de Constança na Romênia e seguiria por terra atravessando a fronteira Ucraniana até o sul de Odessa que dista 350 km. Em um ponto do litoral uma equipe de militares ingleses faria o lançamento dos mísseis e retornaria imediatamente para a Romênia, o controle da operação poderia ser facilmente realizado a partir dos aviões de radar, comando e controle da OTAN que também poderiam afetar os sensores do Moskva via guerra eletrônica. Este roteiro é uma operação militar de alguma complexidade, mas que depende principalmente da decisão política do governo inglês liderado por Boris Johnson e seus aliados da OTAN na direção da escalada do conflito com a Rússia.


A atuação dos Estados Unidos em coalizão com vários países europeus são a principal força no teatro político da Ucrânia, desde a construção do golpe de estado de 2014 que derrubou o governo eleito e tem evoluído com apoio cerrado e sustentação do governo ucraniano inclusive no incremento do conflito com a Rússia, agravado pela independência e anexação da Criméia pela Rússia e o movimento autonomista das repúblicas de Lugansk e Donetsk. A Operação Especial ou Guerra da Ucrânia, só fez acirrar a confrontação em curso desde 2014.


A origem histórica da presente guerra vem da expansão da OTAN em direção à fronteira Russa a partir dos anos noventa do século passado, mas os eventos que aparentemente levaram o governo Russo a tomar a drástica, custosa e arriscada medida de atacar a Ucrânia foram o início dos ataques e bombardeios das repúblicas autonomista pela Ucrânia e a declaração do Presidente Zelenski de que seu país iria reconstruir seu arsenal atômico. Nenhum país em situação confronto de baixa intensidade deixaria de responder de uma forma ou de outra a este tipo de movimento de um país fronteiriço. É alta a probabilidade que estes movimentos de Zelenski tenham origem na influência externa sob seu governo.


A resposta dos EUA e da Europa ao ataque russo foram as esperadas, talvez a intensidade é que está surpreendendo. O quadro geral da reação ocidental tem sido duro e contundente. Primeiramente realizando congelamento e sequestro das reservas financeiras soberanas russas que estavam sob guarda dos Bancos Centrais e bancos privados da América e Europa, só isto já é um ato de guerra e guerras totais já foram declaradas a partir deste tipo de sequestro. A segunda reação foi implantar o mais extenso regime de sanções econômicas, diplomáticas e midiáticas contra a Rússia já visto, também é necessário notar que bloqueios e sanções econômicas também são atos de guerra e já serviram de base para o acirramento de conflitos e declarações de guerra total. O terceiro movimento ocidental foi o de fornecer gratuitamente bilhões de dólares em armamento avançado para um dos lados em conflito, este tipo de ação é percebido como engajamento do lado de um país combatente contra o outro e também já serviu de justificativa para guerras. Cito enfim a atuação da OTAN no fornecimento de informações e coordenação das ações táticas das forças ucranianas, a OTAN está na prática comandando as forças em combate da Ucrânia.


Todo este quadro pesado de engajamento político, econômico e militar contra a Rússia não se pode definir como simbólico ou de apoio distante. Os EUA e OTAN estão plenamente engajados na guerra da Ucrânia contra a Rússia e para escalar o nível do conflito só faltaria a OTAN entrar em combate direto e começar a atirar nos russos.

Este é o duro e dramático significado das possíveis causas do ataque e afundamento do principal navio russo no cenário desta guerra.


Bem, tudo isto podemos inferir a distância, mas os russos podem e devem ter muito mais informações para identificar todos os contornos dos eventos do ocaso do Moskva e preparar sua reação. Não seria a primeira vez que vemos operações semelhantes, na guerra da Síria em novembro de 2015, a força aérea turca disparou um míssil a partir da Turquia e derrubou um jato SU-24 russo em território sírio, é alta a probabilidade de este ataque ter sido uma provocação montada pela OTAN contra a Rússia.


De outra parte, o governo ucraniano a cada dia está mais isolado de seu próprio povo, banindo partidos, prendendo a oposição e executando participantes de seu próprio governo que se mostram menos belicosos. Está claro que quem está sustentando definindo as diretrizes e ações do governo são as potências ocidentais que hoje mantêm econômica, política e militarmente o governo em pé - é o governo da OTAN na Ucrânia. E o cerne da política da OTAN é derrotar, desgastar e se possível desestruturar a Rússia, nem que esta guerra dure anos e arrase o país, este objetivo tem que ser atingido até o último ucraniano.


Não temos visto nenhuma liderança nos países ocidentais peleando pela paz, tentando construir algum rumo para desescalada do conflito e montar uma solução de compromisso, na verdade, o bloco pró guerra total parece que só faz aumentar. Acontece que a Rússia é uma potência nuclear e dispõe de 6000 ogivas nucleares e pode fazer uso delas se pressentirem a montagem de um cenário de ameaça existencial ao país.


O governo Russo com Putin na liderança tem confiança e apoio popular e nos 20 anos que acompanhamos seu governo só se viu um governo estratégico que move suas peças com frieza e planos consistentes de longo prazo.


Não se vê perfil semelhante no ocidente, parece que a onda belicosa e militarista está em franco crescimento e tomou todos os governos da OTAN com um competindo com outro pela liderança no acirramento. Seguramente governos ocidentais e seus militares imaginam ou tem certeza que podem vencer uma guerra nuclear com a Rússia e que os custos para sua própria população serão limitados e administráveis, compensando por ter um mundo sem a Rússia ou sem qualquer um que não se subordine ao sistema.


No sentido do processo histórico de longo prazo observamos a reconstrução da Rússia sob Putin como uma potência regional, que faz o jogo dos interesses nacionais no cenário das nações, para consolidar esta posição de autonomia e força, falta vencer uma guerra, o que foi o caso da URSS ao vencer a Grande Guerra Patriótica. Esta deve ser a meta das elites capitalistas governantes do ocidente, impedir uma Rússia forte e não subordinada ao sistema imperialista ocidental com os EUA no topo.


O jogo tem ficado cada dia mais perigoso e a névoa da guerra tende a produzir decisões baseadas em impressões confusas e respostas intempestivas em situações de pressão. Se a confrontação evoluir para eventos como o afundamento do Cruzador Moskva onde pode-se ter informações dúbias ou duvidosas, ou em meio ao tiroteio, a OTAN resolver dar o último passo em direção a guerra contra a Rússia, poderemos ver uma guerra de proporções catastróficas que terá consequências devastadoras para o hemisfério norte, muitas forças estão trabalhando para construir este cenário trágico.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Aquecimento terrestre - Mínimo Solar

Mínimo solar começa e tende a diminuir temperaturas na Terra . https://www.correiodobrasil.com.br/minimo-solar-comeca-tende-diminuir-temperaturas-terra/

Com esses raios cósmicos em alta, cientistas sabem que o Sol está prestes a entrar em um período de resfriamento prolongado. Esse processo solar longo e profundo poderá fazer com que as temperaturas médias da Terra caiam.

 

Por Redação, com Sputniknews – de Moscou

 

Pesquisadores alertam que o mínimo solar chegou – potencialmente o mais longo da história – podendo causar mudanças climáticas caóticas e efeitos indesejáveis para viagens aéreas, devido à alta intensidade de raios cósmicos. Esse processo solar longo e profundo poderá fazer com que as temperaturas médias da Terra caiam.

A atividade solar tende a diminuir nas próximas décadas, com resultados catastróficos para a Terra

Um sinal de que o mínimo solar está em processo é a perda de partículas que o Sol está sofrendo – isso permite que mais fragmentos solares penetrem na Terra, cita o tabloide britânico Express.
Menos calor em um mínimo solar se deve a uma diminuição das ondas magnéticas.

Resfriamento

Essa diminuição nas ondas equivale a um Sol ligeiramente mais frio. Com menos ondas magnéticas vindas do Sol, os raios cósmicos conseguem chegar à Terra com mais facilidade (porque não precisam lutar contra tantos ventos solares), podendo causar sérios impactos para o nosso planeta, inclusive nas viagens aéreas e para o nosso clima.

Com esses raios cósmicos em alta, cientistas sabem que o Sol está prestes a entrar em um período de resfriamento prolongado. Especialistas preveem ainda que o ciclo solar 25 (atual) deve ser parecido com o ciclo solar 24, que foi marcado por um mínimo longo e um máximo de baixa intensidade.

"O Sol continua sendo muito silencioso e tem estado sem manchas solares neste ano mais da metade do tempo à medida que nos aproximamos do que é provável que seja um mínimo solar profundo", afirma ao site Perspecta Weather o meteorologista Paul Dorian.

Era do Gelo

"Um dos impactos naturais da diminuição da atividade solar é o enfraquecimento do vento solar ambiente e do seu campo magnético que, por sua vez, permite que cada vez mais raios cósmicos penetrem no Sistema Solar (…). A intensificação dos raios cósmicos pode ter consequências importantes em coisas como a nebulosidade e o clima da Terra, a segurança de passageiros aéreos e como um possível mecanismo desencadeador de relâmpagos", explica.

