quinta-feira, 26 de maio de 2011

O jogo de xadrez da economia mundial

O conhecimento da economia é o das relações existentes entre eventos econômicos. É como um jogo de xadrez: quando se mexe em uma peça, altera-se completamente o equilíbrio do tabuleiro.

Um pequeno roteiro para entender alguns dos principais eventos mundiais.

Lance 1 – o FED (Federal Reserve, o Banco Central norte-americano) anuncia uma enorme recompra de títulos públicos americanos. Comprando, injeta no mercado um grande volume de dólares – no caso, US$ 500 bilhões.

Lance 2 – muito dólar despejado no mercado, desvaloriza suas cotações, torna mais caros todos os produtos cotados em outras moedas (especialmente euro e as moedas asiáticas); e mais baratos os produtos produzidos nos Estados Unidos. Com isso, provoca mudanças no fluxo do comércio mundial.

Lance 3 – sem a disponibilidade de títulos do Tesouro americano para aplicar (devido à operação de resgate e às baixas taxas de juros ofertadas) parte desse dinheiro migra para outros ativos, especialmente moedas de outros países e commodities.

Lance 4 – no caso das moedas, os especuladores optam por países que paguem altas taxas de juros. Ganham com os juros e ganham com a valorização da moeda local.

Lance 5 – ao aplicar em commodities, aumentam suas cotações. No caso brasileiro, a valorização das cotações de commodities compensa (em termos de balança comercial) a queda nas exportações de manufaturados.

Lance 6 – para contrabalançar o excesso de oferta de dólares (que provoca apreciação do real), o Banco Central compra parte deles no mercado, que irão engordar as reservas cambiais brasileiras.

Lance 7 –sem essas reservas, quando o real parasse de se apreciar e o especulador avaliasse que seria impossível continuar financiando o déficit externo, haveria um estouro da boiada, provocando uma desvalorização do real. Esse receio segurava o especulador. Com o colchão de liquidez das reservas cambiais, o BC passou a fornecer uma segurança adicional, que prolongou ainda mais a especulação e a apreciação cambial.

Lance 8 – Por outro lado, a manutenção de altas reservas cambiais impõe um enorme custo fiscal adicional. É dinheiro que sai dos investimentos públicos e das despesas correntes para bancar o estoque de dólares.

Lance 9 – o aumento nos preços das cotações internacionais de commodities provoca elevação nos preços internos, pressionando a inflação. Para combater a inflação, o BC aumenta os juros.

Lance 10 – aumentando os juros, aumenta ainda mais o fluxo de dólares para o país, derrubando ainda mais suas cotações.

Próximos lances: e aí que a porca torce o rabo.

O movimento financeiro com as commodities vai até o ponto em que se considera que será difícil aumentar mais ainda suas cotações. Hoje em dia, as cotações aumentam por conta desses jogos financeiros e também da demanda do mercado chinês.

Caso a economia da China comece a acomodar, ou os bancos centrais de outros países a aumentar seus juros, inverte-se a espiral da entrada de dólares. E, aí, chega a conta da desvalorização cambial. 

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