O mínimo solar mais longo da história, o Mínimo de Maunder, ocorreu entre 1645 e 1715 e durou incríveis 70 anos. Este fenômeno fez com que as temperaturas caíssem globalmente em 1,3 grau Celsius, além de ter encurtado as estações e gerado escassez de alimentos – tal efeito foi chamado de "Era do Gelo em miniatura".

O site meteorológico Vencore Weather ressalta que "a baixa atividade solar é conhecida por ter consequências sobre as condições meteorológicas e o clima da Terra", além de estar "correlacionada com um aumento dos raios cósmicos que atingem a parte superior da atmosfera".

"O Sol em branco é um sinal de que o próximo mínimo solar está se aproximando e haverá um número crescente de dias sem manchas solares nos próximos anos", complementou.

domingo, 25 de dezembro de 2016

O Melhor Filme Sobre O Movimento OperáRio Em Todos Os Tempos



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Assista No Blogue Do NáUfrago Ao Melhor Filme Sobre O Movimento OperáRio Em Todos Os Tempos
// Náufrago da Utopia



Trata-se de Os companheiros (1963), de Mario Monicelli, com Marcello Mastroianni no papel de um professor militante que vai ajudar os operários de uma indústria têxtil de Turim a realizarem sua primeira greve contra a exploração extrema a que eram submetidos no final do século retrasado. 


Na década de 1960, conheci a fábrica no qual meu pai trabalhou durante a vida inteira (o Cotonifício Crespi, um dos primeiros marcos da industrialização de São Paulo, no bairro paulistano da Mooca) e era praticamente idêntico ao mostrado no filme: enorme, mal iluminado, mal ventilado, com uma poeira sufocante que me fez tossir instantaneamente. Quando assisti a Os companheiros, logo me ocorreu que era enorme o atraso brasileiro, a ponto de nossas indústrias se parecerem tanto com as da Europa de quase sete décadas atrás.




Outra lembrança marcante é a de que, quando nossa Frente Estudantil Secundarista começou a pegar no breu em 1968, negociei com o cinema de arte Bijou (na praça Roosevelt, centro de São Paulo) a realização de sessões de Os companheiros nas manhãs de domingo. Exibíamos o filme para os jovens recrutas e promovíamos rápidos debates no final, como parte do programa de conscientização política. 


Aproveito para incluir a apresentação deste filmaço no excelente blogue português My Two Thousand Movies, do meu amigo virtual Francisco Rocha:  


O cenário é uma fábrica têxtil em Turim, no final do século XIX. Cerca de 500 trabalhadores suportam turnos de 14 horas, debaixo de situações extremas, desde o calor, poeira, o perigo de sofrer um acidente de trabalho, e são mal pagos. Um dos trabalhadores fica com a mão mutilada por uma máquina, situação que serve de impulso para que os outros, pelo menos, pensem mudar as condições de trabalho. 




Talvez graças à sorte ou ao destino, um professor e socialista chamado Sinigaglia (Marcello Mastroianni) está de passagem pela cidade (em fuga de crimes políticos), e oferece uma ajuda na organização dos trabalhadores. Segue-se uma greve, que se arrasta por várias semanas, testando a vontade dos trabalhadores...


Esta sinopse faz o filme parecer mais um melodrama sobre as más condições das classes trabalhadoras. Na realidade, é muito mais do que isso, e o que o faz ser tão brilhante e surpreendente é a forma como é apresentado, tornando-o também numa obra de entretimento. 

Além da tragédia, também há um pouco de romance, comédia, farsa, comentário social. O argumento e o trabalho de realização fazem um trabalho magistral, ao desenvolver várias personagens em vários sub-plots numa história bastante multidimensional. 


A maioria dos filmes politicamente orientados são polêmicos, o que por vezes os distancia do grande público. I Compagni é tão envolvente, tão animado, tão cheio de personagens vibrantes, que o aspecto da mensagem da história funciona a um nível quase sublimar.


Mario Monicelli (mais conhecido no território da comédia) e o produtor Franco Cristaldi tiveram de ir até à Iugoslávia para encontrar uma fábrica em pleno funcionamento, com as suas dezenas de teares movidos por um motor a vapor, e ativados por eixos de transmissão. O edifício da fábrica parece um acidente prestes a acontecer. Com figurinos e cenários tão rigorosamente preparados e um look típico do século XIX a ser muito bem mantido, desde os quartos baratos alugados pelo trabalhadores, aos restaurantes chiques onde Niobe (Annie Girardot) encontra os seus clientes.



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O Filme Definitivo Sobre "O Pinochetazo".



Assistam Ao Filme Definitivo Sobre O Pinochetazo. é De Arrepiar!
// Náufrago da Utopia



Chove sobre Santiago (Il pleut sur Santiago, 1975) é um filme superlativo, simplesmente obrigatório para quem quer entender o ciclo das ditaduras direitistas instaladas na América Latina, com beneplácito estadunidense, nos anos 60 e 70. 


Mostra o desencadeamento do  pinochetazo no dia 11 de setembro de 1973, seus antecedentes desde a vitória eleitoral da Unidade Popular (incluindo o acalorado debate no seio das forças direitistas, sobre a aceitação ou não do veredicto das urnas), as realizações do novo governo, a escalada de sabotagem que foi sofrendo, o golpe e o banho de sangue subsequente.


A opção pelo drama histórico  (ao invés de um simples documentário) foi felicíssima: o diretor chileno Helvio Soto conseguiu prender a atenção dos espectadores com uma narrativa tensa, contundente e emocionante, sem prejuízo dos aspectos didáticos do filme, que se propunha a esclarecer o mundo sobre o que realmente aconteceu no Chile.


É de arrepiar a sequência do assassinato do grande Victor Jara num estádio de futebol utilizado como centro de detenção de milhares de prisioneiros políticos. Desafiado pelos militares golpistas a cantar para seu público lá presente, ele ousadamente o fez, até ser morto (não a coronhadas, como se dizia na época em que o filme foi feito, mas a tiros, tendo uma autópsia efetuada em 2009 constatado marcas de 44 disparos --as mãos, sim, foram esmagadas pelas coronhas dos soldados). 


Idem a do enterro do Prêmio Nobel de Literatura Pablo Neruda, de câncer de próstata e muito mais de desgosto, dez dias após o golpe. É difícil conter as lágrimas ao vermos os acompanhantes, em meio a todo aquele desalento e intimidações, no auge do terror fascista, terem forças e coragem para gritar: "Companheiro Neruda? Presente! Agora e sempre!".




Idem a do último discurso de Allende, consciente de que a morte era inevitável, depois de ter recusado a oferta de lotar um avião com seus seguidores mais próximos e partir para o exterior.


O título do filme é a senha utilizada pelos golpistas para informar a seus cúmplices do país inteiro que era aquele o momento de estuprar as instituições. As rádios noticiavam a cada momento que chovia sobre Santiago, embora tal não estivesse ocorrendo.


Destaque para as magníficas atuações dos atores consagrados que colaboraram solidariamente para a viabilização do projeto de Soto -- Jean-Louis Trintignant, Bibi Andersson, Annie Girardot, Riccardo Cucciolla e Bernard Fresson, dentre outros-- e para as músicas inspiradíssimas de Astor Piazzola.


Recomendo fortemente aos leitores que não deixem de ver Chove sobre Santiago, mesmo com uma qualidade de imagem menos satisfatória que da habitual. 


E, para quem quiser saber mais sobre o sangrento golpe de estado que extirpou um dos mais belos experimentos socialistas de nosso continente, recomendo este esclarecedor artigo do repórter e documentarista australiano John Pilger.

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A imagem não é das melhores, mas vale a pena assistirmos mesmo assim.



sexta-feira, 15 de julho de 2016

Mobilidade Social e Meritocracia: estudos sobre as famílias mostram que os ricos e os pobres são os mesmos de sempre.

Fonte: DCM



No ano de 1427, a então pequena província de Florença elaborou um censo entre seus habitantes com a finalidade de cobrar impostos. Ali ficou registrado, além do nome, o que faziam, quanto ganhavam e qual o patrimônio dos moradores da cidade que já tinha dado ao mundo Dante Alighieri e ainda nos presentearia com Leonardo Da Vinci.
Recentemente aquele levantamento foi digitalizado e disponibilizado na internet. Foi então que dois economistas da Banca D'Italia (o Banco Central italiano), realizaram um estudo com base nas informações disponíveis cruzando-as com as declarações de renda de famílias remanescentes na cidade até 2011. Guglielmo Barone e Sauro Mocetti ficaram espantados. Num arco de seis séculos, mais precisamente após 584 anos, as famílias mais ricas em 1427 eram as mesmas em 2011. E ainda: os sobrenomes dos contribuintes mais pobres também não haviam mudado.
A tecnologia da digitalização permitiu não apenas fazer um comparativo sobre uma linha temporal longa, como colocou em dúvida alguns mitos sobre o capitalismo. No geral esses estudos cobrem 2 ou 3 gerações contíguas e podem dar uma sensação de alternância ou de migração de riqueza para outras mãos. Por vezes, um filho playboy mais rebelde e inconsequente termina mal e isso indicaria, numa medição precipitada, que haveria uma anulação na transmissão de bens e nas vantagens sociais e econômicas. Errado. A hereditariedade e os mecanismos de proteção das elites, quando analisados numa linha de tempo maior, comprovam uma estabilidade assombrosa.
Nas estatísticas, desde então a renda per capita em Florença foi multiplicada por doze, a população aumentou dez vezes e a cidade cresceu. É a maior cidade e também capital da Toscana. Em números frios, tudo melhorou, certo? Porém os mais ricos continuam sendo os mais ricos e os mais pobres permanecem ralando dia e noite para chegar lá, sem sucesso. Onde está a mobilidade social?
Os italianos não foram os únicos a constatarem essa realidade. Pesquisadores ingleses também já tinham feito um outro levantamento no qual ficou demonstrado que famílias da Inglaterra são ricas e poderosas há 28 gerações. Uma prova de que o 1% está no alto do pódio há mais de 800 anos.
O trabalho dos pesquisadores da terra da rainha abrangeu o período entre os anos de 1170 e 2012 e, além de analisarem os dados priorizando os sobrenomes das famílias, utilizaram informações sobre grau de escolaridade e instituições de ensino frequentadas. Daí vemos aquela confirmação daquilo que todos intuímos.
Gregory Clark e Neil Cummins revelaram que as famosas Oxford e Cambridge despontam entre as classes mais ricas e evidenciam uma seletividade obscena mesmo com o acesso livre durante um período. Os pesquisadores acreditavam que o apoio do Estado com o fornecimento de bolsas para o ingresso nas universidades iria ser traduzido em uma maior variedade de sobrenomes entre aqueles que nelas se formavam. "Não há nenhuma evidência disso. Os nomes da elite persistiram tão tenazmente a partir de 1950 como antes do incentivo. O status social é fortemente herdado", afirmaram. Ou seja, de nada resolve abrir as portas do ensino universitário sem ter oferecido uma boa base.
"Essa correlação é inalterada ao longo dos séculos. Ainda mais notável é a falta de um sinal de qualquer declínio na persistência de status social durante os períodos de mudanças institucionais como a Revolução Industrial do século XVIII, a disseminação da escolarização universal no final do século XIX, ou a ascensão do estado social-democrata no século XX. A mobilidade social na Inglaterra em 2012 foi pouco maior do que no tempo pré-industrial", cravou Neil Cummins, da London School of Economics.
Thomas Piketty, em seu "O capital no século XXI", sustenta que a concentração de renda vem aumentando os índices de desigualdade. Os estudos dos economistas italianos e ingleses não afirmam isso mas ratificam o livro do francês. Se o topo da sociedade é habitado pelos mesmos há séculos, se a correlação entre sobrenomes e status social não se altera nunca, é lógico supor que a propensão é por um maior distanciamento entre as camadas.
O que esses estudos dizem com todas as letras (e números) é que os ricos se mantém ricos ao longo de séculos sem muitas dificuldades. E que o capitalismo que sugere ser dinâmico, meritocrático, justo, etc e tal, não passa de propaganda enganosa. No longo prazo, pouca coisa muda. É culpa exclusiva do sistema então? Não, até porque concentração de renda é ruim para o próprio capitalismo. O dinheiro não circula, está sempre as mãos dos mesmos. Mas sem uma preocupação social de base, que realmente dê oportunidades iguais a todos, teremos que continuar a responder à pergunta "Qual a possibilidade de um jovem mudar seu destino em relação a suas origens?" com um desanimador "Praticamente nenhuma".
O Brasil tem uma história recente (italianos e ingleses fizeram levantamentos desde um período em que Cabral nem haviam chegado por aqui), não temos portanto nenhum estudo que passe perto disso. Mas se puxarmos as listas da publicação Forbes, é possível constatar que não fugiremos da regra. O primeiro ranking da revista, feito em 1987, contava com apenas três brasileiros: Roberto Marinho, Sebastião Camargo e Antonio Ermírio de Moraes. Vinte e sete anos depois, em 2014, já eram 65 os bilionários brasileiros na lista e lá continuavam os Marinho, os Camargo e os Moraes. Com um detalhe que confirma as pesquisas de Mocetti, Barone, Clark e Cummins: dos 65 brasileiros, 25 eram parentes.
Este ano, a Forbes aponta uma redução do número de bilionários verdes-e-amarelos. São 31 mas… tcharam! Lá estão nosso amigos de sempre em companhia de nomes que sabemos irão se perpetuar e facilmente identificados em levantamentos recentes: Safra, Moreira Salles e por aí vai.
O filho de Michel Temer já possui um patrimônio de R$ 2 milhões em imóveis. Michelzinho tem 7 anos de idade. O que ele fez para isso? Nada, nasceu. Essa é a forma mais eficiente de ficar rico.




segunda-feira, 23 de maio de 2016

O auge das lúmpem burguesias latino-americanas, por Jorge Beinstein


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Da Carta Maior

 
Essas lúmpem burguesias trazem mais crises à crise já conhecida, apesar das manipulações midiáticas que tentam demonstrar o contrário.
 

Jorge Beinstein
 
Com a chegada de Mauricio Macri à presidência da Argentina, se desatou, em alguns círculos acadêmicos argentinos, a reflexão em torno do "modelo econômico" que a direita tenta impor. Se tratou não só de buscar perfis específicos e homogêneos de currículo para os novos ministros, secretários de Estado e outros altos funcionários, como também de uma avalanche de decretos que se precipitaram sobre o país desde o primeiro dia de governo. Buscar coerência estratégica a esse conjunto foi uma tarefa árdua, que chocava com contradições a cada passo, obrigando a descartar hipóteses, sem que se pudesse chegar a um esquema minimamente rigoroso. A maior delas foi provavelmente a flagrante contradição entre medidas que destroem o mercado interno para favorecer uma suposta onda exportadora, evidentemente inviável devido à recuperação da economia global. Outra medida contestável é o aumento das taxas de juros, que comprimem o consumo e os investimentos, esperando uma ilusória chegada de fundos provenientes de um sistema financeiro internacional em crise, e que só pode render a configuração de certas "bicicletas especulativas". 
Alguns optaram por resolver o tema adotando definições abstratas pouco específicas e pouco operativas ("modelo favorável ao grande capital", "restauração neoliberal", etc.), outros decidiram seguir o estudo, mas cada vez que chegavam a uma conclusão satisfatória aparecia um novo fato que derrubava o edifício intelectual construído. E, finalmente, também há uns poucos, entre os quais me encontro, que chegamos à conclusão de que buscar uma coerência estratégica geral nessas decisões não é uma tarefa fácil, embora tampouco difícil, já que é simplesmente impossível. A chegada da direita ao governo não significa a substituição do modelo anterior (desenvolvimentista, neokeynesiano ou como se queira qualificar) por um novo modelo (elitista) de desenvolvimento, mas simplesmente pelo início de um gigantesco saque, onde cada bando de saqueadores obtém o botim que pode no menor tempo possível, e, depois de reunir o que foi possível, tenta conseguir mais, torcendo ainda mais as vítimas e, se também é necessário, inclusive dos seus concorrentes. A anunciada liberdade do mercado não significou a instalação de uma nova ordem, mas sim a de um sistema de forças entrópicas, o país burguês não realizou uma reconversão elitista-exportadora, mas sim uma submersão a um gigantesco processo destrutivo.
 
Se estudarmos os objetivos econômicos reais de outras direitas latino-americanas como a da Venezuela, do Equador ou do Brasil, encontraremos similitudes surpreendentes com o caso argentino, incoerências de todos os tipos, autismos desenfrenados que ignoram o contexto global, assim como as consequências desestabilizadoras de suas ações ou "projetos" geradores de destruições sociais desmesuradas, e possíveis efeitos bumerangue contra a própria direita. É evidente que o curto-prazismo e a satisfação de apetites parciais dominam el cenário.
 
Na Década de 80, mas sobretudo na seguindo, nos Anos 90, o discurso neoliberal desbordava otimismo, o "fantasma comunista" havia implodido e o planeta estava à disposição da única superpotência restante: os Estados Unidos. O livre mercado aparecia com sua imagem triunfalista, prometendo prosperidade para todos. Como sabemos, essa avalanche não era portadora de prosperidade, mas sim de especulação financeira, enquanto as taxas de crescimento econômico real global seguiam caindo tendencialmente desde os Anos 70 (e até a atualidade), a massa financeira começou a se expandir em progressão geométrica. Estavam sendo produzidas mudanças de fundo no sistema, mutações nos seus principais protagonistas, que obrigaram a uma nova conceitualização. No comando da nave capitalista global, começavam a ser substituídos os burgueses titulares de empresas produtoras de objetos úteis, inúteis ou abertamente nocivos, e sua corte de engenheiros industriais, militares uniformados e políticos solenes, para dar lugar aos especuladores financeiros, palhaços e mercenários sem piedade. A criminalidade anterior, medianamente estruturada, foi trocada por um sistema caótico muito mais letal. Se retirava o produtivismo keynesiano (herdeiro do velho produtivismo liberal) e começava a se instalar o parasitismo neoliberal.

O conceito de lúmpen burguesia
 
Existem antecedentes desse conceito, por exemplo em Marx, quando descrevia a monarquia orleanista da França (1830-1848) como um sistema sob a dominação da aristocracia financeira, mostrando que "nas cúpulas da sociedade burguesa se propagou a inconsequência em nome da satisfação dos apetites mais insanos e desordenados, que a cada passo chocavam com as próprias leis da burguesia. Inconsequência que, pela lei natural, vai buscar sua satisfação na riqueza procedente do jogo, o prazer dos que se tornam conscientemente crápulas, em esquemas onde o dinheiro o sangue fluem e confluem. A aristocracia financeira, tanto em seus métodos de acumulação quanto em seus prazeres, não é mais que o renascimento do lúmpen proletariado nas altas cúpulas da sociedade burguesa". A aristocracia financeira aparecia nesse enfoque claramente diferenciada da burguesia industrial, classe exploradora inserta no processo produtivo. Se tratava, segundo Marx, de um setor instalado no topo da sociedade, que conseguia enriquecer "não graças à produção, mas sim pelo escamotear da riqueza alheia já criada". Coloquemos essa descrição dentro do contexto do Século XIX europeu ocidental, marcado pelo ascenso do capitalismo industrial, onde essa aristocracia, navegando entre a usura e o saqueamento, aparecia como uma irrupção historicamente anômala, destinada a ser derrubada cedo ou tarde pelo avanço da modernidade. Marx afirmava que, durante o final do ciclo orleanista, "a burguesia industrial via seus interesses em perigo, a pequena burguesia estava moralmente indignada, a imaginação popular se sublevava. Paris estava inundada de libelos. `A dinastia dos Rothschild´, `os usureiros´, `os reis da época´, etc. Neles, se denunciava e anatematizava, com mais ou menos engenho, a dominação da aristocracia financeira".
 
É notável ver os Rothschild, reconhecido clã de banqueiros de origem judeu-alemã, aparecendo como "usureiros", imagem claramente pré-capitalista, durante as décadas que se seguiram e até a I Guerra Mundial, que simbolizou o capitalismo mais sofisticado e moderno. Karl Polanyi os idealizava como peça chave da Haute Finance europeia instrumento decisivo, segundo ele, no desenvolvimento equilibrado do capitalismo liberal, cumprindo uma função harmonizadora, se colocando por cima dos nacionalismos, emaranhando compromissos e negócios que atravessavam as fronteiras estatais, acalmando assim as disputas inter imperialistas. Descrevendo a Europa das últimas décadas do Século XIX, Polanyi explicava que: "os Rothschild no estavam sujeitos a um governo – como família, incorporavam o princípio abstrato de internacionalismo –, sua lealdade se entregava a uma firma, cujo crédito se havia tornado a única conexão supranacional entre o governo político e o esforço industrial, numa economia mundial que crescia com rapidez".
 
O que para Marx era uma anomalia, um resto degenerado do passado, para Polanyi era uma peça chave da "Pax Europeia", do progresso liberal do Ocidente, quebrado em 1914.
 
A permanência dos Rothschild e de seus colegas banqueiros durante todo o longo ciclo do avanço e da consolidação industrial da Europa demonstrou que não se tratava de uma anomalia, mas sim de um componente parasitário indissociável (embora não hegemônico nesse ciclo) da reprodução capitalista. Por outra parte, o estampido de 1914 e o que se seguiu a ele desmentiu a imagem de cúpula harmonizadora, estabelecendo acordos, negócios que impunham equilíbrios. Seus refinamentos e seu aspecto "pacificador" formavam parte de um jogo duplo perigoso, mas bastante rentável: por um lado estimulavam, de forma discreta, todo tipo de aventuras coloniais e ambições nacionalistas – como, por exemplo as corridas armamentistas, que passavam da conta rapidamente – e por outro as acalmavam, quando ameaçavam produzir desastres. Mas essa sucessão de estimulantes e calmantes aplicadas aos monstros que absorviam drogas cada vez mais fortes terminou como tinha que terminar: com um gigantesco conflito, a I Guerra Mundial.
 
O conceito de "lúmpen burguesia" aparece pela primeira vez no final dos Anos 50, através de alguns textos de "Ernest Germain", pseudônimo usado por Ernest Mandel, fazendo referência à burguesia do Brasil, que o autor considerava uma classe semicolonial, "atrasada", não completamente "burguesa" (no sentido moderno ocidental do termo). Foi retomado, mais adiante, nos Anos 60-70, por André Gunder Frank, como uma generalização das burguesias latino-americanas. Tanto Mandel quanto Gunder Frank estabeleciam a diferença entre as burguesias centrais: estruturadas, imperialistas, tecnologicamente sofisticadas, e as burguesias periféricas, subdesenvolvidas, semicoloniais, caóticas, enfim: lúmpen burguesas (burguesias degradadas).
 
Mas esse esquema foi desmentido pela realidade a partir dos Anos 70, com o declínio do keynesianismo produtivista e seus acompanhantes reguladores e integradores. Se desatou um processo de transnacionalização e financeirização do capitalismo global, que nos Anos 90, com a implosão da União Soviética e a aceleração da entrada da China na economia de mercado, adquiriu um ritmo desenfreado e uma extensão planetária. Enquanto a economia produtiva se desacelerava, crescia exponencialmente a especulação financeira, e um de sus componentes principais, os produtos financeiros derivados, equivaliam a duas vezes o Produto Bruto Mundial de 2000 – e em 2008 representavam doze vezes esse mesmo Produto Bruto Mundial. Por sua parte, a massa financeira global (derivados e outros papéis) equivalia, nesse momento, a 20 vezes o Produto Bruto Mundial. Hegemonia financeira avassaladora, que transformou completamente a natureza das elites econômicas do planeta, a desregulação (ou seja, a violação crescente de todas as normas), o curto-prazismo, as dinâmicas predatórias, foram os comportamentos dominantes, que produziram concentração de renda de forma veloz, tanto nos países centrais como nos periféricos, marginações sociais, deterioração institucional (incluindo as crises de representatividade).
 
Tudo isso foi se agravando desde a crise financeira de 2008, confirmando a existência de uma lúmpen burguesia global dominante (resultado da decadência sistêmica geral), cujos hábitos de especulação e saque se relacionam com um afã militarista que potencia essa irracionalidade. Os Estados Unidos se encontram no centro dessa perigosa escalada militar, por exemplo, no Leste da Europa, no Oriente Médio e no Leste da Ásia, acompanhada por claros sintomas de descontrole financeiro, enquanto o Deustche Bank acumula atualmente cerca de 75 bilhões de dólares em produtos financeiros derivados, papéis altamente voláteis, que representavam, em 2015, cerca de 22 vezes o Produto Interno Bruto da Alemanha, e 4,6 vezes o de toda a União Europeia. Do outro lado do Atlântico, cinco grandes bancos norte-americanos (Citigroup, JP Morgan, Goldman Sachs, Bank of America e Morgan Stanley) acumulavam derivados que somam cerca de 250 bilhões de dólares, equivalentes a 3,4 vezes o Produto Bruto Mundial, ou 14 vezes o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos. Imaginemos as consequências econômicas globais do muito provável desabamento dessa massa de papéis, enquanto os grandes lobos de Wall Street jogam pôquer alegremente, admirado pelas pequenas aves carniceiras da periferia, que incitadas a desejar essa "abertura ao mundo", sonhando em participar desse festim.
 
América Latina
 
A América Latina não ficou fora dessa mutação de carácter global. Existe um consenso bastante amplo em quanto à configuração das elites econômicas latino-americanas durante as duas primeiras etapas da "modernização" regional (ou seja, sua integração plena ao capitalismo), entre o final do Século XIX e meados do Século XX: a elite agro-mineira exportadora, com suas correspondentes "oligarquias", seguida pelo chamado período (industrializante) de substituição de importações com a emergência de burguesias industriais locais. Especificidades nacionais de distinto tipo mostram casos que vão desde a inexistência da "segunda etapa" em pequenos países quase sem indústrias até desenvolvimentos industriais significativos como no Brasil, na Argentina ou no México, com burguesias e empresas estatais poderosas. Desde prolongações industriais das velhas oligarquias até as irrupções de classes novas, adventos não completamente admitidos pelas velhas elites, até as integrações de negócios onde os velhos sobrenomes se mesclam com os dos recém chegados.
 
Entre os Anos 60 e 70, o processo de industrialização foi sendo encurralado pela debilidade dos mercados internos e sua dependência tecnológica e das divisas proporcionadas pelas exportações primárias tradicionais, avassalado por um capitalismo global que impôs ajustes e destruiu ou se apoderou de tecidos produtivos locais. A transnacionalização e financeirização globais se expressaram na região como o desenvolvimento do subdesenvolvimento, firmas ocidentais que passaram a dominar áreas industriais decisivas, enquanto bancos europeus e norte-americanos faziam o mesmo com o setor financeiro, ao mesmo tempo se agudizava a exclusão social urbana e rural. A chamada etapa de industrialização por substituição de importações havia significado o fortalecimento do Estado, e, em vários casos importantes, a "nacionalização" de uma porção significativa das elites dominantes, com a emergência de burguesias industriais nacionais instáveis, mas isso começou a ser revertido desde esses Anos 60-70, e o processo de colonização se acelerou nos Anos 90.
 
O que agora constatamos são combinações entre assentamentos de empresas transnacionais dominantes na banca, no comércio, os meios de comunicação, a indústria, etc, rodeados por círculos multiformes de burgueses locais completamente transnacionalizados em seus níveis mais altos rodeados, por sua vez, por setores intermediários de diferentes pesos. Os grupos locais se caracterizam por uma dinâmica de tipo "financeiro", combinando todos os tipos de negócios legais, semilegais ou abertamente ilegais, desde a indústria ou o agro business até o narcotráfico, passando por operações especulativas ou comerciais mais ou menos opacas. É possível investigar a uma grande empresa industrial mexicana, brasileira ou argentina, e descobrir laços com negócios turvos, uso de paraísos fiscais, ou com uma importante empresa de cereais realizando investimentos imobiliários em esquemas de lavagem de dinheiro proveniente de uma rede narco, que por sua vez está associada a um grande grupo midiático. As elites econômicas latino-americanas aparecem como parte integrante da lúmpen burguesia global. São sua sombra periférica, nem mais nem menos degradada que seus paradigmas internacionais. Muito por baixo de todo esse universo, sobrevivem os pequenos e médios empresários industriais, agrícolas ou pecuários, que não formam parte das elites, mas que conseguem ter acesso ao elevador da prosperidade, e são inevitavelmente capturados pela cultura dos negócios confusos. Se não o fazem, na melhor das hipóteses, se estancam, ou começam a trilhar o caminho da ruína.
 
Embora o estudo dessas elites nos leva a descobrir rapidamente que sua dinâmica puramente "econômica" só existe em nossa imaginação. Um negócio imobiliário de grande envergadura certamente requer conexões judiciais, políticas, midiáticas, etc. Por sua parte, para chegar aos níveis mais altos da máfia judiciária é necessário dispor de boas conexões com os círculos de negócios, políticos, midiáticos, etc. E ter sucesso na carreira política requer fundos e coberturas midiáticas, e judiciárias. Em suma, se trata, na prática de um complexo conjunto de articulações mafiosas, grupos de poder transetoriais vinculados a, mais ou menos subordinados a (ou formando parte de) tramas extrarregionais, através de canais de diversos tipos: o aparato de inteligência dos Estados Unidos, um mega banco ocidental, uma rede clandestina de negócios, alguma empresa industrial transnacional, etc.
 
No começo do Século XX, as elites latino-americanas formavam parte de uma divisão internacional do trabalho, onde a periferia agropecuária-minera exportadora se integrava colonialmente com os capitalismos centrais industrializados. Naquele tempo, a Inglaterra era o polo dominante. Logo, o século foi avançando e foram transcorrendo as crises, as guerras, as revoluções e contrarrevoluções, keynesianismos, fascismos, socialismos…
 
Porém, no final desse século, todo esse mundo já estava enterrado, com o triunfo do neoliberalismo e do capitalismo globalizado. Quando este entrou em crise na América Latina, emergiram e se instalaram as experiências progressistas que tentaram resolver as crises de governabilidade com políticas de inclusão social a sistemas que eram mais ou menos reformados, buscando fazê-los mais produtivos, menos submetidos aos Estados Unidos, mais igualitários e democráticos. As elites dominantes se tornaram histéricas. Embora não tenham sido seriamente deslocadas, perdiam posições de poder, negócios suculentos escapavam entre as suas mãos e sua agressividade foi aumentando na medida em que a crise global dificultava suas operações. Por sua parte, os Estados Unidos, em retrocesso geopolítico global, acentuou suas pressões sobre a región, tentando sua recolonização. Ao começar o ano de 2016, os progressismos se encontram encurralados, como no Brasil e na Venezuela, ou derrubados, como no Paraguai e na Argentina. Obama esfrega as mãos e seus abutres se lançam ao ataque. Os capriles e macris cantam vitória, convencidos de que estamos retornando à "normalidade" (colonial), mas não é assim: na verdade, estamos ingressando numa nova etapa histórica, de duração incerta, marcada por uma crise deflacionaria global, que vai se agravando, e vem acompanhada por sinais alarmantes de guerra.
 
As elites dominantes locais não são o sujeito de uma nova governabilidade, mas sim o objeto de um processo de decadência que as desborda. Pior ainda, essas lúmpen burguesias trazem mais crises à crise já conhecida, apesar das manipulações midiáticas que tentam demonstrar o contrário, acreditando ter muito poder, mas sem perceber que não são mais que instrumentos cegos de um futuro sombrio. Embora o declínio real do sistema abra a possibilidade de um renascimento popular, seguramente difícil, doloroso, não escrito em manuais, nem seguindo rotas bem pavimentadas e previsíveis.
 
Tradução: Victor Farinelli


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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Os programas militares estratégicos brasileiros, a quem interessa mantê-los ou destruilos?

por Narciso Alvarenga Monteiro de Castro, no http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/narciso-alvarenga-monteiro-de-castro-o-desmonte-de-nossos-programas-estrategicos.html">Viomundo

Em 14 de junho de 2012 foram comemorados os trinta anos do fim da Guerra das Malvinas entre o Reino Unido e a República Argentina, que, como todos sabem, terminou com a rendição dos soldados argentinos em Porto Stanley.

Foi a primeira “guerra tecnológica” e precedeu outra, a Guerra do Golfo, onde os artefatos high-tech puderam ser demonstrados aos olhos do mundo e em tempo real.

Para nós, brasileiros, as lições mais importantes do conflito, além de testemunhar o heroísmo dos soldados portenhos e principalmente de seus pilotos de caça, foram: os Estados Unidos (e de resto a Europa) se alinham automaticamente aos seus e um submarino de propulsão nuclear deixa fora de ação toda uma esquadra convencional.

Um pouco antes, a Marinha do Brasil já ensaiava os primeiros passos buscando o domínio do ciclo atômico, com os Almirantes Maximiano da Fonseca, Mário Cezar Flores, Álvaro Alberto e, principalmente, o Vice-Almirante Dr. Othon Luiz Pinheiro da Silva.

Para um país de larga extensão costeira, fica claro que a estratégia baseada na dissuasão é a mais eficaz. Os primeiros submarinos da esquadra foram adquiridos em 1914 de procedência italiana. A tradição de construção de navios em nossas terras vem antes de 1808, com a chegada de D. João VI e nunca foi interrompida, apesar dos altos e baixos.

Hoje, o país pode se orgulhar de dominar a sensível tecnologia da construção de submarinos ou submersíveis, adquirida da Alemanha. Mais recentemente, um acordo estratégico assinado com os franceses deu um passo além: a aquisição de tecnologia para projetar submarinos, que ao final, capacitará o país a lançar o seu primeiro submarino de propulsão nuclear.

Um submarino convencional é movido a motor diesel e baterias. Segundo o Contra-Almirante Othon tal embarcação não passa de um jacaré ou uma foca, fácil de ser abatida. A explicação é simples. Para submergir, os motores precisam ser desligados, pois produzem gás, que não teria como ser expelido devido a maior pressão.

Então, o tempo que um submarino convencional pode ficar escondido (stealth) é o tempo de duração de suas baterias, uns poucos dias. Ao subir à superfície, para recarregar as baterias e o ar, pode ser facilmente abatido, pois, além disso, é muito lento.

Um submarino de propulsão nuclear pode ficar meses embaixo da água, o tempo que os seus tripulantes aguentarem sem sofrer um colapso nervoso. É muito mais rápido, devido ao seu propulsor, um reator atômico, que utiliza urânio enriquecido a 20%, o U-235.

Fica clara a opção escolhida pelos que pensaram a Estratégia Nacional de Defesa (que não pode ser separada da Estratégia Nacional de Desenvolvimento).

Somente cinco países constroem submarinos com propulsão nuclear: Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia, todos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Apenas três países dominam todo o ciclo do combustível atômico e possuem reservas de urânio: os Estados Unidos, a Rússia e o Brasil.

Nosso país tem mais de 300 mil toneladas de urânio em suas jazidas, sendo que somente um terço delas foi prospectada. O consumo hoje é de mil toneladas/ano, o que seria suficiente para mais de 300 anos de fornecimento.

O Brasil na década de 80 assinou um tratado de salvaguardas com seu vizinho argentino. Foi um tratado equilibrado, pois previa reciprocidade. Muitos anos depois, foi obrigado a assinar um tratado de não proliferação nuclear, no final do governo de Fernando Henrique, visivelmente desequilibrado, pois só previu obrigações para o lado brasileiro, sem nenhuma contrapartida das grandes potências.

Tentam fazer que o país assine um “protocolo adicional” que pode significar que o país abra sua tecnologia nuclear aos estrangeiros. Nenhum país do mundo fornece ou vende tecnologia nuclear sensível, como ficou claro no acordo nuclear Brasil-Alemanha na década de 70 do século passado, aliás, ainda em vigor.

Por tudo isso, soa muito estranha a prisão do Vice-Almirante R1 Othon Luiz, ocorrida na chamada 16a fase da Operação Lava Jato, por supostos recebimentos de 4,5 milhões de reais, na construção da Usina Angra 3.

Othon já foi investigado pelas próprias Forças Armadas e foi inocentado na década de 90, sendo certo que diversos comandantes militares não simpatizavam com seus projetos ou seus métodos.

Some-se a isto, a campanha contra a Petrobrás, que estava em franca expansão com as descobertas do Pré-sal, bem como a prisão do Presidente da Odebrecht.

O desenvolvimento do reator que equipará o subnuc brasileiro vai sofrer atrasos e os vinte técnicos terão que ser remanejados com o contingenciamento das verbas, devido a intensa campanha da mídia, que acompanha o desenrolar da Operação Lava Jato.

O projeto do VLS (veículo lançador de satélites) vem sofrendo constantes abalos e até suspeita de sabotagem. O moderno avião transporte de cargas e tropas, o KC-390 da Embraer, também sofrerá atrasos, devido ao ajuste fiscal do governo Dilma.

É inconcebível que um suposto combate à corrupção possa conduzir ao desmonte em programas estratégicos da nação. Seria até risível se pensar que americanos, russos ou franceses encarcerariam seus heróis, seus cientistas mais proeminentes, ainda que acusados de supostos desvios.

Portanto, somente aos estrangeiros ou seus prepostos no país, pode interessar o atraso ou o fim dos programas estratégicos brasileiros. É mais que hora de uma intervenção do governo ou, no mínimo, uma supervisão bem próxima da nossa Contra Inteligência para a verificação do que realmente está por trás das investigações da PF (FBI? CIA?), MPF e dos processos a cargo da 13a Vara Federal de Curitiba.

Narciso Alvarenga Monteiro de Castro é Juiz de Direito do TJMG

sábado, 2 de janeiro de 2016

Manifesto da Ciência Brasileira sobre o Aquecimento Terrestre Produzido pelo Homem

Carta aberta ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação 

São Paulo, 26 de janeiro de 2015 

Exmo. Sr. 
José Aldo Rebelo Figueiredo 
Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação 

As posições críticas de V.Exa. sobre a tendência prevalecente nas questões climáticas, que atribui às atividades humanas uma suposta e não comprovada influência na dinâmica do clima nos últimos dois séculos, são de domínio público e têm motivado questionamentos à vossa nomeação para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), tanto no Brasil como no exterior. 

Assim sendo, os signatários da presente reiteram que as discussões e a formulação das políticas públicas sobre as questões climáticas têm sido pautadas, predominantemente, por equivocadas e restritas motivações ideológicas, políticas, econômicas e acadêmicas – o que as têm afastado não apenas dos princípios basilares da prática científica, mas também dos interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira. 

Estamos conscientes de que a extensão de tais interesses específicos e dos compromissos internacionais assumidos pelo País com a agenda da "descarbonização" da economia mundial faz com que qualquer tentativa de reorientação da pauta climática nacional, para fora do cenário "antropogênico" das mudanças climáticas, tende a gerar uma forte oposição dos setores articulados em torno desse cenário, aí incluídos o poderoso movimento ambientalista internacional e grande parcela da mídia, dotados de considerável influência sobre a opinião pública interna e externa. 

Não obstante, acreditamos que algumas necessárias correções de rumo sejam factíveis, no sentido de se atribuir uma prioridade maior a certas iniciativas de importância fundamental, tanto na alçada do MCTI como na de outros ministérios (casos nos quais a influência do MCTI poderia ser determinante), para proporcionar uma melhora do conhecimento da dinâmica climática e um aumento da capacidade geral da sociedade para fazer frente aos fenômenos meteorológicos e climáticos. Estamos convencidos de que tais iniciativas representariam aplicações melhores para grande parte dos recursos humanos e financeiros que têm sido equivocadamente orientados para a agenda da "descarbonização". 

Por conseguinte, oferecemos-lhe as considerações a seguir, com a expectativa de que possam aportar subsídios relevantes para a atuação do MCTI nessa área. 

1) Não há evidências físicas da influência humana no clima global 

Em termos estritamente científicos, a questão climática pode ser sintetizada em um único parágrafo: 

As mudanças constituem a característica fundamental do clima, como demonstram as evidências referentes a toda história geológica da Terra – ou seja, o clima está sempre em mudança. Quanto à alegada influência humana no clima global, supostamente atribuída às emissões de compostos de carbono das atividades humanas, com a industrialização e a urbanização, ela teria que, forçosamente, amplificar as taxas de variação (gradientes) das temperaturas atmosféricas e oceânicas e dos níveis do mar, registradas desde a Revolução Industrial do século XVIII. Como não há qualquer evidência de que estas variações sejam anômalas, em relação às registradas anteriormente, no passado histórico e geológico, simplesmente, a propalada influência humana não pode ser comprovada. 

Todos os prognósticos que indicam elevações exageradas das temperaturas e dos níveis do mar nas décadas vindouras, além de outros impactos negativos atribuídos ao lançamento de carbono "antropogênico" na atmosfera, baseiam-se em projeções de modelos matemáticos, que constituem apenas simplificações limitadas do sistema climático. Portanto, tais prognósticos não devem ser usados para fundamentar políticas públicas e estratégias de longo alcance, com grandes impactos socioeconômicos, tanto em âmbito nacional como global. 

A influência humana no clima http://resistir.info/climatologia/carta_aberta_26jan15.html#nr">[NR]restringe-se às áreas urbanas e seus entornos, em situações específicas de calmarias, sendo esses impactos muito localizados e sem influência na escala planetária. 

Segundo o quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em 2014, as temperaturas médias globais aumentaram 0,85 C no período 1880-2012, enquanto o nível médio do mar subiu 0,19 m entre 1901 e 2010. 

Na história da Terra há registros de situações bem mais dramáticas. Ao longo do Holoceno, a época geológica correspondente aos últimos 12.000 anos em que a civilização humana se desenvolveu, houve diversos períodos com temperaturas mais altas que as atuais. No Holoceno Médio, há 6.000-8.000 anos, as temperaturas médias chegaram a ser 2 C a 3 C superiores às atuais, enquanto os níveis do mar atingiram até 3 metros acima do atual. Igualmente, nos períodos quentes conhecidos como Minoano (1500-1200 a.C.), Romano (séc. III a.C.-V d.C.) e Medieval (séc. X-XIII d.C.), as temperaturas foram mais de 1ºC superiores às atuais. 

Entre 12.900 e 11.600 anos atrás, no período frio denominado Dryas Recente, as temperaturas atmosféricas caíram cerca de 8 C em menos de 50 anos e, ao término dele, voltaram a subir na mesma proporção em pouco mais de meio século. 

Quanto ao nível do mar, ele subiu cerca de 120 metros, entre 18.000 e 6.000 anos atrás, o que equivale a uma taxa média de 1 metro por século, suficientemente rápida para impactar visualmente as gerações sucessivas das populações que habitavam as margens continentais. No período entre 14.650 e 14.300 anos atrás, há registros de uma elevação ainda mais acelerada, atingindo cerca de 14 metros em apenas 350 anos, média de 4 metros por século. 

Ou seja, tais variações representam valores de uma ordem de grandeza superior às observadas desde o século XIX. Por conseguinte, estas últimas se enquadram com muita folga dentro da faixa de oscilações naturais dos parâmetros climáticos e, portanto, não podem ser atribuídas ao uso dos combustíveis fósseis ou a qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento humano. 

Embora evidências como essas possam ser encontradas em, literalmente, milhares de estudos realizados em todos os continentes por cientistas de dezenas de países, devidamente publicados na literatura científica internacional, é raro que algum destes estudos ganhe repercussão na mídia, quase sempre mais inclinada à promoção de um alarmismo sensacionalista e desorientador. 

2) A hipótese "antropogênica" é um desserviço à Ciência e um risco para as políticas públicas 

A boa prática científica pressupõe uma correspondência entre hipóteses e dados observados que as comprovem. Como a hipótese das mudanças climáticas "antropogênicas" não se fundamenta em evidências físicas observadas no mundo real, a insistência na sua preservação representa um grande desserviço à Ciência e à sua necessária colocação a serviço do bem estar da humanidade. Apesar de agregar um certo número de cientistas, a construção dessa hipótese passa ao largo da metodologia científica. 

A História registra numerosos exemplos dos efeitos nefastos do atrelamento da Ciência a ideologias e outros interesses restritos. O empenho prevalecente na imposição da hipótese "antropogênica" sem as evidências correspondentes tem custado caro à humanidade, em recursos humanos, técnicos e econômicos desperdiçados com um problema inexistente. O Brasil não está alheio a essa situação. Ao contrário, manifesta-se no País um despropositado empenho em colocá-lo em uma questionável posição de "liderança" nas negociações internacionais sobre o clima. 

Vale lembrar que países como o Canadá, Japão, Austrália e Rússia, já manifestaram a sua posição contrária em prosseguir pelo caminho da "descarbonização", de forma a não permitir que uma premissa não comprovável sirva para nortear políticas públicas de tão amplo espectro e de mudanças radicais em suas economias. 

Ademais, ao conferir ao dióxido de carbono (CO2) e outros gases produzidos pelas atividades humanas o papel de principais protagonistas da dinâmica climática, a hipótese "antropogênica" simplifica e distorce processos naturais extremamente complexos, nos quais interagem fatores astrofísicos, atmosféricos, oceânicos, geológicos, geomorfológicos e biológicos, que a Ciência apenas começa a entender em sua abrangência. 

Um exemplo dos riscos dessa simplificação para a formulação das políticas públicas relevantes é a possibilidade real de que o período até a década de 2030 experimente um considerável resfriamento da atmosfera, em vez de aquecimento, devido ao efeito combinado de um período de baixa atividade solar (Ciclo 25) e de uma fase de resfriamento do Oceano Pacífico (Oscilação Decadal do Pacífico-ODP), em um cenário semelhante ao observado entre 1947 e 1976. Vale observar que, naquele período, o Brasil experimentou uma redução de 10-30% nas chuvas, o que acarretou problemas de abastecimento de água e geração elétrica, além de um aumento das geadas fortes, que muito contribuíram para erradicar o cultivo do café no oeste do Paraná. Se tais condições se repetirem, no futuro imediato, o País poderá ter sérios problemas, inclusive nas áreas de expansão da fronteira agrícola das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, e na geração hidrelétrica (particularmente, considerando a proliferação de reservatórios "a fio d'água", impostos pelas restrições ambientais). E, embora sejam necessários estudos aprofundados para comprová-la, não pode ser descartada a possibilidade de a atual seca que atinge o Sudeste estar relacionada a um novo estado climático semelhante ao de 1947-1976. 

Além disso, a obsessão com o CO2 desvia as atenções das emergências e prioridades ambientais reais, cuja solução requer iniciativas e investimentos públicos. Um exemplo é a indisponibilidade de sistemas de saneamento básico para mais da metade da população mundial, cujas consequências constituem, de longe, o principal problema ambiental do planeta – e do próprio Brasil, onde os números são semelhantes. Outro é a falta de acesso à eletricidade, que atinge mais de 1,5 mil mihões de pessoas, principalmente na Ásia, África e América Latina. 

A propósito, o decantado limite de 2 C para a elevação das temperaturas sobre os níveis pré-industriais, que, supostamente, não poderia ser superado e tem justificado todas as restrições propostas para os combustíveis fósseis, em âmbito internacional, também não tem qualquer base científica. Trata-se de uma criação "política" do físico Hans-Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto Potsdam para a Pesquisa de Impactos Climáticos (PIK) e assessor científico do governo alemão, como admitido por ele próprio, em uma entrevista à revista  Der Spiegel (publicada em 17/10/2010). 

3) Prioridades reais: melhor conhecimento da dinâmica climática e maior resiliência da sociedade 

Em lugar do alarmismo sobre o aquecimento global e da pseudo-panaceia do "baixo carbono", a política setorial brasileira teria muito a ganhar com uma reorientação de prioridades, que favoreça: a) um melhor conhecimento da dinâmica climática, com ênfase nos estudos paleoclimáticos do território brasileiro; e b) um aumento da resiliência da sociedade para fazer frente aos eventos meteorológicos extremos e a quaisquer tendências climáticas que se manifestem no futuro. 

O estudo das mudanças climáticas do passado histórico e geológico (paleoclimas) constitui a base mais sólida para o entendimento da dinâmica climática e as suas projeções para o futuro. Uma atenção especial deve ser dada ao período Quaternário (os últimos 2,6 milhões de anos), no qual o gêneroHomo surgiu e tem evoluído. Dentro do Quaternário, os últimos 800 mil anos têm sido marcados por uma sucessão de ciclos glaciais (mais frios), com duração média de 90-100 mil anos, e interglaciais (mais quentes), com duração média de 10-12 mil anos. Atualmente, o planeta se encontra em uma fase interglacial, que teve início há cerca de 11.600 anos, dentro da qual toda a civilização humana tem se desenvolvido. De forma significativa, pelo menos os três interglaciais anteriores foram mais quentes que o atual, e não há qualquer evidência de que este possa deixar de ser sucedido por uma nova glaciação. A explicação mais aceita sobre os fatores causadores dessa dinâmica se baseia em alterações de parâmetros orbitais terrestres que variam ciclicamente, como mudanças na inclinação do eixo de rotação e na forma da órbita terrestre ao redor do Sol. Portanto, é evidente que o homem é incapaz de causar qualquer ínfima influência nos fatores e forças cósmicas que a regem.  

No Brasil, os estudos do Quaternário, apesar de importantes e da existência de um número razoável de instituições de pesquisa e pesquisadores dedicados a eles, ainda são esparsos e insuficientes para permitir a configuração de um quadro paleoclimático do território nacional e do seu entorno continental, com a profundidade necessária para subsidiar um modelo consistente de mudanças climáticas a ser definido para o País, que possa proporcionar dados relevantes para subsidiar um modelo global. Portanto, esta é uma lacuna que precisa ser devidamente considerada, na formulação da política climática nacional, em que o MCTI poderia atuar em consonância com os órgãos específicos do Ministério de Minas e Energia (MME). 

Quanto à resiliência, esta pode ser entendida como a flexibilidade das condições físicas de sobrevivência e funcionamento da sociedade, além da sua capacidade de resposta às emergências, permitindo-lhe reduzir a sua vulnerabilidade aos fenômenos meteorológicos extremos, às oscilações climáticas e a outros fenômenos naturais potencialmente perigosos que já ocorreram no passado e certamente ocorrerão no futuro. 

Neste aspecto, destacamos dois conjuntos de fatores, dentro da alçada direta do MCTI: 
1. um aprimoramento da capacidade de previsão meteorológica nacional; 
2. estímulo de pesquisas referentes às seguranças alimentícia e hídrica, assim como a novas fontes energéticas, que contribuam para reduzir a vulnerabilidade da sociedade às adversidades climáticas.

No primeiro item, uma iniciativa primordial seria tirar do papel o projeto de um satélite meteorológico próprio, imprescindível para um país que ocupa a metade da América do Sul e tem a responsabilidade de distribuir informações meteorológicas sobre grande parte do Oceano Atlântico Sul (a chamada METAREA-V), nos termos da Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS). Na edição de 2012 do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), o satélite está previsto para 2018, mas os atrasos recorrentes do programa tornam tal prazo improvável, além de imprevisível. 

Outros exemplos poderiam incluir: 

a ampliação e melhor distribuição territorial da rede de estações meteorológicas, inferior aos padrões recomendados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) para um território com as dimensões do brasileiro, com ênfase especial no trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET); 
o aumento do número de radares meteorológicos e a sua interligação aos sistemas de defesa civil; 
a aceleração da consolidação da base nacional de dados meteorológicos, boa parte dos quais ainda não foi digitalizada; 
o estabelecimento de uma rede efetiva de divulgação de dados meteorológicos e oceanográficos para a METAREA-V.

No segundo item, poderíamos destacar: 

a ampliação das pesquisas com sementes geneticamente modificadas para todo tipo de condições climáticas, em curso na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e outras instituições do gênero; 
o estabelecimento de linhas de pesquisa de novas fontes energéticas não-renováveis, como o uso de tório em reatores nucleares, e fontes baseadas em novos princípios físicos, como magnetohidrodinâmica, reações nucleares quimicamente assistidas (a chamada "fusão a frio"), energia do vácuo quântico e outras, que têm sido contempladas no exterior, mas são praticamente ignoradas no País; 
dentre as energias renováveis, a geração de bioenergia, como maior eficiência na queima de resíduos vegetais, etanol de segunda geração e óleos de palmáceas nativas (OVP), muito abundantes no País, e que podem ser queimados diretamente em motores diesel convencionais sem necessidade de modificação dos motores ou dos óleos vegetais.

Para tais pesquisas energéticas, o Brasil dispõe dos necessários recursos humanos qualificados, distribuídos entre centros de pesquisa acadêmicos, de empresas estatais (Cenpes, Cepel etc.), militares (IME, CTA, CTEx, IPqM) e um número considerável de empresas privadas de tecnologia. 

Todas essas iniciativas poderiam se beneficiar com a disponibilidade de parte dos recursos financeiros que têm sido alocados a programas vinculados às mudanças climáticas, segundo o enfoque equivocado da redução das emissões de carbono (como muitos dos projetos contemplados no âmbito do chamado Fundo Clima, gerido pelo MCTI e o Ministério do Meio Ambiente, MMA). 

Um grupo adicional de iniciativas relevantes para a "resiliência climática" envolve a infraestrutura física, em especial, a capacidade de armazenamento de alimentos, infraestrutura de transportes, energia e comunicações, além de outros tópicos, não diretamente na alçada do MTCI, mas potencialmente influenciados pelas diretrizes e programas do Ministério. 

Em síntese, o caminho mais racional e eficiente para aumentar a resiliência da sociedade, diante das mudanças climáticas inevitáveis – aquecimento ou resfriamento –, é a elevação geral dos seus níveis de desenvolvimento humano e progresso aos patamares permitidos pela Ciência e pelo avanço do conhecimento e o processo de inovação. 

4) A "descarbonização" é desnecessária e deletéria 

Uma vez que as emissões "antropogênicas" de carbono não provocam impactos verificáveis no clima global, toda a agenda da "descarbonização" ou "economia de baixo carbono" se torna desnecessária e contraproducente – sendo, na verdade, uma pseudo-solução para um problema inexistente, pelo menos no tocante ao clima (programas de incentivo à mobilidade urbana, inclusos no Fundo Clima, por exemplo, se justificam por si próprios). A insistência na sua preservação, por força da inércia dostatus quo, não implicará em qualquer efeito sobre o clima, mas tenderá a aprofundar os numerosos impactos negativos de tais diretrizes. 

O principal deles é o encarecimento desnecessário de uma série de atividades econômicas, em razão de: 

os subsídios concedidos à exploração de fontes energéticas de baixa eficiência, como a eólica e solar, já em retração na União Europeia (UE), que investiu fortemente nelas; 
a imposição de cotas e taxas vinculadas às emissões de carbono, como fez a UE para viabilizar o seu mercado de créditos de carbono, e a Austrália, onde a grande rejeição popular à taxa imposta levou o atual governo do país a retirá-las; 
a imposição a várias atividades econômicas de medidas de captura e sequestro de carbono (CCS), totalmente inúteis sob o ponto de vista climático e de saúde pública, uma vez que o CO 2não é um gás tóxico e poluente.

Os principais beneficiários de tais medidas têm sido os especuladores, fornecedores de equipamentos e serviços de CCS e participantes dos intrinsecamente inúteis mercados de carbono, que não têm qualquer fundamento econômico real e se sustentam tão-somente em uma demanda artificial criada a partir de uma necessidade inexistente. 

5) No futuro, menos alarmismo e mais Ciência e bom senso 

Pela primeira vez na História, a humanidade detém um acervo de conhecimentos e recursos físicos, técnicos e humanos, para prover a virtual totalidade das necessidades materiais de uma população ainda maior que a atual. Esta perspectiva viabiliza a possibilidade de se universalizar – de uma forma inteiramente sustentável – os níveis gerais de bem estar usufruídos pelos países mais avançados, em termos de infraestrutura de água, saneamento, energia, transportes, comunicações, serviços de saúde e educação e outras conquistas da vida civilizada moderna. A despeito dos falaciosos argumentos contrários a tal perspectiva, os principais obstáculos à sua concretização, em menos de duas gerações, são mentais e políticos, e não físicos e ambientais. 

Aproveitamos o ensejo para lhe desejar sucesso em sua gestão, esperando que ela contribua de forma decisiva para consolidar na sociedade brasileira a conscientização do papel estratégico do conhecimento e da inovação para o desenvolvimento socioeconômico do País. E, da mesma forma, esperamos que ela sinalize uma inflexão determinante para que, em um futuro próximo, a agenda climática nacional venha a ser posicionada, definitivamente, no terreno sólido das evidências científicas reais e do bom senso.

Kenitiro Suguio . Geólogo, Doutor e Livre-docente em Geologia; Professor Emérito do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP); Membro titular da Academia Brasileira de Ciências 

Luiz Carlos Baldicero Molion . Físico, Doutor em Meteorologia e Pós-doutor em Hidrologia de Florestas; Pesquisador Sênior (aposentado) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); Professor Associado (aposentado) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) 

José Carlos Parente de Oliveira . Físico, Doutor em Física e Pós-doutor em Física da Atmosfera; Professor Associado (aposentado) da Universidade Federal do Ceará (UFC); Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) 

Fernando de Mello Gomide . Físico, Professor Titular (aposentado) do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA); Co-autor do livro Philosophy of Science: Brief History (Amazon Books, 2010, com Marcelo Samuel Berman) 

José Bueno Conti . Geógrafo, Doutor em Geografia Física e Livre-docente em Climatologia; Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) 

Francisco Arthur Silva Vecchia . Engenheiro de Produção, Mestre em Arquitetura e Doutor em Geografia; Professor Associado do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC–USP); Diretor do Centro de Ciências da Engenharia Aplicadas ao Meio Ambiente (CCEAMA) da EESC–USP 

Gildo Magalhães dos Santos Filho . Engenheiro eletrônico, Doutor em História Social e Livre-docente em História da Ciência e Tecnologia; Professor Associado do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) 

Lucia Helena Tavares Viegas. Engenheira Química, Mestra em Administração de Empresas e Doutora em Gestão e Inovação Tecnológica 

Paulo Cesar Soares. Geólogo, Doutor em Ciências Geológicas e Livre-docente em Estratigrafia; Professor Titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) 

Marco Antonio Sacilotti. Físico, Mestre em Física Aplicada e Doutor em Engenharia Elétrica; Professor das universidades UFR-Sciences et Tecnhologies/Université de Bourgogne (França); Professor Visitante do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (DF-UFPE) 

Ricardo Augusto Felicio. Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia; Professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) 

Fulvio Cupolillo. Geógrafo, Mestre em Meteorologia Agrícola e Doutor em Geografia; Professor Titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) 

Gustavo Macedo de Mello Baptista.Geógrafo, Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos e Doutor em Geologia; Diretor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (UnB); Autor do livro Aquecimento Global: ciência ou religião? (Hinterlândia, 2009) 

João Bosco A. de Morais. Geólogo, Mestre em Hidrogeologia e Doutorando em Vulnerabilidade de Aquíferos na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Assessor para Meio Ambiente do Governo do Estado do Ceará 

Cássio Roberto da Silva. Geólogo, Especialista em Geologia Ambiental, Mestre em Geologia Econômica e Doutor em Geologia Médica; Pesquisador em Geociências (Sênior) e chefe do Departamento de Gestão Territorial do Serviço Geológico do Brasil – CPRM 

Ricardo Moacyr de Vasconcellos.Engenheiro de Minas, Especialista em Geofísica; Pesquisador em Geociências (Sênior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM 

Paulo Cesar Martins Pereira de Azevedo Branco. Geólogo; Pesquisador em Geociências (Sênior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM 

Maria Angélica Barreto Ramos. Geóloga, Mestra em Geociências; Pesquisadora em Geociências (Sênior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM 

Ginaldo Caldas Raymundo. Geólogo, Mestre em Geologia de Engenharia; (Empresa privada de engenharia consultiva) 

Daniela de Souza Onça. Geógrafa, Mestra e Doutora em Climatologia; Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) 

Gustavo Zen de Figueiredo Neves.Geógrafo, Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental; Professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) 

Marcos José de Oliveira. Engenheiro Ambiental, Mestre e Doutorando em Ciências da Engenharia Ambiental na Universidade de São Paulo (USP) 

Elis Dener Lima Alves. Geógrafo, Mestre em Física Ambiental e Doutorando em Ciências da Engenharia Ambiental na Universidade de São Paulo (USP) 

Igor Vaz Maquieira. Biólogo, Especialista em Gestão Ambiental 

Geraldo Luís Saraiva Lino. Geólogo; Coeditor do sítio Alerta em Rede; Autor do livro http://www.capaxdei.com.br/a-fraude-do-aquecimento-global-como-um-fenomeno-natural-foi-convertido-numa-falsa-emergencia-mundial.html">A fraude do aquecimento global: como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial (Capax Dei, 2009) 

Carlos Eduardo Osório Ferreira. Mestre em Geologia de Engenharia e Ambiental UFRJ; Pesquisador em Geociências (sênior)do Serviço Geológico do Brasil 

Sandra Fernandes da Silva. Geóloga, Especialista em Risco Geológico e Doutora em Geotecnia; Pesquisadora em Geociências do Serviço Geológico do Brasil – CPRM 

[NR] Nesse caso trata-se de influência no ambiente, não de clima. Pode-se falar em ambiente urbano mas não em "clima urbano". O clima é um assunto de ordem planetária (vai até à estratosfera) e o ambiente é um assunto de ordem local. 

Ver também: 
http://resistir.info/climatologia/impostura_global.html">Aquecimento global: uma impostura científicaA impostura global 

O original encontra-se emhttps://fakeclimate.wordpress.com/2015/01/29/carta-aberta-ao-ministro-da-ciencia-tecnologia-e-inovacao-aldo-rebelo/">fakeclimate.wordpress.com/... 

Este artigo encontra-se emhttp://resistir.info/">http://resistir.info/ .

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